Quarta-feira, 18 de setembro de 2024 - 17h30
Somente quando o as chamas sabrecaram o rabo do
lobo Guará, no Parque da Cidade, em Brasília, e a fumaça chegou às janelas do
Palácio do Planalto foi quando o governo olhou e percebeu a devastação que o
país vem sofrendo com as queimadas por todo lado, engolindo o horizonte.
“Devíamos fazer algo”, alguém sugeriu, mas decidimos esperar um pouco mais.
Quando o fogo já consumia milhões de hectares, alguém, finalmente, correu para
pegar o balde. Encheram-no com R$ 500 milhões e jogaram nas chamas. "Isso
deve resolver", dissemos, satisfeitos. Afinal, não havia motivo para se
preocupar antes, certo? Agora que tudo estava queimando, o importante era ter
feito algo, mesmo que fosse tarde demais. Assim, o ciclo de cinzas continua
O Brasil enfrenta uma grave crise ambiental em
2024, com cerca de 11 milhões de hectares devastados pelo fogo, principalmente
na Amazônia e no Pantanal. Apesar de o governo ter liberado R$ 500 milhões para
o combate aos incêndios, essa medida chega tarde, após a destruição já estar em
andamento. A falta de um plano de contingência adequado é alarmante,
considerando que o Brasil enfrenta esses problemas anualmente. Além disso, a
seca extrema, os rios associados e a falta de planejamento ambiental expõem a
ausência de políticas preventivas eficazes.
De janeiro a agosto de 2024 os incêndios no Brasil
já atingiram 11,39 milhões de hectares do território do país, segundo dados do
Monitor do Fogo Mapbiomas, divulgados nesta quinta-feira (12). Desse total,
5,65 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo apenas no mês de agosto, o
que equivale a 49% do total deste ano.
Nesses oito primeiros meses do ano, o fogo se alastrou principalmente em áreas de vegetação nativa, que representam 70% do que foi queimado. As áreas campestres foram as que os incêndios mais afetaram, representando 24,7% do total. Formações savânicas, florestais e campos alagados também foram fortemente atingidos, representando 17,9%, 16,4% e 9,5% respectivamente. Pastagens representaram 21,1% de toda a área atingida.
Para o período, os estados do Mato Grosso, Roraima
e Pará foram os que mais atingidos, respondendo por mais da metade, 52%, da
área alcançada pelo fogo. São três estados da Amazônia, bioma mais atingido até
agosto de 2024. O fogo consumiu 5,4 milhões de hectares do bioma nesses oito
meses.
O Pantanal, até agosto de 2024 queimou 1,22 milhão
de hectares, um crescimento de 249% nas áreas alcançadas por incêndios, em
comparação à média dos cinco anos anteriores. A Mata Atlântica teve 615 mil
hectares atingidos pelo fogo, enquanto que na Caatinga os incêndios afetaram 51
mil hectares. Já os Pampas tiveram apenas 2,7 mil hectares no período de oito
meses.
Ano após ano, o Brasil lida com as queimadas e a
destruição de seus biomas, principalmente na Amazônia e no Pantanal, sem que
haja uma resposta preventiva robusta por parte do governo. Apesar do óculo robusto sobre os olhos, Marina
Silva, mas parece um ser alienígena que não conhece e nem sabe porque está no
meio ambiente. Depois que tudo está queimado, corre para encontrar recursos
financeiros, sem apresentar um Plano de Ação. Essa medida embora possa parecer significativa, peca por ser reativa,
chegando somente após 11 milhões de hectares já terem sido destruídos.
Historicamente, o auge das queimadas ocorre entre
julho e setembro, uma realidade conhecida que torna inexplicável a ausência de
um plano de contingência eficiente, considerando o padrão recorrente de
desmatamento e queimadas ilegais. O governo tem apostado, muitas vezes, na
culpabilização de agentes locais, como agricultores e pequenos produtores, sem
abordar questões estruturais como o desmonte de políticas de monitoramento
ambiental, a falta de fiscalização efetiva e, sobretudo, a inação frente às
condições climáticas que intensificam esses incêndios. Nunca foi pensado principalmente na montagem de um Plano Efetivo, com equipamentos, pessoas e
sistemas de monitoramento eficientes, para pronto emprego. Não! ficam que nem
“barata tonta” correndo às cegas sem saber o que fazer.
