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Chefe das Farc decide desertar e leva grupo


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Leandra Felipe
Agência Brasil/EBC

Tame (Colômbia) – Após viver 18 anos como guerrilheiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Carlos Andrés Úsuga Puentes, 31 anos, Alías “Marlon”, decidiu desertar em julho deste ano. Ao sair do grupo, elaborou um plano e levou dez pessoas que estavam sob seu comando. Ele disse que resolveu fugir porque queria salvar a irmã – também guerrilheira, que estava grávida – de ter que fazer um aborto e porque estava desiludido.

“Eu entrei nas Farc com 13 anos, como quase todos os guerrilheiros. Era um menino. Mas, com o passar do tempo, vi que não tinha feito nada na vida. Não tinha conseguido ajudar minha família nem ganhar dinheiro. Eu vivia isolado no mato e não tinha feito nada de útil na vida”, contou à Agência Brasil.

Marlon participou de uma campanha do governo colombiano para incentivar a desmobilização de guerrilheiros, feita nessa quarta-feira (18). Ele conversou com adolescentes e jovens de Tame, capital do departamento de Arauca, na Planície Oriental do país.

Antes de falar à plateia, foi cumprimentado pelo ministro de Defesa, Juan Carlos Pinzón. “Que bom ver você aqui. Como vai o trabalho? Espero que tudo bem”, disse Pinzón. Marlon contou ainda que começou a pensar em sair aos 22 anos, quando começou a perceber que não tinha conseguido ajudar a família e nem ganhar dinheiro, como haviam prometido.

Segundo ele, nos primeiros anos do recrutamento o foco é a doutrinação. “As Farc dão aulas teóricas e treinamento para a guerra, tudo focado no coletivo e na revolução”, informou. Segundo ele, o tempo foi passando e também houve aumento da pressão militar. “Vivíamos com medo de ser mortos em combate ou em um bombardeio do Exército. Vi que tinha perdido mais do que ganhado nos anos que passei na guerrilha”.

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Quando a irmã mais nova ficou grávida de seu companheiro (um soldado no grupo), Marlon teve mais vontade de sair. Embora fosse comandante médio de uma das frentes da guerrilha, nada podia ser feito para evitar um aborto da criança. “As regras são muito claras dentro do grupo. A gravidez é evitada com injeções, mas quando uma mulher fica grávida, em algum momento vão fazer um aborto. Só uma mulher que é sócia [parceira] de um comandante de frente tem o privilégio de ter a criança”, relatou.

Depois de ver vários abortos, inclusive de gestações avançadas, Marlon resolveu sair e levar os dez guerrilheiros, entre eles a irmã e outra jovem que também está grávida.

Ele disse que com o aumento da pressão do Exército, liderava um grupo pequeno, eram só os dez que fugiram e havia certo “abandono” nas vistorias que os chefes faziam em cada coluna ou acampamento. “Já havia três anos que não vinha ninguém fazer vistoria e estávamos a três horas de uma cidade”, lembrou.

Marlon começou a convencer os guerrilheiros que comandava a sair e procurou um amigo que vivia na cidade mais próxima. Por meio desse amigo, conseguiu contato com os agentes de desmobilização do Exército colombiano. E o grupo inteiro desertou.

“Nós saímos todos e minha irmã terá o bebê daqui a dois meses. Para mim, foi um alívio. Tive que sair da região e vivo longe. Mas já me reencontrei minha família. Estou trabalhando no campo, lugar de onde saí, mas quero estudar e pensar no futuro”.

Ele disse ainda que está vivendo uma fase de bastante reflexão e que acredita ter perdido muito tempo. “Lá dentro das Farc, a gente perde a capacidade de pensar sozinho. De ter os próprios sonhos. Agora, tenho que recuperar isso. Acho que perdi a etapa mais criativa da minha vida, a hora em que todo mundo sonha com o que vai ser. Tenho que recuperar isso, sem perder o ânimo”, acrescentou.

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