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Evento

Começa o Círio de Nazaré, apoteose cristã na Amazônia


 
Arcebispo diz: “A generosidade da renúncia aos bens é uma lição difícil, mas deve estar presente na vida das pessoas”. Resultado do concurso de embarcações sai em 15 dias. 


LUCIANE FIÚZA e
ISRAEL PEGADO (*)
 

BELÉM, PA – A mais reverenciada de todas as Marias está representada na pequena imagem encontrada pelo caboclo Plácido José de Sousa, em 1700. A Virgem de Nazaré é pequena, mas tem uma importância vital para o povo paraense que, antes do sol raiar neste domingo já estava nas ruas de Belém para participar do Círio de número 217, a principal das 11 romarias em homenagem à Santa. Às 5 horas em ponto, iniciou a missa celebrada pelo arcebispo emérito de Belém, Dom Vicente Zico, no palco montado em frente à Catedral Metropolitana, na Praça Frei Caetano Brandão, bairro da Cidade Velha. 

Exatamente às 6h40 a berlinda partiu da Catedral rumo à Basílica Santuário de Nazaré, igrejas que, este ano, são um motivo a mais de alegria para o paraense, com as comemorações dos 100 anos de lançamento da pedra fundamental da Basílica e a reabertura da Catedral, depois de mais de três anos fechada. Totalmente restaurada pelo governo do Estado e entregue em setembro, a Sé abriu as portas para os fiéis e voltou a acolher a Santa. A missa do Círio permaneceu campal, para que um maior número de pessoas pudesse participar. 

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 Início da procissão do Círio 2009, passando pela Praça do Relógio. Tema deste ano: "Em Maria, a palavra se fez carne" /LUCIVALDO SENA

No manto, 
as cores do açaí 

A referência ao tema do Círio 2009, "Em Maria, a palavra se fez carne", marcou o início da missa, aberta pelo monsenhor Raimundo Possidônio, administrador arquidiocesano de Belém, e que contou com a presença de Dom Orani João Tempesta, ex-arcebispo de Belém e atual arcebispo do Rio de Janeiro, além de grande parte do clero local, arcebispos e padres de outros Estados. Os religiosos entraram pela frente do palco ao som da música dos 42 integrantes da Escola Cantorum, da arquidiocese, que convidou cinco músicos, entre eles o pianista Paulo José Campos de Melo. 

"É fantástico participar de uma das maiores manifestações religiosas do mundo. Somos meros panos de fundo para a grande estrela, que é Nossa Senhora", destacou o pianista, explicando que do repertório constavam músicas religiosas e populares. No cântico de entrada, saudações à Rainha da Amazônia: "O povo canta: Senhora de Nazaré. Tu és rainha e tens no manto as cores do açaí...". 

“Encanto para os olhos, fervor para o coração” 

"Chegamos, afinal, a essa manhã, que costumamos chamar propriamente de Festa de Nossa Senhora de Nazaré, cheia de encantos para os olhos e motivo de fervor no coração", destacou Dom Vicente Zico, durante o evangelho. Ele afirmou que o Círio, em todo o seu esplendor, pode deixar faltar algo, se o cristão não souber renunciar. Lembrando uma passagem bíblica, o arcebispo frisou que "a generosidade da renúncia aos bens" é uma das lições mais difíceis, mas deve estar presente na vida das pessoas. 

Mais de 400 embarcações 
nas águas da Baía de Guajará 

BELÉM – Responsável pela criação da romaria fluvial na programação do Círio de Nazaré, em oito de outubro de 1986, a Companhia Paraense de Turismo (Paratur) promoveu, na manhã deste sábado a 24ª edição do Concurso de Ornamentação de Embarcações da Romaria Fluvial. A procissão, iniciada em Icoaraci, encerrou com a chegada da corveta da Marinha do Brasil, que conduziu a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, na escadinha do cais do porto, por volta das 11h15. 

