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Haverá um fim para o sofrimento dos haitianos?



Em agosto de 2009 acompanhamos os senadores Eduardo Azeredo (PSDB-MG), Flávio Torres (PDT-CE), Gerson Camata (PMDB-ES) e João Pedro (PT-AM) em visita ao Haiti. O que vimos foi um país já destroçado: praticamente não há escolas e hospitais, e outros serviços públicos básicos, como a coleta de lixo, não funcionam. Porto Príncipe, com suas ruas cobertas de lixo, não tem água encanada, energia elétrica ou esgoto. Com estimados três milhões de habitantes, do total de oito milhões que vivem no país, a cidade à noite permanece praticamente às escuras. Outras atividades básicas de Estado, como o policiamento, o registro civil e o censo dos cidadãos, o recolhimento de impostos, o acesso à Justiça ou são precárias ou simplesmente não existem.

Os haitianos não têm emprego: não há indústrias, o comércio é quase todo informal, a agricultura é incipiente, e, para piorar, não há petróleo, gás ou qualquer outra fonte de energia no subsolo. Ainda que seja dotado de belíssimas praias, à semelhança da vizinha República Dominicana, não há infraestrutura ou mão de obra qualificada para aproveitar o potencial turístico. Além disso, 99% das florestas do país foram devastados e transformados em carvão, única fonte de energia do país.

Quem praticamente sustenta o Haiti são os dois milhões de cidadãos que conseguiram emigrar, principalmente para os Estados Unidos. Eles mandam dinheiro e arrecadam doações para as famílias, movimentando a economia do país. É possível comprar, a preço de banana, tênis, roupas e todo tipo de artigos doados nas feirinhas de Porto Príncipe, onde vendedores visivelmente famintos disputam cada dólar dos militares estrangeiros.

À pobreza, à fome, e à falta de tudo juntam-se a insegurança, fruto da ausência do Estado e da atuação de todo tipo de criminosos e grupos armados, e os altíssimos índices de corrupção. O contraste entre essa dura realidade da grande maioria dos haitianos e a da riquíssima e minúscula fatia da população que vive no alto dos morros foge a qualquer parâmetro razoável. Nos bairros ricos há inclusive lojas de artigos de alto luxo como a da francesa Christofle. É possível ver limusines descendo em direção à praia, seguidas de seguranças e batedores, mansões imponentes e até jatos particulares estacionados no aeroporto.

No entanto, o que mais impressiona no Haiti não é a situação atual, infelizmente comum a muitos países, mas a falta de perspectivas de melhora no curto e até no médio prazo. Nada a ver com o trabalho do Exército Brasileiro, capaz de emocionar pela competência e pela ajuda que vai muito além da segurança armada.

A verdade é que as agências internacionais de desenvolvimento não foram envolvidas e nada ou quase nada está sendo feito para a reconstrução do país, para dotá-lo da infra-estrutura necessária ao seu desenvolvimento. Apenas as ONGs e as forças militares, cujo trabalho seria tão somente garantir a segurança e a estabilidade das precárias instituições, por força da solidariedade dos soldados, executam obras, socorrem feridos, distribuem comida, fazendo o que podem com o pouco de que dispõem.

A despeito da miséria e dos quatro furacões que, em 2008, em apenas quatro dias, devastaram Porto Príncipe, o haitiano sorri o tempo todo. Brasil, futebol e o jogador Ronaldo são a unanimidade nacional. Não há rua em Porto Príncipe sem um bar com as cores ou a camisa da seleção canarinho.

Outro traço fundamental que une os haitianos é o orgulho de serem o primeiro país negro das Américas a conquistar a independência. Quem sabe agora, diante desse terremoto de conseqüências ainda não dimensionadas, mas certamente trágicas, o mundo acorde e decida ajudar de fato, para que o Haiti possa orgulhar-se de ser novamente um país, no sentido mais abrangente da palavra.

Thâmara Brasil, repórter do Jornal do Senado, visitou o Haiti em agosto de 2009, juntamente com a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. 
 
Fonte: Agência Senado

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