Terça-feira, 17 de setembro de 2024 - 11h15
Em sobrevoos na Terra Indígena Kayapó, no Mato Grosso - território indígena que concentra a maior quantidade de focos de calor este ano -, o Greenpeace Brasil flagrou novas queimadas e muita fumaça no local.
Levantamento do Greenpeace, com base nos dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA), mostra que de cada 4 focos de calor em Terras Indígenas na Amazônia, um deles está na TI Kayapó. Em relação à área queimada em 2024, a TI Kayapó já tem 12,46% do território consumido pelo fogo, o equivalente a 409.275 hectares queimados entre janeiro e setembro deste ano, sinalizando a urgente necessidade de o Governo Federal mobilizar frota aérea de incêndio dedicada ao combate ao fogo. Os Kayapó não possuem uma brigada para combater o fogo.
Os dados apurados e as imagens do Greenpeace nos sobrevoos realizados nos dias 11 e 12, além de entrevistas de porta-vozes da organização realizadas com lideranças indígenas locais, mostram que a situação ali é grave e dramática: apenas no mês de setembro, foram registrados no território 15.922 focos de calor, quase 22% do total de focos registrados em todo o Brasil. Isso significa que, um em cada cinco focos de calor registrados em setembro no Brasil ocorreu dentro da Terra Indígena Kayapó.
Na mesma ocasião, 11/09, O Greenpeace Brasil sobrevoou as Terras Indígenas Capoto-Jarina, com o cacique kayapó Megaron Txucarramãe.
"Com base no que estamos ouvindo das pessoas no território e no que conhecemos daquela Terra Indígena, é possível que boa parte dos incêndios ocorridos na área Kayapó tenha origem criminosa", afirma Jorge Dantas, porta-voz do Greenpeace Brasil. "Agentes do Ibama explicam que os incêndios são causados por garimpeiros. Naquela área, por questões de segurança, as equipes do Prevfogo e do Ibama, que combatem incêndios, ainda não podem entrar", alerta.
De acordo com o o porta-voz, o estado brasileiro precisa repensar sua estratégia de combate a incêndios. "Precisamos de brigadas aéreas, que usem aviões dedicados, construídos para combater incêndios. Isso já ocorre em países que enfrentam problemas semelhantes. O governo precisa se mobilizar no curto prazo para melhorar a resposta que é dada com as brigadas e, no longo prazo, estruturar de maneira mais eficiente e investir em compra, manutenção e aperfeiçoamento de equipamentos mais eficazes no combate ao fogo", avalia. "O Brasil precisa de uma frota aérea organizada e estruturada para fazer esse combate, com aeronaves preparadas e configuradas para esse tipo de uso. Caso contrário, assistiremos sem reação à queimada de todos os biomas brasileiros", completa.
Imagem do Greenpeace Brasil de 11/09/2024 mostra fogo destruindo a TI Kayapó. Crédito: Marizilda Cruppe/Greenpeace Brasil
A insuficiência das ações do poder público também é evidente na Terra Indígena Capoto-Jarina. Apesar de possuir uma pequena brigada de incêndio de 40 integrantes – em agosto, um brigadista do IBAMA que estava combatendo o fogo foi encontrado morto dentro do território indígena – , registra área queimada, entre janeiro e setembro, de 82.100 hectares, ou 12, 93% do território. Para se ter uma ideia da intensidade dos danos, a TI soma 2602 focos de 2023 até 11 de setembro de 2024, sendo 633 apenas em 2024 e 295 apenas em setembro. Segundo dados do IBGE (2022), 1.589 indígenas vivem nesse território, distribuídos em treze aldeias.
De acordo com as informações apuradas pelo Greenpeace Brasil, os incêndios se concentram em dois principais pontos da Terra Indígena. O primeiro ao norte, próximo às comunidades indígena Kremoro, e outros ao longo do Rio Xingu, nas áreas Kromaré, Tonhoré, Kretiré, Jatobá e Pirarucu. Brigadistas indígenas estão atuando na região, mas este já é o terceiro pedido de ajuda ao PrevFogo, e os esforços permanecem na tentativa de conter as chamas. Em 30/08 deste ano, em virtude dos incêndios florestais, o Governo do Estado do Mato Grosso declarou situação de emergência por 180 dias. O boletim de secas do CEMADEN para o mês de setembro indica agravamento em 73 municípios do estado, incluindo a região onde estão localizadas as Terras Indígenas Capoto Jarina e o Parque do Xingu.
Para o Grenpeace Brasil, numa crise nacional, a Amazônia não pode ser periféria. As Terras Indígenas estão queimando e enfrentando seca há meses. Os povos indígenas não podem ser os últimos a serem socorridos. Em um cenário de eventos climáticos extremos, os governos precisam desenvolver planos de ação de curto, médio e longo prazos para adaptação às mudanças climáticas.
Também é necessário aumentar o rigor para punir os responsáveis pelos incêndios criminosos, embargando e multando quem incendeia o bioma, exigindo o pagamento das multas, o que não ocorre na maioria dos casos. Da mesma forma, as investigações conduzidas pelas polícias precisam resultar em penalidades aos responsáveis. O uso de tecnologias pode e deve ser incorporado às investigações para dar celeridade e precisão às investigações.
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