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Embarcações da romaria fluvial aproximam-se da cidade, após um trajeto de duas horas pela baía do Guajará, partindo de Icoaraci. Mais de 400 embarcações participaram /TÂMARA SARÉ

Munidos de binóculos e planilha para pontuações, o corpo de cinco jurados aferiu notas de zero a 10 às mais de 400 embarcações que marcaram presença no chamado Círio das Águas. No trajeto de 10 milhas náuticas ao longo da Baía do Guajará, que corresponde a aproximadamente 18 quilômetros, as embarcações concorrentes foram avaliadas em duas categorias: "Embarcações Regionais", que inclui cascos de madeira ou de aço com dois ou até três conveses; e em "Outros Tipos de Embarcações", composta por ferry boats, balsas (exceto as petroleiras), empurradores, iates, lanchas, veleiros, pesqueiro, entre outras. Os jurados analisaram quesitos como Ornamentação Religiosa, Postura da Tripulação, Obediência a Horário e Percurso do Trajeto. 

Resultado em 15 dias 

De acordo com a gerente geral de Marketing da Paratur, Jacqueline Alves, o resultado das embarcações vencedoras deve sair em aproximadamente 15 dias. "Os jurados se posicionam estrategicamente no barco da Paratur, para avaliar a ornamentação das embarcações presentes a Romaria", afirma. Ainda segundo ela, o troféu será feito por artista plástico local. Serão premiados os três primeiros colocados em cada categoria. 

A artista plástica, Darcilene Costa, falou sobre suas impressões a respeito da Romaria. "Vejo cada vez mais o nosso povo, não só do Pará, mas também do Brasil inteiro, evangelizado pelas águas, no caminho da fé. Enquanto paraense, eu tenho muito orgulho desse patrimônio que é o Círio de Nazaré", comenta. Jurada do Concurso de Embarcações, ela revelou os aspectos mais importantes da ornamentação: "Primeiro temos que focar no tema, que é o Círio. Uma festa colorida que valoriza nossa identidade, a plástica regional, o resgate dessa cultura. Avaliamos a concepção do barco como um todo, a harmonia, o equilíbrio, as cores, a própria leveza estética", garante. 

Dinheiro será doado 

A Paratur doará o dinheiro arrecadado com a contribuição dos passageiros da sua embarcação na Romaria Fluvial, para uma entidade sem fins lucrativos. Em 2009, o montante reunido será repassado para o Centro Nova Vida, que realiza trabalho de assistência e tratamento para dependentes químicos. "Os participantes da embarcação da Paratur contribuem financeiramente para o evento. E este valor arrecadado será totalmente revertido para o Centro", explica Jacqueline Alves. 

Dom Vicente também saudou e agradeceu a todos os meios de comunicação da cidade e de outros pontos do Brasil, pela cobertura jornalística que, segundo ele, permite que tantas pessoas acompanhem o Círio de Nazaré. 

Apesar da grande cobertura, muita gente não abre mão de participar da missa e ainda chegar cedo para conseguir um bom lugar, como a cozinheira Maria de Deus Souza, 59 anos, que mora no município de Ananindeua e chegou antes da meia noite à praça. "Vale o sacrifício! Ela é tudo na minha vida, não sou nada sem ela, que protege meus filhos e toda a minha família. Sou uma devota de coração e sempre fui atendida", comentou, com a concordância do filho, Cléber. 

“Maria, mãe de todas as mães” 

"Maria é a mãe de Jesus, é a nossa mãe, é a maior de todas as mães", frisou a aposentada Ana Gonçalves, 69 anos, que também participou da cerimônia de descida da imagem original do altar da Basílica Santuário para a Trasladação, no sábado (10). 

Para proteger a imagem e os fiéis, o governo de Estado preparou um grande esquema de segurança, que conta com o apoio da Guarda Municipal e da Força Nacional, além do reforço dos 1.300 homens da Guarda de Nazaré e dos 40 Guardas de Nossa Senhora de Santa Maria de Belém, que ficam distribuídos em todo o percurso. Participar como voluntário da Guarda de Nazaré, há 4 anos, tem um significado especial na vida de João Batista de Oliveira, 52 anos, para quem a participação é uma forma de agradecer as graças alcançadas. 

