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Antônio Cândido

SOBRE A CARTA DE JERÔNIMO SANTANA


Não tenho a pretensão de responder a carta do nosso ex-governador mesmo porque não foi ela a mim endereçada. Essa é uma preocupação que deve ter o nosso amigo Euro Tourinho, ilustre destinatário da polêmica missiva.

Sempre digo que na vida política do nosso país admiro três pessoas de maneira especial, Ulisses Guimarães, Jerônimo Santana e Lula (não necessariamente nessa ordem), embora tenha sido eleitor de carteirinha dos dois primeiros e nunca ter votado ou pretender votar em Luis Inácio Lula da Silva, por razões que me abstenho de comentar.

O que me leva a admirar essas pessoas é o fato de que durante a "revolução redentora da Pátria", eles se mantiveram firmes nas suas idéias como baluartes invencíveis e jamais deixaram de lutar pelos princípios de liberdade. Não fizeram parte daqueles (leia-se alguns) que pularam o muro e voltaram "anistiados", cantando e festejando uma liberdade que os outros conquistaram para eles.

Somente quem vivenciou o período da ditadura militar pode avaliar as dificuldades que teve Jerônimo Santana para ser reconhecido, em dois mandatos, como o parlamentar mais atuante de Brasília naquele período difícil da vida política brasileira.

Ninguém desconhece que Jerônimo Santana é um profundo conhecedor da história de Rondônia, haja vista os inúmeros discursos e projetos de lei, onde salta aos olhos esse conhecimento, apresentados na Câmara dos Deputados, dos quais tive o privilégio de tomar conhecimento de alguns, em publicações emprestadas por amigos, feitas pela gráfica daquela Câmara.

Jerônimo Santana traz à tona verdades, que embora conhecidas, ninguém tem coragem de mostrar porque ainda paira no cenário de Rondônia a mística do poder "aluizista", ou "cutuba", para ser mais preciso.

Nos últimos anos se tem procurado criar em torno do nome de Aluízio Ferreira a mística de herói, de salvador da pátria, a quem o estado de Rondônia tudo deve e, principalmente, de que ele e Rondon eram amigos inseparáveis por quem Aluízio teria se rebelado contra os "tenentistas", nos idos de 1930, como se Rondon dependesse e precisasse disso.

Imagine o leitor e o meu caro Doutor Jerônimo, que estou sendo vítima de preconceitos e pressões as mais diversas, simplesmente porque tive a audácia de escrever um livro corrigindo alguns enganos da nossa história. E, vale lembrar, que ainda nem falei em Aluízio Ferreira, em Tenente Fernando, no derrame dos dólares falsos, na morte misteriosa do Pe. João Nicoleti, no café do Peixotinho, no comício de Renato Medeiros invadido pela caçamba  e tantas outras verdades escondidas do povo pela força do poder absoluto de Aluízio Ferreira e seus seguidores.

Infelizmente o nosso ex-governador tem razão quando fala do descaso dos nossos dirigentes com relação à cultura regional, das nossas faculdades que não têm interesse em discutir e promovê-la e da UNIR onde a literatura regional não é ministrada nos cursos de Letras – português, porque um grupo de professores alienígenas resolveu que "aqui não se faz nada que preste" em termos de literatura, história e arte.

O motivo de estar comentando a carta de Jerônimo Santana, prende-se ao fato de que defendo o surgimento de Porto Velho no ano de 1908 e, em sua carta, ele diz que Farquhar fundou Porto Velho em 1907...

Tenho e li todos os livros citados pelo Doutor Jerônimo, coisa que ele também deve ter feito. Por isso, estranho o fato de ele não ter lido na página 178, de Farquhar – O último titã, o seguinte:

"Em maio de 1907, de seu escritório de Nova York, Farquhar enviou um grupo de engenheiros americanos para refazer o levantamento da rota da EFMM – eles preferiram sediá-la em Porto Velho em vez de Santo Antônio, assolada pela malária. No ano seguinte, por ordem de Farquhar, foi iniciada a construção de Porto Velho, abrindo-se ruas e inclusive uma larga avenida na cidade que ele anteviu, mas nunca visitou..."

"No ano seguinte", é claro, trata-se de 1908.

Parabéns ao amigo Euro pelo presente recebido e vida longa ao nosso Doutor Bengala.

Fonte - Antônio Cândido da Silva
Membro da Academia de Letras de Rondônia
Membro da União Brasileira de Escritores – UBE – RO. 
CONTATO:
[email protected]

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