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Yêdda Pinheiro Borzacov

RONDON EM RONDÔNIA


*Yêdda Pinheiro Borzacov

A data de 5 de maio assinala os 150 anos de nascimento de Cândido Mariano da Silva Rondon, o grande desbravador de terras isoladas, homem de formação militar ligada à tradição positivista e interlocutor mais sensível e compreensivo do espírito mágico e mítico de nossas comunidades indígenas — primeira voz elevada em defesa dos povos da floresta.

A ação de Rondon e seus comandados tem grande visibilidade no cenário nacional, abrangendo o espaço geográfico constituído, hoje, pelo estado de Rondônia.

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Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon / Foto: Google Imagens

Sob a égide da História que é eterna, desfilam fatos e feitos que marcaram o seu último trabalho — a construção das linhas telegráficas ligando Mato Grosso ao Amazonas (1907/1915), fase em que foram edificadas as estações telegráficas, propiciando o surgimento de vilas ao seu redor, hoje, municípios do eixo da BR-364: Ariquemes, Jaru, Ji-Paraná, Pimenta Bueno e Vilhena.

A Comissão Rondon, criada pelo presidente da República Afonso Pena, foi montada com eficiente contingente e sólida convicção da necessidade de se aproveitar a oportunidade e promover estudos científicos abalizados sobre os sertões que ia percorrer.

Assim, a Comissão penetrou em 1910, no território dos Nhambikuara, confraternizando com esses índios e, em seguida, entrou em contato com as tribos de Ji-Paraná e do Madeira.

Rondon realizou ainda outras expedições, uma delas se caracterizou pelo seu grande valor científico, a Roosevelt-Rondon, da qual participou Theodore Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos. A expedição se dividiu em três grupos; o segundo, do qual participaram Roosevelt e Rondon, saindo Estação Telegráfica José Bonifácio e dali alcançando o rio da Dúvida, posteriormente passando a chamar-se Roosevelt, descendo por ele até o rio Madeira e daí para o Amazonas.

De 1915 a 1919, os trabalhos da Comissão prosseguem, seja na manutenção das linhas telegráficas, seja em expedições e levantamentos geográficos com a finalidade de elaborar a Carta de Mato Grosso. Destacamos desses trabalhos os relatórios publicados: Levantamento dos rios Anari e Machadinho; Exploração dos rios Cautário, Guaporé e Mamoré; Expedição aos rios Maici e Guaporé-Vilhena.

Em homenagem a Rondon, em 1956, essas terras do oeste brasileiro foram denominadas de Rondônia. A ideia do nome Rondônia foi do notável etnólogo Roquette Pinto, que em 1912 participou de uma viagem de pesquisas e estudos à região da serra dos Parecis, ocasião em que a Comissão — seção Cuiabá/Santo Antônio do rio Madeira, realizava os trabalhos de construção da linha telegráfica. Impressionado pela envergadura do trabalho, Roquette Pinto, em 1915, durante a realização do Ciclo de Conferência sobre a Comissão Rondon, no Museu Nacional, propôs que a área geográfica compreendida entre os rios Juruena e Madeira, cortada pela linha telegráfica, fosse denominada “Terras de Rondônia”. E em seu livro “Rondônia”, lançado em 1916, registra a importância geológica, geográfica, botânica, zoológica, antropológica e etnológica da Comissão Rondon para esta área e a sua utilidade no tocante à vigilância das nossas fronteiras. E, ainda em 1916, Roquette Pinto, em artigo publicado na Revista do Brasil, defende a proposta apresentada, registra as principais características da obra de Rondon, para esta extensa área de terra que o sertanista “descobriu”, palmilhou e começou a civilizar, reiterando que fosse denominada de Rondônia.

Em 1940, quando o presidente Getúlio Vargas, inspirado nos supremos interesses da nação, sem hesitações, frente a frente com a realidade brasileira de sua época, decidiu criar os Territórios Federais, dentre eles, o Território Federal do Guaporé, o diretor da E.F. Madeira-Mamoré, Aluízio Pinheiro Ferreira, escreveu ao presidente Vargas informando que a área que se estendia do sul do Amazonas aos confins do rio Guaporé, já era denominada geograficamente de Rondônia e, se bem que o território de fronteira a ser criado não integrasse todos os quadrantes dessa faixa, sugeriu a consagração política da alcunha oficializada pela convenção geográfica, dando à unidade federativa por nascer o nome de Território Federal de Rondônia.

Questões políticas que envolviam a Comissão com o governo Vargas, determinaram que o legendário Rondon se opusesse a sugestão de Aluízio Pinheiro Ferreira e, em telegrama agradece a ideia e sugere que o novo território recebesse o nome de Território Federal do Oeste Brasileiro.

Aluízio Ferreira não acatando a recusa, continuou na luta para obter o apoio necessário para o denotativo Rondônia, entretanto, o anteprojeto elaborado, em 1938, pelo Conselho de Segurança Nacional, denominando o Território com o nome Guaporé foi mantido. Em 1956, o deputado federal amazonense, Áureo Bringell de Mello, nascido no hospital da Candelária, em Porto Velho, apresentou o projeto de Lei Complementar nº 2.521, dispondo sobre a mudança da designação política do Território Federal do Guaporé, para Rondônia, foi aprovado pelo Congresso Nacional, sancionado pelo presidente da República, Juscelino Kubitschek, transformada na Lei Complementar nº 2.731.

Em 1965, ano em que o Brasil comemorava o centenário de nascimento de Rondon e, Rondônia, à época tendo como governador o tenente-coronel Cunha e Menezes, não ficou omissa às festividades. O governador instituiu por meio do decreto nº 434 de 26 de março de 1965, o dia 5 de maio, como o dia de Rondônia, estabelecendo em seu art. 1º que a data deveria ser solenemente comemorada em toda a Rondônia. Estendeu o governador Cunha e Menezes alusivas ao centenário de Rondon, criando pelo decreto nº 435 de 14 de abril de 1965, a Medalha Mérito Marechal Rondon, destinada a premiar personagens que prestaram serviços relevantes à Rondônia. Com a criação do estado, o governador Jorge Teixeira revalida o ato de 1965, instituindo por meio do decreto-lei nº 30 de 5 de novembro de 1982, a distinção honorífica “Ordem do Mérito Marechal Rondon”.

O Exército – 17ª Brigada de Infantaria de Selva “Príncipe da Beira”, desempenhando um papel de alta vitalidade cívica, em função dos sentimentos nacionais, promoveu concurso de artes visuais com tema referente à obra de Rondon e, com emendas parlamentares, implantará em parceria com a UNIR, o Memorial Rondon que esmiuçará a grande obra que se tornou pública, visando a análise e mensuração da sua influência, e se destacará como um marco histórico-cultural e de potencialidade turística que será instalado no sítio histórico de Santo Antônio.

A vida cultural ganha com essa iniciativa do Exército, novos alentos, ou os readquire, por uma série de atos afirmativos culturais da instituição militar que recentemente recuperou o prédio do Memorial Jorge Teixeira que se encontra aberto à visitação pública no horário das 8h às 13h.

* Yêdda Pinheiro Borzacov, professora, autora de oito livros e dezesseis coautorias. Membro da Academia de Letras de Rondônia, do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia e vice-presidente do Memorial Jorge Teixeira.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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