Terça-feira, 23 de outubro de 2007 - 21h48
Na semana passada, uma equipe do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) confrontou-se com uma dura realidade. Deslocou-se de Brasília para as cidades de Cujubim e Itapuã do Oeste, em Rondônia, onde se localiza a Floresta Nacional do Jamari, primeira área de floresta pública do país que será licitada à iniciativa privada para manejo sustentável dos recursos naturais. A idéia era apresentar à população local a minuta do edital e do contrato de concessão de florestas públicas. A concorrência já tem data para acontecer: pelo cronograma do governo, em março do ano que vem serão escolhidas as empresas vencedoras. As reuniões serviam, assim, para tirar dúvidas sobre o processo, colher sugestões e explicar aos moradores como participar dele. Não se tratava de aprovar ou não a proposta, amplamente discutida à época da elaboração da Lei de Gestão de Florestas Públicas. Mas foi um tanto quanto difícil manter a discussão dentro dos eixos.
Com pouco mais de 13 mil habitantes, quase nenhum asfalto e tráfego intenso de toras, Cujubim é aclamada pela própria população como a capital da madeira. De acordo com Ivan Pereira da Costa, presidente da Cooperativa Extrativista de Madeira e Agroflorestal de Cujubim (Cemac), dos 280 planos de manejo aprovados em Rondônia, 204 estão em seu município. Há 52 serrarias e seis pequenas marcenarias, pilares da economia da cidade, que sobrevive mandando toras para outras municípios, ou no máximo madeira serrada. “A madeira não é plainada, polida ou transformada em móveis aqui. Ela sai com valor agregado muito baixo e aí o município continua pobre, mandando para longe seus recursos”, reconhece o líder da Cemac. Ele garante que nenhum de seus associados explora dentro da floresta nacional. A maior parte dessa madeira é extraída de uma área conhecida como “Soldado da Borracha”, dada pelo Incra há mais de 30 anos. “Nessa área existem 1200 lotes de terras, cada uma com 250 hectares”, diz.
Em um galpão da Associação de Mulheres de Cujubim e numa escola pública de Itapuã do Oeste, as apresentações do SFB foram literalmente suadas. Muito calor, pouca ventilação e o olhar descrente da população foram comuns nas duas reuniões. Com a honrosa exceção de uma professora de biologia que expôs sua preocupação com a fauna e a flora nas áreas de concessão, todos os comentários e opiniões da população nas duas audiências foram pautados exclusivamente nos ganhos sociais da proposta.
De acordo com o edital, além da madeira, o turismo poderá concorrer, galhos poderão ser explorados para produção de energia, assim como óleos, resinas e frutos, com exceção da castanha e do açaí, por enquanto. “Acatamos a idéia de não licitar áreas usadas por populações tradicionais para coleta de açaí e castanha”, diz Luiz Carlos Joels, diretor do SFB, que recebeu da comunidade de Itapuã do Oeste a sugestão de incluir ainda áreas de coleta de cipó, óleo de copaíba, andiroba entre outros. Importante lembrar que nem por isso o acesso à floresta nacional será descontrolado. Segundo o SFB, ele também precisará ser regulamentado e os extrativistas cadastrados. Ainda pelo edital, é terminantemente proibido o aproveitamento de recursos hídricos, genéticos, minerais, de fauna e pesqueiros na floresta nacional. Assim como titularidade imobiliária e a comercialização de créditos de carbono.
Encorajados pelo deputado federal Ernandes Amorim (PTB-RO) e sua filha, a deputada estadual Daniela Amorim (PTB), muitos não viram a proposta com bons olhos, porque entenderam que terão empregos preteridos por alguma grande empresa que se instale na região. Embora o SFB tenha enviado ofícios convidando parlamentares estaduais e federais para as audiências, os dois foram os únicos que apareceram, acusando o Serviço Florestal de não ter chamado representantes do governo de Ivo Cassol.
Apesar de ter ouvido repetidas explicações do SFB, o deputado Ernandes Amorim insistiu em discursar, em linguagem clara ao entendimento da maioria, que achava errado licitar “apenas” três áreas, para beneficiar “três pessoas”. E instigou. “Quem tem dinheiro aqui para concorrer com as empresas grandes lá fora? Se alguém de fora comprar, nenhum de vocês vai ter direito de tirar cipó e caçar, nem poder mais entrar na floresta”, disse, como se a caça e a entrada na unidade de conservação já não fossem proibidas. Ignorou a determinação de que a empresa que ganhar será provavelmente a que oferecer mais empregos locais. “É melhor dividir as áreas em 30 parcelas, em vez de três. Beneficiaria mais gente na cidade e daria chance aos pequenos”, sugeriu, sob aplausos da platéia.
Os prefeitos de Cujubim e Itapuã do Oeste tentaram acalmar os ânimos e mostrar que a proposta de exploração legal em florestas públicas pode ser muito benéfica aos dois municípios, que receberão porcentagens do governo federal por estarem na área da floresta nacional. No final, o deputado Amorim tentou desqualificar a própria população de seu estado no processo. “Que entendimento têm essas pessoas para discutir esse projeto? Vocês precisam de pessoas para pensar por vocês. E eu digo que isso não está de acordo com o interesse de vocês”, insistiu. Mas quando afirmou que ninguém ali tinha habilidade técnica para fazer um projeto de tal magnitude e concorrer com empresas de fora, mexeu no brio do povo rondoniense. E entregou de bandeja a motivação que faltava para a população se convencer do contrário.
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