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Gente de Opinião

Sandra Castiel

DICIONÁRIO DE SENTIMENTOS


Às vezes fico me perguntando por que não há um dicionário de sentimentos humanos, desde os mais elevados aos mais rasos. Algo que transcenda a frieza da conceituação léxica e que seja capaz de traduzir em palavras simples o complicado, mas tão rico, universo da psicanálise.

Há que se reconhecer que é difícil conceituar e dar sinônimos aos sentimentos. E como são confusas e delicadas as relações entre as pessoas!... São elas as geradoras de quase, digo quase, todos os sentimentos - que me perdoem os especialistas se estou afirmando uma inconsequência, mas a gente percebe a subjetividade das crianças, desde a tenra infância, em suas reações na interação com os coleguinhas de creche.

Se houvesse um dicionário de sentimentos, ele teria que ser coerente com a complexa cabeça humana: não sentimos em ordem alfabética e, normalmente, o que nos move é o amor, pelo menos acreditamos que seja. Portanto AMOR teria que vir em primeiro lugar, antes mesmo de AFETO e de AMIZADE, já que, sem ele, não existiriam outros sentimentos que fazem do ser humano o que ele é. Há que se considerar, também, que sua ausência gera os sentimentos mais baixos e que em nada orgulham a espécie humana. O primeiro verbete seria então o do amor.

AMOR: Algo que não se define, a gente apenas sente. Grandioso, múltiplo, mutante e suave, eleva e enleva a alma humana. Normalmente é confundido com outros sentimentos menores, principalmente quando se trata de relação conjugal, namoros etc. Como o amor é passível de enganos, o casal certifica-se de sua existência, ou não, após uma convivência cíclica, que normalmente dura sete anos; este é o tempo limite (com variações), para que uma paixão se sustente e comece a cair a máscara de amor que alimentava a relação. (Como há muito a se dizer sobre o AMOR, retomaremos este verbete no final do texto.)

A paixão é a grande cilada, aquilo que leva as pessoas à ilusão de que estão amando, quando na verdade estão mesmo é apaixonadas. Caberia ao Dicionário de Sentimentos, então, conceituar a paixão para alertar os incautos. Vamos lá:

PAIXÃO: Arrebatamento que faz com que uma pessoa fique completamente atraída por outra, a ponto de pensar nela o dia inteiro, não conseguir trabalhar, atravessar noites sem dormir, além de perder o apetite. Este sentimento é irracional e perigoso, pois leva ao Ciúme - espécie de desconfiança que faz com que a pessoa perca a compostura, enlouqueça, agrida, esfole e até mate. Quando não correspondida, a paixão deixa homem e mulher meio bobos, a ponto de levá-los às lágrimas, quando ouvem qualquer música brega sobre o tema, e de fazer com que frequentem bares, enchendo a cara com dezenas de copos de chope, cerveja, caipirinha, caipiroska, vinho, vodka, cachaça, etc. etc. Vivendo sob a cilada da paixão não correspondida, a pessoa quer mais é se punir, não dando a mínima aos conselhos dos amigos, que tentam, em vão, deter o processo de autodestruição. O indivíduo apaixonado só consegue pensar no objeto de seu desejo - o outro (ou a outra): em seus olhos, os mais profundos do mundo; em sua boca, a boca mais beijável do planeta; em seu jeito de andar, pura sensualidade; em sua voz, a mais inebriante melodia; em seu corpo, a morada celestial do Pai; e no sexo... bem, deixa pra lá, todo mundo entende.

Reconheço que é muito complicada essa história de conceituar sentimentos humanos - digo humanos, porque acredito que os animais também desenvolvem sentimentos -. Talvez o mais simples seja mesmo o amor, apesar de suas nuances e de sua grandiosidade. Voltemos então a ele:

AMOR (continuação): Sua forma mais intensa e inconfundível é, de longe, o amor de mãe - este é incondicional, pelo menos para a grande maioria das mães (mas a recíproca não é verdadeira). Além do amor de mãe, há também o amor de pai (por que não incluir o sentimento do homem por seus filhos?), o amor de avós e avôs pelos netos, e o amor entre irmãos (isto quando a vida e a ganância pela herança não os separa). O amor também existe entre cônjuges - sim, pois o verdadeiro amor se mantém, mesmo quando diminui ou acaba o sexo (idosos), e a beleza física despenca (neste caso, em torno dos 45 anos, a despeito de todos os artifícios do mundo). Uma das formas mais sublimes de amor, além do amor de mãe, é a do amor ao próximo; esta é raríssima. Aliás, ela foi ensinada à humanidade há 2012 anos, mas, como se trata de matéria difícil, a humanidade ainda está aprendendo...

Enfim, o amor é tão rico que, se houvesse mesmo um dicionário de sentimentos, certamente este único substantivo preencheria a maioria das páginas. As outras, completamente em branco, significariam o grande vazio que é a vida humana sem ele, sobretudo quando a gente deixa de se amar... Aí está na hora de correr para um bom psicanalista...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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