Quarta-feira, 15 de abril de 2015 - 22h05
O Mapa Conceitual foi apresentado como uma das questões de prova, em Curso de Pedagogia da Terra (UFSCAR/SP), na disciplina de Filosofia da Educação, para cidadãos assentados e ligados a movimentos sociais de trabalhadores rurais.
Apesar da letra indizível, o texto é um convite à reflexão dos próprios integrantes dessa turma no tocante à função social que exercem e exercerão em seus núcleos e movimentos, após a conclusão do curso, quando deverão atuar como educadores de ensino fundamental para filhos(as) de outros assentados(as).
Pedagogia da Terra
Poder-se-ia dizer que a Pedagogia da Terra guarda algum rastro do Nomos da Terra (como nos disse Carl Schmitt), pois a terra muito antes de ser território (posse e propriedade) é o nomos da vida: o chão que garante o húmus de quem dela necessita para viver. Portanto, além de não ser uma pedagogia desinteressada, é profundamente identificada com os sentidos mais enraizados do campesinato. No caso atual, trata-se de variável da Pedagogia da Alternância que procura por meios de incluir efetivamente os trabalhadores rurais no sistema de ensino superior formal (destacadamente, público). É interessante pensar que a subjetividade desta formação social particular está incutida, desde as mais primitivas eras, na profundidade alcançada pela experiência do Nomos da Terra.
Pedagogia da Alternância
Como sublinhado, a Pedagogia da Alternância tem por fundamento valorizar o nomos que há em cada trabalhador rural ou assentado. Assim, uma parcela do aprendizado é feito na universidade (dois meses aproximadamente), em regime de dedicação integral, com dias em que têm aulas em três períodos, e outro lapso de tempo em que levam atividades para concluírem os estudos em suas casas ou locais de moradia e de trabalho. Alterna-se, portanto, o conhecimento científico, filosófico, investigativo e crítico anunciado pela universidade – com adaptações para o “homem e mulher do campo” – e o acúmulo que advém de sua reflexão e práxis, quando de seu retorno às condições de práticas sociais originárias. De tal forma que, a Educação Política – intencionada à reflexão e à transformação da realidade social – tem função precípua e, assim, ultrapassa as limitações da educação formal: livresca, serial, de cunho meramente informativo e passivo.
Movimentos sociais de trabalhadores rurais
Todos os alunos, regularmente matriculados no Curso de Pedagogia da Terra, têm, obrigatoriamente, de comprovar seu vínculo formal com algum assentamento rural, e provém de várias partes do Brasil. Esta ligação com o coletivo é essencial na articulação/verificação esperada a partir do crescimento intelectual e do amadurecimento político (na linguagem de Gramsci: “dirigente = político + especialista”). O “erro metodológico” verificado no Intelectual Orgânico do capital se desfaz com esta religação ao movimento social de origem, pois que todos serão instrumentos políticos e ideológicos de modificação da realidade material e espiritual em suas localidades. Um forte antídoto (pharmakón) como virtú da política social, sem dúvida, para debelarmos o Pensamento Único fascista que atormenta o Brasil, em 2015. Para atividade de campo, leituras como José Saramago (Ensaio sobre a Cegueira), Albert Camus (A Peste; O Estrangeiro) ou Ernest Hemingway (Por quem os sinos dobram; Quinta Coluna) seriam de primeira grandeza.
Intelectuais Orgânicos revolucionários
Não fosse por outras razões evidentemente políticas, seriam Intelectuais Orgânicos revolucionários do status quo excludente e de exceção, ao combater a segregação social/racial e o preconceito que cercam o camponês na sociedade brasileira com profundos enlaces de memória escravista, racista, machista. Ao combater-se o fascismo, combatem-se as formas de exceção utilizadas na gestão social, jurídica e ideológica da sociedade atual, visto que o fascismo é uma das formas capitais de apresentação do Estado de Exceção. E uma as atividades de campo, por exemplo, poderia bem ser a leitura e um escrito (ambos individuais), a reflexão e, por fim, a apresentação em seminário (como requerido por Gramsci), para o seu grupo de origem, de um livro magistral para se visualizar a subjetividade (e a crueza da vida dos degradados da terra): As Vinhas da Ira (de John Steinbeck). Inclusive para que se visualize que sua condição social não se deslinda da condição humana maior representada nos personagens que, no fundo, representam a Humanidade despossuída. Este tipo de intelectual orgânico de novo tipo, como “filósofo do povo” e “intelectual coletivo”, não mais sem-terra (pois que assentado), e que não representa as classes burguesas emergentes e/ou auxiliares, traz na veias a ira do nomos ancestral que se batizou na sociedade senhorial, escravocrata e alimentadora do Estado Patrimonial. São intelectuais orgânicos de um organismo vivo, como é sociedade brasileira e a Terra que nos alimenta com seu Nomos.
Condição Humana
Não estará completa a sua tarefa de transfigurar o real (como quer Pondé) ou de fustigar o real - construindo uma visão de mundo coletivista –; pois se pode ser tarefa com data e hora para iniciar, jamais terá conclusão. Combatentes de toda forma de opressão societal (econômica, social, cultural, política), aprimoram-se na luta política (que é sempre uma luta de classes) pelo fim da indignidade humana. Na Luta pelo Direito (quer seja no direito individual – cidadania reativa, passiva –, quer seja pelo próprio direito à terra, como direito social de inclusão: cidadania ativa), não mais fácil, mas mais aberto estará o caminho para a construção de reservas morais e materiais necessárias à Condição Humana. E seja a Condição Humana desenhada por Hannah Arendt (com o Trabalho e a Política que desenvolvem atividades intelectuais: isonomia e isegoria), seja a que perscrutamos na Questão Judaica, de Marx, o fundamento permanece latente e ativo: consciência, discernimento, organização e participação ativa. O verdadeiro tônus da Filosofia (desde Platão) está na busca da felicidade conjugada, partilhada, e não com base no niilismo egoísta e conservador dos grupos de poder e de capacidade de consumo que se verifica hodiernamente. Se todos os homens têm o germe do pensamento, como atividade articulada da capacidade cognitiva (desde a “potência racional” apontada por Rousseau e Kant), produzindo símbolos e significados – e também como diz Gramsci –, não há lógica/bom senso em separarmos o homo sapiens do homo faber. Desta junção entre “consciência para si” e “trabalho não-alienado” sairá o intelectual orgânico vocacionado (a paixão de que fala Weber) e capaz de “trazer-pra-si” o nomos da terra. Libertando-se, ideologicamente, do “pensamento mágico” ou tradicional, paulatinamente, saberá distinguir o senso comum do bom senso. Num movimento natural de crescimento intelectual e político, liberado com o ascetismo mundano, terá outra visão de mundo: não árido, mas espargido de valores humanos e ligado ao nomos da vida social.
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos
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