Quarta-feira, 20 de agosto de 2025 - 16h40

A Bússola para um Futuro soberano e digno da UE
A recente cimeira em Washington Trump-Zelensky seguida de autoconvidados europeus e as eleições norte-americanas serviram como um espelho implacável para a União Europeia... A UE escorregou na sua própria baba, na narrativa pegajosa e simplista que criou e da qual agora não consegue libertar-se. Pelos vistos insiste em não arredar caminho para poder levantar-se...
Trump foi pintado não como um político de ruptura do padrão estabelecido, com uma agenda "America First", mas como uma anomalia perigosa. Essa postura, foi profundamente incauta. Ignorou-se uma realidade fundamental: Trump não é um acidente, mas a expressão de uma corrente substancial da sociedade norte-americana (e de parte do mundo), cansada do globalismo e do custo percebido de alianças que, na sua visão, penalizam os EUA...
A UE vê-se numa posição de profunda vulnerabilidade. A aposta emocional, que mobilizou a opinião pública interna, deixou de fora a preparação para um cenário de negociação dura com um parceiro que não se rege pela sentimentalidade diplomática de Bruelas. O resultado foi uma cimeira onde a Europa, que tanto criticou Trump, se viu forçada a abordá-lo com cautela, quase com súplica, para assegurar compromissos básicos de economia e segurança. As quedas abruptas nas acções do setor de armamento alemão e britânico após a cimeira são um sintoma claro deste pânico: a perceção de que o guarda-chuva norte-americano pode não ser tão fiável expôs a fragilidade da autonomia estratégica europeia...
O mesmo mecanismo de simplificação aplicou-se a Vladimir Putin...
A razão repetida de que Putin ambiciona "conquistar a Europa até Lisboa" é um exemplo perfeito de como se cria um preconceito útil. É uma projeção dos medos europeus, não uma análise estratégica credível. A Rússia é a maior nação do planeta, com recursos naturais inimagináveis e uma densidade populacional baixíssima(1)...
A ideia de que Putin cobiça uma UE superpovoada, assoberbada por regulamentação e com tensões sociais crescentes é, no mínimo, questionável. Esta narrativa, no entanto, foi um ovo galado que vingou: serviu para mobilizar a opinião pública para uma guerra apresentada como um bem contra o mal, silenciando o debate sobre os custos reais e os objetivos finais...
Em 2022, a UE e o Reino Unido alegadamente bloquearam negociações de paz nascentes entre Kiev e Moscovo, numa altura em que um cessar-fogo seria mais viável. Agora, o mesmo bloco exige um cessar-fogo, mas apenas para dar tempo à Ucrânia de se rearmar; este cinismo estratégico que não escapa a muitos...
No cerne deste problema está um vício de fundo: a projeção. A elite europeia, habituada a trabalhar com medos e a manipular a vontade popular em vez de a informar com factos, projetou os seus próprios métodos e ambições sobre a Rússia. A rectórica sobre "democratizar" a Rússia escondia, muitas vezes, a velha doutrina colonial de "dividir para reinar", a esperança de que uma Rússia fragmentada em estados menores seria mais fácil de controlar e dos seus recursos mais fáceis de aceder.
A estratégia da NATO de impor valores à força, apoiando revoltas e mudanças de regime em nome da democracia, é percebida por Moscovo e por outros BRICS como a continuação do imperialismo ocidental por outros meios, um imperialismo mental, como bem se pode observar se temos em conta anúncios de funcionários da EU e da NATO...
A UE encontra-se agora numa encruzilhada humilhante... Putin, o "diabo" absoluto, é agora recebido com tapete vermelho em capitais mundiais, forçando a Europa a um realinhamento pragmático para o qual não está preparada... O grande desafio para a UE não é Trump nem Putin. O verdadeiro desafio é superar a sua própria infantilização política... A UE não via o mundo real, com as suas complexidades e nuances. Via apenas o reflexo que ela própria tinha fabricado: um Trump caricatural, um Putin demoníaco, e uma imagem heroica de si própria como bastião incontestável da virtude... A UE debate-se com o facto de ter ficado presa no próprio adesivo que fabricou, escorregando no resíduo pegajoso da sua própria miragem...
O renascimento europeu exigirá mais do que estratégia; exigirá uma volta às suas raízes mais profundas. A Europa precisa de se re-situar, sim, não só geopoliticamente, mas, sobretudo, espiritualmente. A sua bússola já está gravada na sua história: a dignidade soberana do indivíduo, presente no humanismo cristão; a solidez das estruturas e da governação, testada pelo genius romano e católico; e a busca eterna pela ética e pelo bem comum, inaugurada pela filosofia grega. Redescobrir esta tríade de valores não é nostalgia; é a chave para forjar uma identidade forte e compassiva no mundo multipolar que agora se demarca.
António da Cunha Duarte Justo
Texto completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10267
UM NOVO TRATADO DE TORDESILHAS?
A Geopolítica da Mentira e a Guerra como Negócio
... O recente encontro entre Putin e Trump não é um mero acaso diplomático: é mais um movimento num tabuleiro geopolítico onde a guerra, o consumismo e a pressão social servem para distrair as massas do essencial que é o poder e o controle.
Os dois blocos - Rússia de um lado e os EUA e a NATO do outro - alimentam-se da mentira...
A Ucrânia é o campo de batalha onde se joga muito mais do que território, ela é a luta pela hegemonia global...