O cenário atual reforça a urgência de políticas
ambientais que visem não apenas à mitigação das consequências, mas à prevenção
das causas das queimadas. Um plano de contingência bem estruturado deve incluir
uma preparação anual para o período seco, com reforço na fiscalização e na
aplicação da legislação ambienta. O que vemos é uma reprodução dos mesmos
erros, ano após ano. Apesar dos cientistas, ambientalistas e organizações
internacionais alertarem sobre a urgência de políticas mais eficazes, o governo
não consegue implementar mudanças rápidas. Em vez de adotar uma postura
preventiva, os recursos emergenciais chegam apenas quando a destruição já está
em andamento. Essa atitude negligente contribui para um ciclo vicioso de
destruição ambiental e perda de biodiversidade.
O Pantanal e a Amazônia, biomas únicos e de extrema
importância não apenas para o Brasil, mas para o equilíbrio climático global,
tornam-se cada vez mais vulneráveis devido à falta de uma estratégia
integrada. A situação atual não é uma surpresa; é um reflexo da má gestão
pública e da falta de prioridade dada ao meio ambiente no país.
É preciso destacar o impacto humano dessa crise
ambiental. As queimadas e a seca afetam diretamente as comunidades que dependem
dos recursos naturais para sobreviver. Populações indígenas, quilombolas,
ribeirinhos e agricultores familiares veem suas fontes de sustento destruídas
pelas chamas e pela manipulação dos rios e solos.
Além disso, o fogo não escolhe destruir. Ele
devasta habitats inteiros, ameaçando espécies animais e vegetais que muitas
vezes são únicas nessas regiões. A biodiversidade brasileira, que é uma das mais
ricas do mundo, está sendo sacrificada pela inação e pela falta de um plano
estratégico para o manejo e preservação de áreas florestais.
O cenário que o Brasil enfrenta não é fruto de
fatores naturais imprevisíveis. Em condições extremas, os incêndios
devastadores e a manipulação dos ecossistemas são consequências diretas da
ausência de políticas públicas de preservação e planejamento. Um plano de
contingência poderia, se não ser evitado completamente, pelo menos minimizar os
impactos das queimadas que devastam milhões de hectares de biomas essenciais
para o equilíbrio ambiental e econômico do país.
Enquanto a narrativa oficial tenta culpabilizar pequenos produtores ou comunidades locais, fica evidente que a falha principal está na gestão pública. É preciso maior fiscalização, monitoramento contínuo e, sobretudo, um compromisso real com a preservação ambiental. Isso inclui garantir recursos e tecnologia para monitoramento e contenção de incêndios, além de investir em recuperação de áreas degradadas e ações de educação ambiental.
O governo brasileiro precisa entender que medidas
emergenciais e paliativas, como a liberação de recursos tardiamente, não são
suficientes. O futuro do país e de suas gerações depende de um planejamento
sustentável que proteja suas florestas, rios e populações mais vulneráveis.
Caso contrário, continuaremos a assistir a mesma destruição, ano após ano, com
consequências cada vez mais irreversíveis.
É necessário adotar uma abordagem integrada e
multidisciplinar que envolva órgãos ambientais, pesquisadores, comunidades
locais. A implementação de um plano de contingência para as secas e queimadas
deve ser uma prioridade absoluta. Além disso, as políticas de restauração
ecológica precisam ser amplamente incentivadas, com o fortalecimento de ações
que incentivam a preservação, como o reflorestamento e o manejo sustentável.
Chega de apagar cinzas...
Rubens Nascimento é Jornalista, Bel. Direito, Mestre Maçom e
Ativista do Desenvolvimento.
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