Terça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Artigo: As mudanças climáticas e o Brasil



* Ranyére Nóbrega

Terminou ontem (12) em Pozman, na Polônia, a 14ª Conferência das Partes do Convênio de Mudanças Climáticas das Nações Unidas - COP 14. Esta conferência pode ser resumida como um braço executivo de um acordo internacional. Os encontros são anuais e na ocasião cada participante faz uma revisão do estado da implementação da Convenção e discute a melhor forma de se lidar com a mudança do clima. Durante o evento se decide sobre aplicação e funcionamento das diretrizes do acordo, a implementação dos mecanismos previstos e o cumprimento das metas estabelecidas.

As reuniões ocorrem desde 1995, mas o que esta tem de especial? Esta conferência pode determinar questões ambientais para um acordo pós-Kyoto. No ano que vem a COP 15 será em Copenhague, em que se pretende firmar um acordo de longo prazo entre as nações para a redução e adaptação mundial às conseqüências do aumento dos gases de efeito estufa. Resumindo, a COP 14 é uma prévia do que está por vir.

O Protocolo de Kyoto tinha como meta a redução nas emissões de gases de efeito em 5,2% entre o período de 2008 a 2012, em relação aos níveis de 1990. Só que os dados mostram que as emissões dos países industrializados signatários do Protocolo de Quioto estão em ascensão desde o ano de 2000.

Segundo o último relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Chance), esta meta de Kyoto não é suficiente para a estabilização do clima, mas sim algo entre 25% a 40% até 2020 (em relação aos índices registrados em 1990) e entre 80% a 95% até 2050. Para os economistas que participaram do IPCC, isto resultaria em aproximadamente 1% do PIB Mundial, mas caso as medidas não sejam tomadas, os desastres naturais advindos das mudanças climáticas podem resultar em uma perda de 20% do PIB Mundial, segundo o Relatório Stern (estudo encomendado pelo governo britânico sobre os efeitos na economia mundial das mudanças climáticas nos próximos 50 anos). Ou seja, o Protocolo de Kyoto começou subestimando e para piorar alguns países demoraram a ratificá-lo.

Obviamente que, em períodos de crise financeira, de recessão em grandes potências econômicas, a Conferência pode ter aplicações e diretrizes comprometidas, como está acontecendo, mas podemos dizer que o Brasil está com uma imagem muito boa.

O prêmio Nobel da Paz de 2007, Al Gore, elogiou o Plano Nacional de Mudanças Climáticas do Brasil. Aliás, não foi o único representante que fez isto; o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também elogiou o Brasil. Os dois enfatizaram que o Brasil é uma das economias mais verdes do mundo e Al Gore frisou que o Brasil e a China são grandes líderes emergentes que assumiram um papel fundamental com relação às mudanças climáticas.

É verdade que as mudanças climáticas irão trazer grandes transtornos, mas o Brasil parece estar sabendo aproveitar a oportunidade. Os objetivos específicos do Plano Nacional deixam bem claro isso: 1) Redução das taxas de desmatamento; 2) Eliminar a perda líquida da área de cobertura florestal do Brasil; 3) Manter elevada participação de energia renovável; entre outros pontos. Observe que os objetivos estão diretamente ligados a nossa região, a Amazônia.

Mas, mesmo com tantas reuniões, notícias, imagens, etc, ainda se discute (uma minoria) se realmente ocorre o aquecimento global. E para engrossar a discussão os dados têm nos revelado que o aquecimento global deu uma "freada", e que 2008 deverá ter temperaturas médias globais menores que 2007, 2005, etc. É claro que alguns começam a apresentar a situação com outros olhos e voltam a afirmar: "O aquecimento não é por causa do aumento dos gases de efeito estufa!".

Na verdade, a certeza que é por culpa do homem aumenta a cada nova pesquisa publicada nos meios científicos. E o que ocorre em 2008? É evidente que o aquecimento não é contínuo, ou seja, teremos ano que poderá ser mais quente ou mais frio que o anterior, mas se comparamos a média de um período, por exemplo, últimos 15 anos, com a média de 1930 a 1960 (outro exemplo), as temperaturas permanecem em elevação. O aquecimento global também não é homogêneo, ou seja, não ocorre ao mesmo tempo em todos os lugares do mundo. O aumento da temperatura na Amazônia pode ser diferente do aumento da temperatura do Sul no país, ou ainda mais distante, do Japão, Índonséia, Cuba, ...

O que importa agora não é saber quem está causando o aquecimento global e sim como vamos combatê-lo. E nisso o Plano Nacional de Mudanças Climáticas está deixando os outros países a ver navios.

Não adianta ficar discutindo 'quem', mas sim 'o que fazer'.

* Ranyére Nóbrega é doutor em Meteorologia pela Universidade Federal de Campina Grande (PB) e meteorologista do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) em Porto Velho (RO).

 

Gente de OpiniãoTerça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Quarta-feira (25), o Congresso impôs mais uma derrota ao governo do presidente Lula derrubando o Decreto que aumentava o IOF. O governo perdeu mais

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

O esquema que desviou bilhões de reais de contas de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) foi apenas mais um

O Congresso é culpa do eleitor

O Congresso é culpa do eleitor

          O Congresso Nacional do Brasil é, óbvio, o Poder Legislativo e é composto por 513 deputados federais e pelos 81 senadores da República. Es

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

Em Diálogo com Platão, Jung e a Trindade num Contexto do Sexo como Ritual sagrado A humanidade é um rio que corre entre duas margens: a espiritualid

Gente de Opinião Terça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)