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Yêdda Pinheiro Borzacov

Abnael Machado saúda a nova colaboradora do Gentedeopinião, Yêda Bozacov


Abnael Machado saúda a nova colaboradora do Gentedeopinião, Yêda Bozacov - Gente de Opinião

A página eletrônica do Gentedeopinião se enriqueceu mais, com a participação da acadêmica professora YÊDA BORZACOV, escritora, historiógrafa e conferencista da mais elevada competência intelectual.  Sua vasta produção literária de conteúdo amazônico rondoniense, emerge do seu amor à terra, à flora, à fauna ao povo e aos protagonistas da histórica conquista deste espaço geográfico, exposta sob forma de narrativas de  máximas nitidez e máximo poder de iluminação, relance da experiência vivida, dos acervos recolhidos frutos de exaustivas pesquisas, dessa nativa de Guajará-Mirim.

A sua vocação de escritora compromissada em difundir conhecimentos sobre Rondônia, eclode de sua semente atávica, amalgama indígena, grega e portuguesa, e do ambiente familiar rodeada de livros e de tertúlias literárias nas quais o seu pai, o acadêmico Ary Tupinambá Pena Pinheiro era o líder, o astro luminoso, em volta do qual gravitavam os demais participantes.

Portanto, a sua colaboração e seu apoio a esse segmento da mídia, contribuirão para a expansão cultural da comunidade rondoniense.

Abnael Machado de Lima


RONDÔNIA: PAISAGEM ORIGINAL
Yêdda Pinheiro Borzacov

 

“NO PRINCÍPIO CRIOU DEUS OS CÉUS E A TERRA" - GÊNESIS 1.1

A centralização da frase está no substantivo "Deus" e no verbo "criou". Aqui, como em alguns outros lugares, este verbo, texto hebraico, é usado unicamente para explicar o poder criador de Deus.

O sentido é de visão geral, determinando seu poderio e sua incontestável soberania.

E eu me pergunto como seria este universo no seu princípio? A própria Bíblia registra o que Deus pensava de sua própria criação: "E viu Deus tudo quanto fizera".

Onde está este Universo?

Apesar de Rondônia, nos meses de julho a setembro, ser um verdadeiro mosaico de fogos ou queimadas, de norte a sul, de leste a oeste, devastador, semeado pela incúria do homem, em detrimento de nosso patrimônio natural, fogo indesejável, destruidor, causador de desgraças e autêntico agente da contracultura, podemos, felizmente, ainda ver alguns panoramas desta primeira criação. Não apenas nossos olhos se deleitam, mas muitas vezes nossos interesses também. O original é assustadoramente belo.

Na língua grega, a palavra que corresponde ao "muito bom" do hebraico, é "kalós". Ela descreve aquilo que é belo, útil, honroso, que não apenas satisfaz a consciência mas deleita o coração e agrada aos olhos, que é prática, moralmente e esteticamente bom.

Esse "bom" de Deus é tão completo e de tão longo alcance, que não há, em português, uma só palavra que reúna, em si mesma, toda a sua correspondência.

Platão foi um grande filósofo grego e um artista nas suas definições. Uma de suas mais belas passagens encontra-se no Timeu. Ali ele fala que o "Criador quis fazer Seu universo terreno tão semelhante ao universo eterno quanto fosse possível. Mas, vincular a eternidade com aquilo que foi criado era impossível. Por isso, Ele fez do tempo uma imagem movimentada da eternidade". Timeu 37d.

Por estas razões todas, quando comecei a viajar pelas áreas bem aprofundadas das florestas de nossa Rondônia, me senti quase dentro do "gênesis". O espetáculo de uma natureza praticamente sem mudanças humanas, ainda existe em nosso planeta, mas de forma cada vez mais escassa. A paisagem primitiva de Rondônia me encanta. E creio que Rondônia ainda traz, de certa forma, a paisagem do Criador!

Não teria Ele criado a Amazônia do jeito que ela ainda é, nos pontos respeitados pelo homem e, apesar de todas as transformações ocasionadas pela própria natureza, para nos mostrar Sua Capacidade Criadora? E, dentro da Amazônia, não está a nossa Rondônia? Não traz ela também estas características primitivas?

