Quarta-feira, 29 de julho de 2015 - 06h17
Guido Bilharinho
A arte em geral e a poesia em particular (e especialmente) só se configuram por meio de construção de obra que, pautada única essencialmente pelo objetivo ou finalidade estética, ainda seja, em não menor grau, fundamentada em trabalho, rigor, contenção, elaboração e pesquisa da linguagem, quando não em experimentos e criação de novas linguagens. Não se compadecem, pois, com subjetivismo, inspiração, catarse, voluntarismo, amadorismo e facilitário generalizados e imperantes.
São (e devem ser) sempre preocupação visceral e ocupação constante do artista.
A obra de Carlos Roberto Lacerda (1947, Pirajuba/Triângulo, distante 96 km. de Uberaba), resulta da conjugação desses requisitos com a elisão, consciente, proposital, dos fatores negativos apontados, inserindo-se, em consequência, no estrito e restrito círculo da arte poética. É poesia. O que é raro, hoje em dia e em qualquer época, independentemente do conceito, avaliação e repercussão social da arte e da poesia.
A obra poética de Lacerda vem sendo construída paulatinamente desde os meados da década de 1960, amadurecendo e se aperfeiçoando no decorrer das décadas de 1970 e 1980, sob o crivo do rigor, da depuração e do aprimoramento estéticos. Desde os poemas iniciais publicados no Suplemento Cultural do Correio Católico, editado em Uberaba, intermitentemente, de julho/68 a julho/72, passando pelos primeiros números da revista Convergência e pelos já vinte números da revista Dimensão e, concomitantemente, corporificando-se na plaqueta A Paisagem do Morto (1973) e no livro Astérion (1983).
Agora, nos albores da década de 90 e em continuidade, surge O Azul Menos o Nome (1991), no qual todas as virtualidades e preocupações estéticas que sempre marcaram a trajetória de sua obra poética não só estão presentes, como, em muitos casos, para não dizer em todos, revelam maior grau de depuramento, contenção verbal e rigor elaborativo.
Avesso ao discursivo, à desossada linearidade e ao aguado lirismo tradicionais, esse livro assenta-se sobre a palavra, matéria da poesia e do poeta, sem a subordinar a ideias, conceitos, sentimentos e emoções. Mesmo podendo contar com um ou vários desses elementos, sua utilização, além de acidental ou acessória, é trabalhada, burilada e filtrada pela inteligência, sensibilidade, consciência e informação estéticas.
Entre as duas grandes vertentes artísticas existentes, a barroca (exuberante, expansiva, criativa, na linha, no Brasil, por exemplo, de José de Alencar, Guimarães Rosa, Gláuber Rocha) e a clássica (objetiva, contida, rigorosa, na linhagem, no país, por exemplo, de Machado de Assis, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, Nélson Pereira dos Santos), essa obra insere-se, sem dúvida, na segunda, constituindo um de seus pontos altos. Que nela, ou em qualquer outra obra de arte, não se procurem mensagens, cifradas ou não. É que o artista não é estafeta, mas, produtor de beleza. E isso, exatamente, é o que existe em O Azul Menos o Nome: a beleza produzida pelo artista.
(in O Azul Menos o Nome, 1991, prefácio,
inserido no livro Literatura e Estudos
Históricos em Uberaba, no prelo)
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Adendo: Carlos Roberto Lacerda posteriormente transferiu residência para Goiânia, onde fez mestrado em Letras e publicou o também notável Antifaces. Juntamente com os uberabenses Jorge Alberto Nabut e Maria Aparecida Vilhena dos Reis figura entre os maiores poetas brasileiros do século XX.
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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, história do Brasil e regional.
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