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Argentina reencontra 88 desaparecidos na ditadura


Avós da Praça de Maio venceram resistências e hoje montam arquivo genealógico para identificar parentes
 
ANA MARIA MEJIA
 
BRASÍLIA – Dos 30 mil desaparecidos na Argentina, incluindo crianças, 88 jovens reencontraram suas famílias desde que o Movimento Avós da Praça de Maio iniciou uma mobilização nacional em busca de seus filhos e netos perdidos durante o período da ditadura militar naquele país. Entre esses jovens, a neta da octogenária Buscarita Roa foi localizada há dois anos e meio, graças ao minucioso trabalho de vasculhar o passado.
Isso foi possível, a partir da reunião de histórias de vidas, visitas em orfanatos e hospitais, e a investigação de denúncias. "Trabalho na Instituição para que outras avós encontrem os netos que nos roubaram no tempo da ditadura", ela disse, nesta quinta-feira, aos participantes do ato solene em homenagem aos anistiados, na abertura do Seminário Nacional Memória da Luta Pelos Direitos Humanos no Brasil, no Auditório Nereu Ramos, da Câmara dos Deputados.
Banco de Dados Genético
Convidada a proferir a palestra magna de abertura, Buscarita Roa descreveu os obstáculos vencidos durante a estruturação do movimento criado em 1977. Lembrou a demora em compreender que as crianças haviam crescido e da luta contra a resistência daqueles que preferiam o esquecimento. Disse que a edição de uma Lei Nacional criou o Banco de Dados Genético de Parentes de Crianças Desaparecidas, no qual são conservadas amostras de sangue dos membros da família, até a reconstrução da memória e da história individual de pais e mães desaparecidos.
Chegaram ao fim, na Argentina, as leis Ponto Final e Obediência Devida, que impediam a reparação de violações de direitos humanos. "Nestes 30 anos de incansável luta, comprovamos que a reconciliação só é possível a partir da verdade e a justiça, na consolidação da paz, no reencontro de nossos netos e na descoberta do destino de seus pais e de cada um dos desaparecidos", afirmou. Buscarita. Atualmente, o Movimento das Mães da Praça de Maio aposta que seus parentes adultos possam procurá-los e aumentam a divulgação de sua atuação.
Nesses tempos modernos, as Avós da Praça de Maio estendem suas ações e envolvem jovens em projetos, a exemplo de O direito à Identidade , que as fez criar um serviço assistencial e gratuito de atendimento psicológico para a comunidade. Além disso, em conjunto com a Faculdade de Ciências Sociais e Universidade de Buenos Aires, desenvolvem o projeto Reconstrução da identidade dos desaparecidos. Arquivo bibliográfico familiar das Avós da Praça de Maio. "Esse material fará justiça às vítimas e contribuirá na elaboração da história recente da Argentina e na construção a memória coletiva", afirmou.
Não ao esquecimento
Para que as violências não se repitam, é necessário admiti-las. "Esquecimento implica repetição, pois o que se nega se repete", disse o vice-presidente da Federação Internacional dos Direitos Humanos na Argentina, Juan Carlos Capurro. Segun do ele, muitas pessoas aconselham ao esquecimento, mas trata-se de um período da história, de sociedade, e não de comportamento individual. "Não queremos vingança, mas que a verdade seja restaurada na Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia, e que se reconheça o sofrimento injusto das famílias", apelou.
"Olhar o passado sem medo"
A coordenadora do Núcleo de Estudos Pela Paz, da Universidade de Brasília, Nair Bicalho, se disse parte da geração que foi torturada, oprimida, que aprendeu a "fazer política com guerra para que a geração de hoje pudesse fazer política como festa". "Precisamos rever esse passado para que possamos viver pautados na justiça, na democracia e na esperança de um país que possa olhar o seu passado, sem medo, em paz", disse ela.
Nair Bicalho disse que na comemoração dos 25 anos do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) deve-se reforçar a luta pela reconstrução do que foi vivido por essas pessoas, para que os atores tornem públicos suas culpas e seus ideais. "Aí a democracia estará consolidada no Brasil", afirmou.
Também o secretário da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, lembrou que na construção desses 25 anos de luta pelos direitos humanos, sempre se deve ampliar as ações compreendidas dentro dessa luta, a exemplo dos direitos das crianças, dos idosos e das minorias.
Representando o Ministério Público, a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Ela Wiecko, disse que em maio a Procuradoria promoveu um seminário do qual resultou a Carta de São Paulo, com recomendações pontuais que poderão resultar na autorização para abertura dos arquivos da ditadura. O encontro também possibilitou a criação de uma Comissão da Verdade, separando o aparato policial das investigações. "Pode representar um ponto de partida para colocarmos em prática ações estratégicas", afirmou.
"Buscamos uma aliança complexa pelo diálogo entre movimentos sociais, governo e acadêmicos, mas é o único caminho para fazer a verdade vir à tona", disse a coordenadora do MNDH, Rosiana Queiroz. Ela ressaltou que os direitos humanos querem ter a certeza de que não haverá mais tortura e que democracia e justiça serão para sempre.   
O seminário continua nesta sexta-feira, na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio (CNTC). O Direito à Memória e à Verdade é o painel de abertura, às 9 horas.
 

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