Estamos perante um novo Tratado de Tordesilhas, onde as potências redesenham o planeta conforme a sua conveniência. Tal como Espanha e Portugal dividiram o mundo no século XV, hoje EUA, China, Rússia e Europa disputam esferas de influência... a Rússia e o Ocidente travam uma guerra de narrativas, onde a soberania dos Estados é secundária perante os interesses dos grandes blocos. Ao contrário do passado, a guerra não é apenas territorial é também económica, tecnológica e ideológica...
Enquanto o filósofo Immanuel Kant sonhava com uma paz perpétua, o pensamento de Leo Strauss (e dos seus discípulos neoconservadores como Paul Wolfowitz e Robert Kagan) domina a política actual, segundo a qual a paz leva à decadência, a guerra mantém a ordem...
Por seu lado, Noam Chomsky denuncia que as revoluções coloridas (como a Laranja na Ucrânia, 2004) foram operações de mudança de regime apoiadas pelo Ocidente...
A lei moral é vista como instrumento de controle, não de ética. E, segundo esta lógica darwinista, os fortes devem dominar os fracos...
Os media europeus e norte-americanos, seguindo a lógica da "Manufacturing Consent" (como definido por Edward S. Herman e Noam Chomsky), transformaram Putin no novo Hitler, porque uma população assustada aceita melhor a guerra...
A Ucrânia é o pretexto, mas o verdadeiro objectivo é enfraquecer a Rússia, conter a China e garantir que o dólar e o complexo militar-industrial continuem a dominar o mundo...
Torna-se muito difícil não se deixar enganar. Por trás das bandeiras, dos discursos moralistas e das "causas justas", há sempre interesses obscuros. A guerra na Ucrânia não é sobre liberdade é sobre poder, como demonstra Christopher Layne ("The Peace of Illusions"). O encontro Putin-Trump não é sobre diplomacia é sobre realinhamentos estratégicos e negócios...
Os líderes da União Europeia não só perderam o rumo da Europa, traíram-na. Submissos, ajoelham-se perante os interesses bélicos e financeiros de Washington, esvaziando o continente não apenas geograficamente, mas também cultural e espiritualmente. Enquanto enterram o legado humanista europeu, transformam-nos em vassalos do projeto imperial americano, condenando a Europa a ser mero apêndice na nova ordem multipolar.
António da Cunha Duarte Justo
Texto completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10250
LIDERANÇA ENTRE EGOISMO E ALTRUÍSMO
Liderar é caminhar na corda bamba entre o eu que se afirma e o nós que se constrói
Do eterno diálogo entre o “eu” e o “nós” (entre o eu e as circunstâncias) nasce a tensão que marca toda a vida em sociedade: a relação entre quem dirige e quem segue, entre o indivíduo que se afirma e a comunidade que procura dar consistência ao caminho. É dessa tensão que surgem os líderes, chamados a representar o coletivo perante cada pessoa, e a oferecer uma visão orientadora que tanto pode abrir horizontes como impor limites...
A liderança nunca é neutra...
Desde que o ser humano tomou consciência de si - como expresso no relato bíblico de Adão e Eva – nasceu uma tensão inevitável: afirmar-se sem perder o vínculo ao coletivo (a Deus). Daí brotam a comunidade, a história e as instituições que tanto nos apoiam como nos condicionam...
A História raramente recorda o povo anónimo e os hesitantes. Exalta a memória da ousadia dos vencedores e o arrojo dos que avançam. Daí a tentação de acreditar que egoísmo e temeridade são virtudes sustentáveis...
O olhar humano procura sempre uma luz exterior. Por isso deixamo-nos guiar, com frequência, por aqueles que conseguem a dianteira e assumem o papel de líderes...
Liderar exige coragem para romper barreiras e ousadia para inovar. Mas um verdadeiro líder sabe também parar, escutar e deixar que a mudança respire. Liderança não é apenas avanço, é também discernimento: o egoísta teme perder, o altruísta teme não servir, mas só o sábio reconhece que nenhum deles pode liderar sozinho.
Hannah Arendt lembrava: “O poder só é efetivo enquanto os homens se mantêm unidos.” O equilíbrio entre afirmação pessoal e serviço ao coletivo é o que transforma autoridade em liderança genuína.
O líder, que seja uma personalidade, sabe quando quebrar e quando construir; sabe que a dúvida criativa ou até o fracasso fazem parte do processo e não o invalidam...
Não é bom demonizar o egoísmo, pintado-o como vício absoluto. Há um “egoísmo saudável” que nasce do autoconhecimento e da autopreservação e torna o altruísmo sustentável...
Talvez a grandeza da liderança esteja justamente aqui: na consciência de que a poesia da vida não acontece nas ordens nem nas revoluções, mas nos intervalos entre elas...
António da Cunha Duarte Justo
Texto completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10252
Quarta-feira, 29 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)
“Os países não têm amigos nem inimigos. Os países têm interesses”. Essa frase antológica do ex-primeiro ministro britânico Winston Churchi

Por que Hildon teria desistido de disputar o governo de Rondônia?
Hildon Chaves deixou a prefeitura de Porto Velho, após dois mandatos, com quase 80% de aceitação popular, uma cifra alcançada por poucos. Acho que s

Uma Narrativa sobre a Unidade Trinitária do SerHavia um tempo antes do tempo, quando tudo ainda era pura possibilidade suspensa sem forma, vazio em si

Até assistir ao vídeo do advogado Davi Aragão em seu canal do YouTube eu não tinha a menor ideia do potencial destruidor da Magnitsky. Para mim, era
Quarta-feira, 29 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)