- Ah, a ética!
Na condição de anfitrião de um jantar que reuniu aliados, o presidente Lula declarou aos comensais que a oposição está sem discurso e que, diante do vazio, só resta hastear a bandeira da ética no pavilhão da campanha eleitoral do próximo ano. Sob a ótica presidencial, a ética não é um abre-alas capaz de empolgar a platéia.
Em que pese ter sido a bandeira empunhada pelo Partido dos Trabalhadores durantes anos, quando chegou ao poder substituiu sem cerimônia crenças e símbolos cultuados no passado.
De arauto da ética o presidente incorporou postura contemplativa em relação aos desmandos governamentais que ocorreram ao longo dos seus dois mandatos. Em todos os episódios ruidosos de sua administração, o presidente Lula procurou apresentar-se como advogado de defesa dos acusados do seu governo.
A conduta do presidente durante um dos grandes escândalos da República, - “o mensalão” – revelou a condescendência com atos de corrupção na máquina pública.
Quando se instalou uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os cartões corporativos, o presidente Lula determinou uma “operação abafa”. A blindagem produziu uma “CPI chapa branca”, para impedir que as investigações evoluíssem, sobretudo para impedir que chegassem ao Palácio do Planalto e abrissem uma caixa preta que esconde os mistérios dos gastos sigilosos da Presidência.
Cartões & segredos
A Transparência Brasil acaba de revelar: os gastos secretos da Presidência da República chegam praticamente à metade do total de dispêndios com cartões corporativos. Os cartões corporativos se constituíram em instrumento para despesas da ordem de R$35 milhões, neste ano de 2009, e as cifras da gastança sigilosa correspondem à quase metade do total dos gastos com cartões corporativos.
É contraditório...
enquanto criticamos os atos secretos do Senado Federal, que devem ser extirpados e banidos do dicionário do parlamento brasileiro, convivemos com a pouca transparência no cerne do Poder Executivo.
- A Constituição estabelece que os atos da Administração Pública devem ser “revestidos de transparência e publicidade”.
Portanto, a gravidade imputada aos atos secretos do Legislativo se reproduz naqueles consumados no âmbito da Presidência da República.
É inaceitável que quem proclamou a transparência como itinerário do respeito à sociedade possa optar por uma estrada vicinal que sonega gastos efetuados com dinheiro público, oriundo de impostos pagos com sacrifício pela população brasileira. Sabemos que o cidadão não suporta mais a carga tributária escorchante que, de forma implacável, inibe o crescimento econômico do país, roubando oportunidades de trabalho, de salário e renda.
Nessa linha de complacência com os desvios éticos, o presidente Lula reitera: não entende a razão de o Tribunal de Contas da União (TCU) impugnar obras superfaturadas.
Sua visão é que, mesmo diante da constatação de indícios gritantes de irregularidades, elas não devem ser paralisadas.
- Acabamos de saber pelo próprio TCU que, a cada três obras auditadas, uma está irregular.
Para refletir
“O presidente da República vetou dispositivo da Lei de Diretrizes Orçamentárias que estabelecia um limite para os gastos com publicidade, diárias e viagens do Governo no ano eleitoral. Um veto que atenta contra a moralidade pública. Mais uma demonstração explícita de desapreço à ética movida pela manutenção de um projeto de poder. Sua interferência no cenário do Congresso Nacional é compulsiva, notadamente na atual crise enfrentada pelo Senado. Restaurar a ética na política e na condução dos negócios públicos é um imperativo para a consolidação da democracia brasileira. O esforço nesse sentido não exime de responsabilidade Sua Excelência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva”. – Senador Álvaro Dias
Fonte: Antônio Roque
Sexta-feira, 29 de março de 2024 | Porto Velho (RO)