Segunda-feira, 1 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Cultura

Escritor indígena mostra cultura yanomami na Flip


Flavia Villela - Enviada especial

Na primeira mesa que a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) dedicou aos índios e à Amazônia, a escrita deu lugar à imagem e à narrativa oral. A fotógrafa suíça Claudia Andujar, que fez um trabalho de saúde preventiva em terras yanomamis na década de 1970, em Roraima, e o xamã indígena Davi Kopenawa, pajé e presidente da Hutukara Associação Yanomami apresentaram ontem (1º) um pouco da cultura da etnia por meio de fotos e relatos.

Kopenawa, que está ameaçado de morte e foi avisado que não duraria até o fim deste ano, criticou a destruição causada pelo homem da cidade, as invasões de terras indígenas por parte de garimpeiros e agricultores, que segundo ele têm a conivência do governo.

Gente de Opinião

O xamã indígena Davi Kopenawa, pajé e presidente da Hutukara Associação Yanomami, participa de mesa que a Flip dedicada aos índios e à Amazônia Fernando Frazão/Agência Brasil

“É importante que vocês nos ajudem a nos defender, a preservar a natureza, as águas”, pediu o indígena à plateia. “Agora é a hora de vocês cobrarem o erro do governo brasileiro, para não fazer mais, pois vocês são muitos e nós indígenas somos poucos”, disse.

Os pais do Kopenawa morreram de doenças levadas à aldeia por não índios quando ele ainda era menino. Ele aprendeu a língua portuguesa lendo a Bíblia, por imposição dos missionários norte-americanos que foram catequizar índios na Amazônia, na fronteira com a Venezuela. “O missionário me deu o nome Davi, mas meu nome é Kopenawa, que significa marimbondo. Você conhece o marimbondo. Quando ele está quieto não pode mexer nele”, depois de explicar que os nomes yanomamis caracterizam a personalidade de cada indígena.

Kopenawa lançou o livro A Queda do Céu, que escreveu em coautoria com o antropólogo francês Bruce Albert, com histórias do povo yanomami. “O povo yanomami tem uma história muito rica e esse livro mostra que sabemos contar nossa história”.

A fotógrafa Claudia Andujar projetou o povo yanomami mundialmente ao fotografar cada um dos índios da região, que identificou com números com o intuito de ajudar a combater o avanço de epidemias que a abertura de uma estrada causou durante o regime militar, na década de 1970. Ela transformou o trabalho em livro que intitulou de Marcados, nome escolhido para a mesa de debate desta sexta-feira. Mais de quarenta anos depois o trabalho, a fotógrafa disse que ainda é muito ligada ao povo yanomami. Ela contou que, após perder quase toda a família, morta pelos nazistas, saiu pelo mundo em busca de sua identidade, que encontrou no Brasil, entre os índios.

“Tinha 13 anos quando vi a entrada dos nazistas e a morte de todos os meus parentes, na Transilvânia, com exceção da minha mãe, que não era judia. Isso deixou um trauma muito grande na minha vida. Todas as pessoas de que gostava morreram em dois meses, então desde cedo busquei uma identidade".

Depois da tragédia, Claudia morou na Suíça e nos Estados Unidos antes de se mudar para o Brasil. "Fui fazer uma matéria a trabalho na Amazônia e foi meu primeiro contato com os yanomamis. Abandonei tudo e fui viver entre os índios e me encontrei lá, me senti em casa. Aprendi que tudo é vivo. Entre os yanomamis não existe isso de um querer dominar o outro”, completou.

Gente de Opinião

A fotógrafa suíça Claudia Andujar participa de mesa que a Flip dedicada aos índios e à Amazônia Fernando Frazão/Agência Brasil

Gente de OpiniãoSegunda-feira, 1 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Cultura em Movimento: III Sarau Wanka agita Vilhena neste sábado

Cultura em Movimento: III Sarau Wanka agita Vilhena neste sábado

O Teatro Wankabuki, espaço cultural localizado em Vilhena (RO), a cerca de 700 km da capital Porto Velho, se prepara para receber neste sábado, 29 d

Escritora Rondoniense  lança obra no “Encontro Inclusivo de Dança Contemporânea” em Brasília

Escritora Rondoniense lança obra no “Encontro Inclusivo de Dança Contemporânea” em Brasília

O auditório da Sociedade Bíblica do Brasil recebeu, no dia 24 de novembro de 2025, o Encontro Inclusivo de Dança Contemporânea, evento coordenado pe

Cunhãs lançam “Respirar”, segundo álbum, em espetáculo gratuito no Teatro Guaporé

Cunhãs lançam “Respirar”, segundo álbum, em espetáculo gratuito no Teatro Guaporé

O som que atravessa o rio Madeira ganha novo fôlego. O grupo Cunhãs, formado por jovens moradoras da comunidade Gleba Maravilha, no meio da floresta

Minidocumentário que homenageia pioneira de Pimenteiras do Oeste é disponibilizado na internet e amplia acesso da comunidade à sua história

Minidocumentário que homenageia pioneira de Pimenteiras do Oeste é disponibilizado na internet e amplia acesso da comunidade à sua história

O minidocumentário “Raízes de Pimenteiras: A Jornada de Alice Paes Serrath”, que resgata a trajetória de uma das pioneiras mais importantes de Pimen

Gente de Opinião Segunda-feira, 1 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)