"Às vezes dá aquele cansaço, mas no mesmo instante a gente adquire forças pela fé e segue em frente", falou Oliveira, que fica no ponto chamado núcleo, onde a berlinda é atrelada à corda dos romeiros.
 

Religiosidade 

Quando a berlinda começa a se deslocar as ruas de Belém vão se transformando em rios de devotos, reverenciando a mãe do Filho de Deus. As demonstrações de fé na corda, montada em frente ao Mercado do Peixe, no Ver-o-Peso, são tocantes. No local, os promesseiros aguardam desde a madrugada para conseguir um lugar na corda. Ao sair da Catedral, a berlinda contornou o Mercado do Ver-o-Peso e foi atrelada à corda às margens da Baía do Guajará, no início do Boulevard Castilhos França. 

A devoção dos promesseiros da corda é traduzida em imagens impressionantes de sacrifício. Embalados por orações, palmas, queima de fogos e tradicionais hinos de louvor à Nossa Senhora de Nazaré, os fiéis percorrem o trajeto que segue pelas avenidas Presidente Vargas e Nazaré até a Basílica Santuário. 

"O Círio é a devoção dos fiéis, a força dos seus símbolos e a energia dos que seguem a romaria. Mas é também manifestação de cultura e das tradições do nosso povo. É compreensão às diferenças e, acima de tudo, uma manifestação de paz e de amor", disse a governadora Ana Júlia Carepa, em mensagem veiculada na mídia, destacando a alegria que sente ao entregar a Catedral restaurada ao povo do Pára e aos visitantes. 

A governadora não participou da missa de abertura da procissão do Círio, mas esteve presente na romaria fluvial, na descida da imagem do Glória e na Trasladação.

Noite iluminada na Transladação 

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Homenagem do Colégio Marista à imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré durante a Trasladação, que é a segunda maior romaria do Círio. Sai do Colégio Gentil em direção à Catedral da Sé, no bairro Cidade Velha /TÂMARA SARÉ

BELÉM – A Trasladação partiu do Colégio Gentil Bittencourt às 17h30 de sábado, mais cedo que o horário tradicional, 18h. A medida foi tomada pela Diretoria do Círio para que a procissão chegasse mais cedo ao destino, a Catedral Metropolitana de Belém. No ano passado, a romaria chegou à Sé a 0h40. 

O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, participou da romaria, a qual chama de "Círio luminoso". Dom Orani, que é paulista e foi arcebispo Metropolitano de Belém, disse que se considera paraense pelos anos em que atuou no Estado. "Para mim é uma alegria muito grande poder estar aqui, revivendo o Círio", declarou. 

Coroa gigante 

Ao longo da Avenida Nazaré, várias homenagens foram prestadas. Uma delas foi a do Colégio Marista de Belém, onde foi montada uma coroa gigante, reproduzindo o adorno da imagem de Nossa Senhora. Fogos de artifício coloriram o céu durante a passagem da Santa. Na sede social do Clube do Remo, a cantora Cleide Moraes interpretou canções religiosas. A cantora Fafá de Belém cantou o hino oficial da festividade, "Vós sois o Lírio Mimoso", na sacada de um hotel. Em outros órgãos públicos e privados, corais se apresentaram. 

A Trasladação é conhecida pela forte participação de jovens, que buscam agradecer pela aprovação no vestibular, e idosos, já que o clima da procissão, realizada à noite, é mais ameno. Uma delas foi a aposentada Mirandir Monteiro, 76 anos. Ao lado de filhos e netos, ela contou que acompanha a romaria noturna há 20 anos. "Todos os dias, a Santa me concede graças. Me deu filhos maravilhosos e amigos, e tudo o que recebo é através dela", afirmou. 

(*) Da Agência Pará. Colaboraram: Jussara Kishi e Fabíola Batista. Veja o site. 

Fonte: Montezuma Cruz - A Agência Amazônia  é parceira do Gentedeopinião

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