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Meio Ambiente

Piscicultura ganha espaço na reforma agrária do Amazonas



O assentamento Iporá, criado pelo Incra no Entorno de Manaus (AM), não vive apenas da agricultura. No projeto existe um crescente trabalho em piscicultura, com os assentados apostando alto na criação de peixes, mostrando a diversificação da produção da reforma agrária no Amazonas. Com as instituições ambientais atentas aos cuidados com a natureza, inclusive com a pesca, a piscicultura surge como uma boa alternativa econômica para o assentamento, que em breve deve se transformar num grande produtor de pescado de cativeiro, especialmente com as espécies de tambaqui, matrinxã e curimatã.
 
Há no assentamento um complexo de tanques para a criação de peixe. No ramal do Garra, por exemplo, dois irmãos assentados em áreas contíguas - Adson da Silva Guedes (28), solteiro, e Aurimar Cavalcante Filho (29), casado -, desenvolvem um bem elaborado projeto de piscicultura. Tudo sob o olhar atento do pai, Aurimar Cavalcante Guedes, natural do município de Autazes (AM), que tem muitos anos de experiência trabalhando com pescado. Com três barragens e sete tanques, os irmãos Adson e Aurimar estão no momento com trinta e quatro mil peixes, entre tambaquis e matrinxãs, em processo de crescimento e engorda. Dentro de pouco tempo esses peixes estarão chegando às feiras e mercados de Manaus e daí às mesas dos amazonenses.
 
Os irmãos, que estão assentados há cinco anos, agradecem ao Incra pelos lotes que receberam e falam com o entusiasmo do trabalho que realizam, sonhando com um grande futuro. "O trabalho tem que ser levado a sério para dar resultados e alcançar sucesso. Agradecemos ao Governo Federal e ao Incra, que nos permitiu acesso a terra no assentamento. O resto fica por nossa conta", afirma Adson. Segundo Aurimar, é necessário dedicação para se chegar ao sucesso. "É muito bom criar peixe, mas para ter sucesso tudo precisa ser feito com arrojo, coração, muita dedicação e gostar do que faz. Do contrário, a coisa não funciona", garante.
 
O trabalho é árduo, mas não é dos mais difíceis, desde que haja um bom acompanhamento técnico e não falte a alimentação para os peixes - ração balanceada -, a começar pelos dois berçários onde inicialmente ficam os alevinos, nome que recebem na fase inicial de vida. Outro fator importante para o sucesso do negócio é estar em dias com as normais ambientais. "Aqui nós trabalhamos de acordo com as leis ambientais. Com isso, evitamos problemas com as autoridades e trabalhamos com a convicção de que estamos fazendo a coisa certa", afirma Aurimar, apaixonado pela piscicultura a exemplo de outros assentados, que já estão começando a atuar no ramo, aliado a agricultura.
                                                         
Festa da despesca
 
Presenciar uma despesca (captura do pescado) de milhares de tambaquis é algo fora do comum para a maioria das pessoas. Na semana passada os irmãos fizeram uma despesca, na qual gastaram nove horas de trabalho, sem intervalo e com a participação de dezesseis trabalhadores. O processo começa com a diminuição da água da barragem ou tanque para, em seguida, uma grande rede de pesca ser colocada na água e o peixe é cercando. Quando o cardume está encurralado, uma rede menor entra em ação e a partir daí o pescado é retirado, conferido, ensacado, pesado e colocado no caminhão frigorífico pronto para ganhar as feiras e mercados. "O trabalho é cansativo, porém prazeroso" garante Aurimar, ao apontar o irmão Adson selecionando alguns tambaquis para o assado e a alimentação dos trabalhadores.
 
Na despesca foram capturados aproximadamente cinco mil tambaquis, com peso médio de dois a três quilos e um ano de vida. Os peixes foram vendidos ao mercado entre R$ 5,00 e R$ 6,00 por quilo. A próxima despesca já está marcada e deverá ocorrer dentro de trinta dias. Nesta despesca serão capturadas aproximadamente cinco mil matrinxãs, com o peso médio de um quilo e meio e preço variando entre R$ 6 e R$ 7,00.
 
O trabalho de despesca é demorado, porque alguns cuidados precisam ser tomados. O peixe não pode ser machucado e os que ainda não estão com tamanho e peso ideais para a comercialização são devolvidos aos tanques e barragem, para ganharem uma sobrevida até a próxima despesca.
 
Lucro bom
 
Os piscicultores, afirmam que não é difícil criar peixe, basta que para isso sejam tomados cuidados especiais determinados pelos técnicos. Segundo os irmãos, que são universitários, a constante atualização com as novas técnicas e literatura sobre piscicultura é uma necessidade para quem deseja crescer no ramo. "O piscicultor precisa estar sempre atualizado, se isso não ocorrer ele fica ultrapassado e pode perder o caminho da estada", diz Adson. Para Aurimar, criar peixe não é apenas adquirir os alevinos e jogar na barragem ou no tanque. "Além dos cuidados técnicos que se deve ter, é preciso ter paciência e gostar do que faz. É uma criação que quase não é enxergada, por isso, é preciso acreditar no que está debaixo dágua. Só se consegue ter uma idéia real da criação na 'festa' dos peixes na hora da alimentação. O certo é que existem piscicultores e criadores de peixe. Nós nos consideramos piscicultores", afirmam orgulhosos os irmãos.
 
No assentamento há cinco anos, os irmãos têm um investimento no Iporá em torno de R$ 300 mil, além da construção de mais quatro tanques, o que deverá comportar mais 20 mil peixes. Segundo eles, grande parte dos investimentos foi feito com o que conseguiram ganhar com a piscicultura. A outra parte foi adquirida com financiamento junto à rede bancária.
 
Satisfeitos com o sucesso, não fazem segredo e afirmam que criar peixe é um bom negócio - com duas despescas ao ano, o lucro é garantido. "O retorno é bom. Deixa uma margem de lucro em torno de 40 a 50 porcento, isso trabalhando com seriedade, sem esbanjar e pensando no futuro", diz Adson.

Fonte: INCRA

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