Terça-feira, 23 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Meio Ambiente

Ribeirinhos do alto Madeira fazem chamado para permanec


A 20 kilômetros de Porto Velho, nas imediações da Cachoeira de Teotônio, estão as comunidades do Sacaca, Boca do Jatuarana, Cachoeira dos Macacos e o assentamento Porto Seguro. Essas localidades seriam diretamente impactadas com a construção daquela que seria a primeira Usina no Rio  Madeira, Santo Antonio. Centenas de famílias seriam deslocadas sem destino certo e as que ficarem não teriam mais as margens férteis em que sempre praticaram a agricultura de vazante.

Além disso, os  igarapés da região, conhecidos por sua piscosidade,  sofreriam um "repiquete" permanente das águas do Madeira, alterando a composição das suas águas e o perfil da flora e da fauna(especialmente peixes) do local. Espécies vegetais adaptadas a inundações periódicas e limitadas no tempo não suportariam uma sobrelevação constante do nível da água. Plantas aquáticas se multiplicariam e em pouco tempo se escassearia o oxigênio na água. Os igarapés não seriam mais os mesmos.

Nessas condições ativa-se o mercúrio nas cadeias alimentares chegando a contaminar o homem, é o que alerta o  Ibama em sua Informação Técnica 020/2007, apresentada no dia 23 abril último. O documento diz que No Igarapé Jatuarana que apresenta baixa vazão, assim como outros braços menores, ocorreria inversão de fluxo durante o enchimento, promovendo a anoxia(perda de oxigênio). Esta preocupação está fundamentada nas condições ideais para a metilação, ou seja: anoxia, acúmulo de matéria orgânica, aumento de atividade microbiológica, elevação da temperatura e diminuição do PH da água, além da proliferação de macrófitas(plantas aquáticas).Portanto neste ambiente, e em outros que compartilham destas características haverá risco de mobilização de mercúrio." Esse risco segundo o IBAMA não teria sido  avaliado de forma satisfatória nos estudos apresentados por Furnas/Odebrecht.

Sabe-se que a maior parte do mercúrio nos ecossistemas é associado aos solos e dessa  matriz libera-se para a atmosfera e para os sistema fluvial. Some-se a isso os rejeitos da atividade garimpeira, muito intensa na bacia do Madeira nos anos 70 e 80, com forte incidência até hoje nas cabeceiras e afluentes na Bolívia e no Peru. A concentração de mercúrio nos peixes da região já se encontra acima dos padrões considerados aceitáveis e a população ribeirinha do Madeira é quem mais está exposta ao risco de contaminação, já que os peixes representam a  base de sua alimentação.

Caso haja a construção das Usinas, estoques inertes de mercúrio serão remobilizados em um ambiente de extensa decomposição de material orgânico. Dessa forma as barragens funcionariam como verdadeiras processadoras de metil-mercúrio, forma em que o mercúrio se torna altamente contaminante. Até agora não se estabeleceu um programa de pesquisa e monitoramento para quantificar índices de mercúrio na população ribeirinha da parte dos órgãos públicos de saúde. Os estudos patrocinados por Furnas e Odebrecht reproduziram esse descaso ao definirem um universo muito restrito para as  coletas de fios de cabelo nas comunidades.

Representantes das quatro comunidades já protocolaram, junto ao Ministério Público Federal de Rondônia, declarações afirmando que Furnas e Odebrecht não prestaram os devidos esclarecimentos  sobre o Projeto das Usinas. Agora o objetivo é fortalecer a organização local para  enfrentar as ameaças que pairam sobre as comunidades. Nesse sábado, 12 de maio, moradores das 4 comunidades participarão de um dia inteiro de atividades de reflexão, planejamento e lazer. O evento intitulado "Chamado Ribeirinho",  tem o apoio do Fórum Independente Popular,  será realizado no espaço do Sr. João Sacaca a partir das 8 horas da manhã  com a realização de debates e dinâmicas com os moradores. 

Fonte: Fórum Independente Popular do Madeira

Gente de OpiniãoTerça-feira, 23 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

EcoCast: série especial discute os desafios e oportunidades do mercado de carbono no Brasil

EcoCast: série especial discute os desafios e oportunidades do mercado de carbono no Brasil

Você sabe o que são os famosos créditos de carbono? E como eles funcionam, você sabe? Na série especial “Carbono: desafios e oportunidades” recebemos

Inovação e Sustentabilidade em Rondônia: UNIR e Eletrogoes Avançam na Pesquisa Florestal

Inovação e Sustentabilidade em Rondônia: UNIR e Eletrogoes Avançam na Pesquisa Florestal

O Grupo de Pesquisa de Recuperação de Ecossistemas e Produção Florestal, coordenado pelas Dra. Kenia Michele de Quadros e Dra. Karen Janones da Roch

Pesquisa estuda folha da Amazônia para substituição do mercúrio na extração de ouro

Pesquisa estuda folha da Amazônia para substituição do mercúrio na extração de ouro

Pau-de-balsa é uma espécie florestal nativa da Amazônia e já é utilizada de forma artesanal na Colômbia para extração de ouro.Agora, cinco instituiçõ

Ibama define nova prioridade para enfrentar perdas na biodiversidade e a crise climática

Ibama define nova prioridade para enfrentar perdas na biodiversidade e a crise climática

Neste ano em que completa 35 anos, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) comemora o impacto do trabalho

Gente de Opinião Terça-feira, 23 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)