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GLOBO RURAL: A Bolívia e a febre da coca


 
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Agricultores da região de Yungas apostam no cultivo da erva para sobreviver, em oposição aos esforços do governo para reduzir o plantio 

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Javier Aliaga / Agência EFE
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A maior parte da população de La Asunta é pobre, e quase todos são aimaras e quíchuas



La Asunta
encontra-se na região de Yungas de La Paz, na Bolívia, uma terra privilegiada para qualquer cultivo devido ao clima ensolarado e aos rios caudalosos que contornam os povoados, onde os camponeses apostam na expansão das plantações de coca para sobreviver - embora sofram com o estigma de que parte de sua produção vai para o narcotráfico e para a fabricação de cocaína.

De toda a zona de Yungas, La Asunta tem a melhor terra. Os arbustos de coca do povoado são mais volumosos, produzem mais por hectare e também têm mais colheitas anuais em comparação com o município vizinho de Chulumani, onde as plantações tradicionais também cobrem as colinas, embora o rendimento seja menor. 'De um hectare de Chulumani, em sua melhor produção, não se colhem mais de quatro ou cinco 'taques' (como os camponeses chamam as bolsas de 22,5 quilos de folhas de coca). Em La Asunta, em um hectare, é possível colher ao redor de 25 ou 30 ‘taques’', afirma o vice-ministro de Defesa Social, Felipe Cáceres.
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La Asunta tem a melhor terra para produzir folhas de coca
Ex-produtor de coca, ele é o atual responsável pela luta para a erradicação das plantações de excedentes na Bolívia, e contra o narcotráfico. Assim, Cáceres justificou a decisão de iniciar este ano a erradicação de coca na região de La Asunta.

Apesar de estar apenas a 200 quilômetros da cidade de La Paz, é preciso entre oito e dez horas para percorrer as estradas precárias que ligam a cidade à capital, caminho que fica completamente intransitável na época das chuvas.

La Asunta tem uma população superior a 20 mil pessoas. Majoritariamente pobres, os cidadãos do povoado são quase todos aimaras e quíchuas, as etnias indígenas mais presentes na Bolívia, e apoiaram em peso – 95% de aprovação - a reeleição do presidente Evo Morales, em dezembro.

O governante, inclusive, pediu várias vezes a todos os habitantes de Yungas que colaborem com o Exército na destruição de uma parte de suas plantações de coca. O objetivo dos militares é erradicar dois mil hectares durante este ano como parte da luta antidroga – o que equivale a um terço dos seis mil hectares destruídos todos os anos em toda a Bolívia.
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Segundo relatórios das Nações Unidas e dos Estados Unidos, existem entre 30,5 e 32 mil hectares plantados com coca no país, dos quais 20 mil estão em Yungas e o resto principalmente na zona Chapare (centro), onde Morales continua sendo o líder do sindicato dos cocaleiros.

Monocultura desenfreada

Um taque pode ser vendido nos mercados de La Paz a 700, mil ou 1,2 mil bolivianos (o equivalente a R$ 175, R$ 246,75 e R$ 295,75, respectivamente), segundo a época do ano. Em março custa menos que em setembro ou outubro. Estes preços fazem com que a vida dos camponeses da La Asunta dependa quase exclusivamente da monocultura da planta.


É muito raro ver um palmo de terra com outro tipo de plantações, como as árvores frutíferas, em La Asunta. Se existem, são para consumo familiar. A razão é simples: a coca vale mais que qualquer outro produto da região.

Egberto Pari é o principal líder camponês do povoado. Tem 37 anos e possui três quartos de um hectare de coca para manter uma família de cinco pessoas. Segundo Pari, os agricultores não podem mudar suas plantações, já que não contam com a ajuda de um programa de desenvolvimento que tenha como prioridades fazer obras em estradas, caminhos secundários e pontes sobre o rio La Paz.

De acordo com o agricultor, sua renda com a coca alcança três mil bolivianos (R$ 742) a cada três meses. Com essa quantia, ele consegue alimentar e vestir sua esposa e os três filhos e ainda economiza 10 % para eventuais problemas de saúde.

Julia Quispe tem 47 anos e seis filhos. É outra das camponesas de La Asunta que tem sua vida baseada na economia da coca. Enquanto seca as folhas da planta, estendidas em uma das ruas do povoado, diz que seu ‘cocal’ está 'envelhecido' e não rende como os dos outros camponeses que cultivam nas terras virgens das colinas. Sua plantação 'velha' permite uma renda de 1,5 mil bolivianos (R$ 371) a cada três meses.

Quispe tem uma fórmula curiosa para ajudar na erradicação das plantações de coca promovida pelo governo: que destruam seu ‘cocal’ velho, mas em troca lhe deem novas terras para plantar ‘cocais’ novos. 'Que seja renovável. Nos convidariam a deixar esse pedaço de terra que dá pouco e ter um maiorzinho que renda mais', diz.

A intenção da mulher dá uma pista sobre a falta de eficácia na erradicação da coca como política antidroga, já que embora a cada ano sejam destruídos ao menos cinco mil hectares de plantações, o volume global nunca baixa notoriamente: novos cultivos aparecem em outras regiões escondidas ou parques nacionais.

A erradicação antes e após Evo Morales

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Soldados das Forças Armadas da Bolívia erradicam plantações de coca


Para o governo de Evo Morales, a diferença entre sua política de destruição da coca e a de seus antecessores está em que ele chegou a um consenso com os sindicatos cocaleiros, o que lhe permite alcançar volumes moderados de erradicação, mas sem violência.

Segundo as estatísticas oficiais, entre 2000 e 2005, a quantidade de coca erradicada pelos governos anteriores a Morales foi de 53.539 hectares que, no entanto, deixaram 21 mortos e 270 feridos. Na gestão do governante indígena, entre 2006 e e 2010, foram eliminados menos da metade dessas plantações - apenas 23.838 hectares - mas em compensação houve só três vítimas.

Apesar do esforço feito antes e durante a administração de Morales, e apesar da erradicação global de 77.377 hectares de coca durante uma década, a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife) das Nações Unidas afirmou em fevereiro que a superfície cultivada no país rondava os 30,5 mil hectares, o dobro do feito do ano 2000.

Perante a impossibilidade de controlar a aparição de novas plantações, a solução, segundo o vice-ministro Cáceres, é a modificação da 'Lei de Regime da Coca e Substâncias Controladas'. A lei estabelecerá municípios pontuais para o cultivo legal planta e fixará os volumes que devem ser colhidos a cada ano.

No entanto, o governo também antecipou que quer que o limite legal das plantações suba de 12 mil para 20 mil hectare,s para impulsionar a industrialização de produtos como mates, xaropes, refrescos e pastas de dente. Trata-se de uma decisão polêmica, já que para a oposição boliviana e para os Estados Unidos, mais coca pode significar mais cocaína.

Fonte: GLOBO RURAL

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