Terça-feira, 7 de junho de 2016 - 15h01
Procura-se uma cidade que era habitada apenas por amigos; procura-se uma cidade que possuía um belo mercado, ponto de encontro dos moradores do lugar; procura-se uma cidade cujos bairros eram próximos e possuíam nomes interessantes: Alto do Bode, Baixa da União, Mocambo, Caiari, Arigolândia, Km 1 e por aí seguia; procura-se uma cidade onde os homens eram idealistas apaixonados, os professores eram tratados com respeito e devoção por toda a sociedade; procura-se uma cidade onde os médicos mantinham seus consultórios em cubículos, nos fundos das farmácias, e ganhavam a gratidão daqueles que não podiam pagar as consultas; procura-se uma cidade em que os farmacêuticos conheciam todos os remédios e podiam até, em alguns casos, substituir os médicos; procura-se uma cidade onde os clubes promoviam bailes memoráveis, damas vestidas de seda, luvas e pérolas, cavalheiros de terno, gravata e calçados reluzentes; procura-se uma cidade onde as paradas cívicas eram inesquecíveis: crianças e jovens vestidos com seu melhor uniforme, bandeiras em punho, cavalos adornados de verde e amarelo, tambores e instrumentos de sopro igualmente ornamentados, era a própria nação brasileira a desfilar pelas ruas; procura-se uma cidade que mantinha com muito zelo seu tradicional hospital, onde eram acolhidos todos os doentes e sua tradicional maternidade, onde nasciam ricos e pobres; procura-se uma cidade em que o carnaval de rua movimentava toda a população e exibia desfiles primorosos; procura-se uma cidade de grandes arraiais, barraquinhas de namoro, mensagens e bandeirinhas: quadrilhas e bois bumbás a dançar na frente das casas das pessoas; procura-se uma cidade que era isolada pela distância, numa época off-line, mas isso parecia não ter a mínima importância pois a cidade se bastava; procura-se uma cidade onde as lojas traziam nomes singelos e inesquecíveis: Casa Saudade, Mundo Elegante, Casa Estrela e assim por diante; procura-se uma cidade em que os artistas locais eram chamados de prata da casa, metal precioso, orgulho dos moradores; procura-se uma cidade onde os intelectuais eram reverenciados pela sociedade local por sua sapiência e generosidade de compartilhar o conhecimento; procura-se uma cidade onde, na virada de cada ano, os habitantes saíam de suas casas simples para cumprimentar uns aos outros; procura-se uma cidade onde bispos, padres e pastores eram conhecidos pelo primeiro nome e amigos da população; procura-se uma cidade que possuía dois cinemas e onde a praça principal era encontro dominical de jovens que passeavam aos som da banda da guarda territorial; procura-se uma cidade que possuía três abundantes cachoeiras, peixes saudáveis e vigorosos, incontáveis e translúcidos igarapés, natureza de floresta exuberante e de fauna sem igual; procura-se uma cidade de imponentes e belas edificações, como Palácio Getúlio Vargas (sempre rosado), Porto Velho Hotel, Forum Rui Barbosa; procura-se uma cidade que começou por conta de uma estrada de ferro, que era o orgulho de seus moradores, e grande parte da população nela trabalhava e ganhava seu sustento; procura-se o casario de grandes construções em madeira deixadas pelos pioneiros da ferrovia. Tudo mudou. Daquela cidade só restaram os jovens que se tornaram velhos e hoje contemplam com tristeza sua mata devastada pelas queimadas e pelo pasto, sua natureza destruída em nome do “desenvolvimento”, sua fauna em extinção, e a sucata dos trens da ferrovia, que foi abandonada e esquecida.
Brava gente brasileira/ Longe vá, temor servil/ Ou ficar a Pátria livre/ Ou morrer pelo Brasil/ Ou ficar a Pátria livre/ Ou morrer pelo Brasil/ !!!!
O tempo e eu (Arrancando Pétalas)
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