A vegetação e as águas foram dadas, à Rondônia, com toda a prodigalidade da mãe-natureza. Rios, igarapés, lagos, lagoas, paranás e furos formam uma vastíssima e rica rede fluvial, representada pelas três grandes bacias: a do Madeira, a do Guaporé-Mamoré e a do Ji-Paraná.

Relatarei apenas algumas cenas que meus olhos contemplaram, que minha memória registrou e o meu coração guardou:

1. As viagens de litorina que fazia pela Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, entre Porto Velho e Guajará-Mirim. A ferrovia entrava pela floresta levando e trazendo recursos, movimento, vida. Em meio aquele silêncio podia-se ouvir as rodas rangendo nos trilhos, sons dos pássaros e dos bichos, às vezes em bandos, às vezes solitários.

2. As visitas aos lagos, ilhas, navegando as águas caudalosas do Madeira e Guaporé, santuários ecológicos de inigualáveis belezas. Alguns pontos sempre deslumbram e seduzem quem os vê.

3. A Reserva Extrativista do Lago do Cuniã, localizada na margem esquerda do Madeira, são 104 mil hectares do paraíso, onde se encontram milhares de aves de todos os tamanhos e das mais diversas cores, encantando a todos com o arco-íris das suas penas e a musicalidade dos seus gorjeios. A alegria, paz e harmonia da comunidade, composta por 50 famílias que convivem em perfeito entrosamento com a natureza, encantam e deslumbram.

4. O Lago de Assunção, situado na margem esquerda do Madeira, no Seringal Assunção, hoje uma OSCIP - Organização Social Civil de Interesse Público. Centenas de borboletas voam quase tocando suas águas e por cima das copas das árvores, em seus voos amorosos, decorando, com o colorido de suas asas, as variadas cores de flores e folhas, que vão do verde escuro da folha ao laranja, ao ouro, ao roxo e ao vermelho das flores silvestres.

5. Os conjuntos paisagísticos de alto valor e beleza: Caverna Buraco da Fumaça, no rio Novo, e a cachoeira dos Três Esses, no rio Abunã, onde existem, escavadas nas rochas graníticas, espirais e diversas figuras rupestres.

6. A impressão que causa a harmonia do encontro dos rios Madeira, Machado e Preto, entre os sons e o silêncio da floresta, que se manifestam juntos ou intercalados, em perfeita ordem e cadência. A regência oculta é magistralmente obedecida.

7. A beleza da mata cortada pelo rio Barão do Melgaço, em Pimenta Bueno, com uma queda d'água e estreitamento do rio, formando um canal emparedado por duas paredes de pedras, originando o nome Apertado. Pode-se, ainda, apreciar as grutas. Notam-se flores exóticas, mas não abundantes, esgueirando-se, vencendo a sombra e buscando o sol. Pequenos pontos coloridos na densidade do verde.

Árvores frutíferas podem ser encontradas aqui e ali e o incômodo fica por conta dos insetos.

Centenas de borboletas coloridas nas beiras dos rios convivem com as pessoas que possuem ali seus tapiris, naturalmente, como flores esvoaçantes!

Os dias são invariavelmente quentes, embora a proximidade dos rios e da floresta equatorial.

São mais suportáveis ali do que na cidade. As noites começam quentes, mas as madrugadas são frescas. E a gente pode dormir "como os anjos" e recuperar as energias.

Os rios nunca me dão medo e ando por eles, em barco com motor de popa, com absoluta tranquilidade. Jamais consegui definir, com clareza, o que eles me transmitem quando os contemplo. É o mesmo sentimento de quando contemplo a floresta. Será saudade? Tristeza? Solidão?

Encantamento? Busca da minha própria origem? Perguntas silenciosas com respostas mais silenciosas ainda.

Tudo junto, talvez. Não sei. Sinto uma revoada interior total, onde se processam emoções íntimas, vigorosas, que ardem por entrar neste primitivismo misterioso, tão fora do meu alcance, mas tão substancialmente perto e nele.

Rondônia e eu temos mesmo muita coisa em comum.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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