Sexta-feira, 4 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Artigo: Desastre no Haiti


  
Bruno Peron

O terremoto que teve lugar no Haiti em 12 de janeiro de 2010 comoveu o mundo.

Tarde funesta entre tantas outras carências. De país mais pobre e de menor renda per capita da América passou à condição de devastado. A natureza apontou o dedo e escolheu uma vítima geográfica que não teria condições de resistir. Não desta vez.

A exatidão do número de mortos não é o foco do debate. Corre-se o risco de cair na frieza das cifras.

O país divide o espaço de uma ilha com a República Dominicana, tem dez milhões de habitantes e taxa de analfabetismo de 47%. As imagens do pior desastre natural dos últimos duzentos anos no Haiti percorreram o sentimento de solidariedade em todo o mundo. A velocidade foi impressionante.

Vários países autorizaram doações milionárias e enviaram ajuda humanitária na forma de equipes médicas e socorristas, alimentos e medicamentos. O terremoto no Haiti mereceu o destaque que tem tido.

A capital Porto Príncipe ficou sem água, energia elétrica e telefone, ou seja, serviços básicos de infra-estrutura, e quarteirões inteiros foram demolidos em poucos segundos.

A tradução da expressão inglesa para os efeitos do desastre, que tem sido usada na imprensa internacional, é de que a cidade foi “achatada” ou “aplainada”. As imagens são entristecedoras: muita poeira e escombros, corpos soterrados e sobreviventes perambulando sem rumo, crianças desamparadas e famílias armando barracas em lugares públicos. O que era preocupante para as autoridades nacionais virou motivo de angústia.

Escaparam presidiários após o colapso da Penitenciária Nacional, o Palácio presidencial ruiu, e o aeroporto virou uma bagunça. Medo de saques, novos sem-tetos e tráfego aéreo intenso e descontrolado.

O difícil ficou ainda pior no Haiti. Na incapacidade de os governos anteriores tirarem boa parte da população da pobreza, a reconstrução da infra-estrutura passa a ser a prioridade no país. A ajuda internacional é imprescindível para este objetivo. A Minustah, missão de paz das Nações Unidas que age no país desde a deposição do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide em 2004, contempla um desafio de proporções maiores.

É árdua a tarefa de reestruturar um país que tem sido, desde a vinda de Colombo ao continente, escoadouro de produtos como açúcar, café, algodão e cacau, base de uma economia agroexportadora. Conhecem-se outros países latino-americanos e caribenhos com história econômica similar.

Ainda, os Estados Unidos tiveram forte presença comercial, militar e política no Haiti ao longo do século passado. O governo estadunidense decidiu repassar cem milhões de dólares para a reconstrução do país devastado. Sobraram uns trocados da crise econômica mundial.

Os Estados Unidos declararam que desejam liderar a reconstrução do Haiti. Querem ficar com o filé. A reconstrução de países e regiões traz sempre boas receitas no futuro. Lembremo-nos do Plano Marshall.

Numa situação de emergência, qualquer ferramenta que esteja ao alcance é útil para a sobrevivência, o resgate e a ajuda humanitária. As imagens da desgraça no Haiti são tristes e estimulam os diversos países a buscarem convergências e reconhecerem formas de cidadania mundial.

O que acontece no Haiti mobiliza outros países como se o mundo fosse uma grande nação.

Costumo buscar informação minuciosa sobre algum acontecimento quando não tenho a oportunidade de experiência direta para sustentar uma opinião. A responsabilidade de elaborar argumentos e posições após rever dados e fatos é grande. A instantaneidade das notícias não pressupõe a deglutição do chiclete, por isso valorizo a reflexão sobre algum acontecimento alheio a qualquer tentativa precipitada de supor antes de estar seguro.

O cenário haitiano foi a vingança da natureza ao país equivocado. Desde um ponto de vista.

O conceito de justiça terrena está de um lado e o de cósmica, de outro. Certos eventos fogem do nosso entendimento. As próximas vítimas poderão estar em qualquer lugar, já que a natureza como a entendemos perdeu o controle e não se sabe onde mais apontará o dedo.

Bruno Peron Loureiro é mestre em Estudos Latino-americanos.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 4 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

 Hospital Municipal: quando teremos?

Hospital Municipal: quando teremos?

Faz tempo que essa promessa de novos hospitais públicos para Porto Velho está na fila de espera. Na condição de um dependente do Sus, desde que isso

Mais deputados para quê?

Mais deputados para quê?

Recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou o número de vagas no parlamento, passando de 513 para 531. Num país efetivamente sério mais representan

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Quarta-feira (25), o Congresso impôs mais uma derrota ao governo do presidente Lula derrubando o Decreto que aumentava o IOF. O governo perdeu mais

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

O esquema que desviou bilhões de reais de contas de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) foi apenas mais um

Gente de Opinião Sexta-feira, 4 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)