Domingo, 14 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Artigo: Desastre no Haiti


  
Bruno Peron

O terremoto que teve lugar no Haiti em 12 de janeiro de 2010 comoveu o mundo.

Tarde funesta entre tantas outras carências. De país mais pobre e de menor renda per capita da América passou à condição de devastado. A natureza apontou o dedo e escolheu uma vítima geográfica que não teria condições de resistir. Não desta vez.

A exatidão do número de mortos não é o foco do debate. Corre-se o risco de cair na frieza das cifras.

O país divide o espaço de uma ilha com a República Dominicana, tem dez milhões de habitantes e taxa de analfabetismo de 47%. As imagens do pior desastre natural dos últimos duzentos anos no Haiti percorreram o sentimento de solidariedade em todo o mundo. A velocidade foi impressionante.

Vários países autorizaram doações milionárias e enviaram ajuda humanitária na forma de equipes médicas e socorristas, alimentos e medicamentos. O terremoto no Haiti mereceu o destaque que tem tido.

A capital Porto Príncipe ficou sem água, energia elétrica e telefone, ou seja, serviços básicos de infra-estrutura, e quarteirões inteiros foram demolidos em poucos segundos.

A tradução da expressão inglesa para os efeitos do desastre, que tem sido usada na imprensa internacional, é de que a cidade foi “achatada” ou “aplainada”. As imagens são entristecedoras: muita poeira e escombros, corpos soterrados e sobreviventes perambulando sem rumo, crianças desamparadas e famílias armando barracas em lugares públicos. O que era preocupante para as autoridades nacionais virou motivo de angústia.

Escaparam presidiários após o colapso da Penitenciária Nacional, o Palácio presidencial ruiu, e o aeroporto virou uma bagunça. Medo de saques, novos sem-tetos e tráfego aéreo intenso e descontrolado.

O difícil ficou ainda pior no Haiti. Na incapacidade de os governos anteriores tirarem boa parte da população da pobreza, a reconstrução da infra-estrutura passa a ser a prioridade no país. A ajuda internacional é imprescindível para este objetivo. A Minustah, missão de paz das Nações Unidas que age no país desde a deposição do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide em 2004, contempla um desafio de proporções maiores.

É árdua a tarefa de reestruturar um país que tem sido, desde a vinda de Colombo ao continente, escoadouro de produtos como açúcar, café, algodão e cacau, base de uma economia agroexportadora. Conhecem-se outros países latino-americanos e caribenhos com história econômica similar.

Ainda, os Estados Unidos tiveram forte presença comercial, militar e política no Haiti ao longo do século passado. O governo estadunidense decidiu repassar cem milhões de dólares para a reconstrução do país devastado. Sobraram uns trocados da crise econômica mundial.

Os Estados Unidos declararam que desejam liderar a reconstrução do Haiti. Querem ficar com o filé. A reconstrução de países e regiões traz sempre boas receitas no futuro. Lembremo-nos do Plano Marshall.

Numa situação de emergência, qualquer ferramenta que esteja ao alcance é útil para a sobrevivência, o resgate e a ajuda humanitária. As imagens da desgraça no Haiti são tristes e estimulam os diversos países a buscarem convergências e reconhecerem formas de cidadania mundial.

O que acontece no Haiti mobiliza outros países como se o mundo fosse uma grande nação.

Costumo buscar informação minuciosa sobre algum acontecimento quando não tenho a oportunidade de experiência direta para sustentar uma opinião. A responsabilidade de elaborar argumentos e posições após rever dados e fatos é grande. A instantaneidade das notícias não pressupõe a deglutição do chiclete, por isso valorizo a reflexão sobre algum acontecimento alheio a qualquer tentativa precipitada de supor antes de estar seguro.

O cenário haitiano foi a vingança da natureza ao país equivocado. Desde um ponto de vista.

O conceito de justiça terrena está de um lado e o de cósmica, de outro. Certos eventos fogem do nosso entendimento. As próximas vítimas poderão estar em qualquer lugar, já que a natureza como a entendemos perdeu o controle e não se sabe onde mais apontará o dedo.

Bruno Peron Loureiro é mestre em Estudos Latino-americanos.

Gente de OpiniãoDomingo, 14 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A decisão de emergência da UE sobre ativos russos exige vigilância do cidadão

A decisão de emergência da UE sobre ativos russos exige vigilância do cidadão

Introdução: Um Precedente PerigosoA recente decisão da União Europeia de manter imobilizados os ativos do Banco Central da Rússia, baseada numa cl

Segredo no rombo do Master: STF proíbe os brasileiros de saberem detalhes e nomes de quem nos roubou

Segredo no rombo do Master: STF proíbe os brasileiros de saberem detalhes e nomes de quem nos roubou

         Realmente, estamos vivendo tempos tenebrosos, governados por magistrados das cortes superiores, todos sem um só voto popular e que tomam de

Uma corrida para a qual todos os atletas se dizem preparados, mas só dois cruzarão a linha de chegada

Uma corrida para a qual todos os atletas se dizem preparados, mas só dois cruzarão a linha de chegada

Bruno Scheid, Fernando Máximo, Mariana Carvalho, Marcos Rocha, Fátima Cleide, Marcos Rogério e Silvia Cristina. Esses seriam alguns nomes ao Senado

Maria Imaculada e a emergência de uma nova visão do real

Maria Imaculada e a emergência de uma nova visão do real

Teologia, Filosofia e Ciência em DiálogoA celebração da Imaculada Conceição, a 8 de dezembro, confronta o pensamento contemporâneo com uma questão

Gente de Opinião Domingo, 14 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)