Quinta-feira, 3 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Educação

No Dia do Braile, deficientes visuais destacam desafios da leitura


 
Marieta Cazarré - Repórter da Agência Brasil

Gente de Opinião

Aimar Gomes conta que foi alfabetizado e
aprendeu ler em braile na Funadação Dorina Arquivo pessoal

O mineiro Aimar de Souza Gomes, de 46 anos, é um apaixonado por livros, principalmente por romances e biografias musicais e políticas. Nascido em Conselheiro Lafaiete (MG), aos sete anos de idade, mudou-se para Belo Horizonte, onde aprendeu a ler em braile. Aimar, que é cego de nascença, conta que seus pais eram primos em 1º grau e que, talvez por isso, três dos dez filhos do casal tenham nascido sem enxergar.

Hoje (8) é comemorado o Dia Nacional do Braile, o sistema de leitura em alto-relevo para deficientes visuais, inventado pelo francês Louis Braille, em 1827. De acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia no Brasil mais de 32 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual, sendo 6,5 milhões com deficiências severas.

A data, no Brasil, remete ao aniversário de nascimento de José Álvares de Azevedo – o Patrono da Educação dos Cegos no Brasil. Azevedo foi um missionário que, após estudar braile na França, trouxe o sistema ao Brasil e ajudou a fundar, no Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos – primeiro centro de estudos para deficientes visuais no país.

O braile permite que pessoas com cegueira ou baixa visão possam ler. O sistema consiste em um alfabeto de símbolos criados a partir de pontos em alto-relevo. Cada letra, número, pontuação ou sinal é feito a partir de uma combinação de seis diferentes pontos.

No Brasil, nem todos os deficientes visuais têm, como Aimar, a oportunidade de estudar o braile. Muitos moram longe de municípios com centros especiais de ensino e acabam sem aprender a ler em braile e sem acesso a livros.

Em Brasília, o Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais atende aproximadamente 350 alunos por mês e é o único do Distrito Federal e Entorno. Segundo Aírton Dutra, diretor do centro, o local recebe muitos estudantes de municípios de Minas Gerais, Goiás e Bahia.

Gente de Opinião

O braile permite que pessoas com cegueira ou baixa visão possam ler. O sistema consiste em um alfabeto de símbolos criados a partir de pontos em alto-relevo  Tomaz Silva/Agência Brasil

Mercado de trabalho

Para Milene Cristina Orifisi, deficiente visual de 39 anos, a falta de acesso à educação e a baixa escolaridade tornam mais difíceis a entrada no mercado de trabalho. Ela trabalha como gestora de redes sociais na Associação de Deficientes Visuais e Amigos (Adeva), em São Paulo, e afirma que, na maioria das vezes, há um enorme desconhecimento em relação à realidade dos deficientes.

“As empresas, muitas vezes, colocam empecilhos. Acham que o deficiente visual vai ter dificuldade de adaptação, não vai dar conta do trabalho ou não vai conseguir usar o banheiro. Há uma má vontade até na hora de baixar um software para que o deficiente possa trabalhar. Além disso, as áreas de recursos humanos normalmente oferecem [aos deficientes] vagas de subemprego”, desabafa Milene.

A Adeva, uma Organização Não Governamental (ONG) fundada em 1978, trabalha capacitando deficientes visuais para o mercado de trabalho. Além de cursos de braile, são oferecidas aulas de digitação, informática e orientação e mobilidade. Segundo Milene, as aulas de orientação e mobilidade são prioritárias para a autonomia e deslocamento dessas pessoas. “Para que eles possam ir sozinhos para o trabalho, que não tenham que depender de ninguém para se locomover.”

Outra instituição que também busca capacitar pessoas com deficiência visual é a Fundação Dorina Nowill para Cegos, uma organização sem fins lucrativos e de caráter filantrópico que, há 70 anos, se dedica à inclusão social por meio da educação especial, reabilitação e empregabilidade. A ONG, com sede em São Paulo, atua em todo o país e oferece o curso de avaliação olfativa, a fim de preparar pessoas cegas e com baixa visão para trabalharem com avaliação de fragrâncias, na indústria de perfumes e cosméticos.

Dorinateca

Uma das iniciativas importantes da Fundação Dorina Nowill para Cegos foi o lançamento, no ano passado, da Dorinateca, uma biblioteca digital que permite acesso a um amplo acervo de livros. Para ter acesso aos títulos, é necessário que os deficientes visuais, ou instituições ligadas ao tema, se cadastrem no site www.dorinateca.org.br.

Susi Maluf, gerente de Serviços de Apoio à Inclusão da Fundação, explica que antes da biblioteca digital, a fundação enviava, para os cadastrados, livros impressos em braile ou CD's de áudio. “Agora, com a Dorinateca, os usuários podem acessar online. Todo o acervo fica disponível para download”. De acordo com a fundação, já são mais de mil usuários e a biblioteca tem mais de 4 mil títulos.

“Ouvir, em áudio, o livro Noites Tropicais, de Nelson Motta, foi muito prazeroso”, disse o mineiro Aimar. Ele, que há quase 40 anos frequenta a Fundação Dorina, afirma que o trabalho da instituição foi fundamental para o seu crescimento.

“Foi com o material deles que me alfabetizei, que estudei. A Dorinateca é uma ferramenta que todo deficiente visual deve conhecer. Ninguém mais pode dizer que não tem acesso a livros”, disse Aimar, que é o campeão de downloads de livros no site da biblioteca digital.

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 3 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Sebrae em Rondônia e FAVO mobilizam jovens em Vilhena para criar soluções contra o bullying nas escolas

Sebrae em Rondônia e FAVO mobilizam jovens em Vilhena para criar soluções contra o bullying nas escolas

O Sebrae em Rondônia está realizando, em Vilhena, um Bootcamp especial direcionado para 225 alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental da FAVO Es

Dia de Campo das Agrárias movimenta Fazenda Escola da FIMCA com foco em sustentabilidade e integração entre cursos

Dia de Campo das Agrárias movimenta Fazenda Escola da FIMCA com foco em sustentabilidade e integração entre cursos

No último sábado, 28 de junho, o Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA promoveu mais uma edição do Dia de Campo das Agrárias, evento que ac

Governador Marcos Rocha entrega escola revitalizada e reforça compromisso com a educação pública em Rondônia

Governador Marcos Rocha entrega escola revitalizada e reforça compromisso com a educação pública em Rondônia

Porto Velho viveu um momento de emoção e reconhecimento na quinta-feira (26), com a entrega oficial da revitalização completa do Instituto Estadual

Escola do Legislativo divulga programação de cursos durante a 8ª Expobur em Buritis

Escola do Legislativo divulga programação de cursos durante a 8ª Expobur em Buritis

A Escola do Legislativo (Elero) estará presente na 8ª edição da Exposição Agropecuária de Buritis (Expobur), que acontece entre os dias 2 e 6 de jul

Gente de Opinião Quinta-feira, 3 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)