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Renato Gomez

Crônicas do Velho Porto: Nada é fácil de entender


                        Era uma pessoa sorridente, daquelas que dá bom dia a todos que passam por ela na rua. Alimentava animais, dava esmolas aos mendigos, moedas aos malabaristas no sinal. No trabalho todos adoravam sua companhia, suas piadas engraçadas, mais pela arte de contar que ela dominava, do que pelo teor das anedotas. Profissional extremamente competente, formada na melhor universidade com as melhores notas da história do curso. Chegava cedo ao trabalho e geralmente saía por último. O que os colegas e transeuntes que eram cumprimentados desconheciam, era o fato de ser uma pessoa solitária, sem parentes nem amigos.

                        Era órfã desde os 16 anos, da família pequena lhe restou apenas a tia que lhe criou até a maioridade, criação rígida que deixou-lhe uma pessoa dura quando as relações ficavam mais íntimas. Desta forma, nunca conseguiu fazer muitos amigos e nem engatar nenhum relacionamento, mesmo sendo engraçada no ambiente de trabalho.

                        Certa noite, ficou no trabalho até que seu último colega saísse como de costume, deixou o carro no trabalho e caminhou pelas ruas cumprimentando a todos, com rostos conhecidos tentava até um início de conversa, logo repelido pela correria do cotidiano. Abordava até mesmo os animais, que por serem agredidos nas ruas era arredios e se afastavam.

                        Ao chegar em casa sentou-se em sua cadeira de balanço com a vista para a longa avenida, observava as pessoas no calçadão caminhando aos pares, casais felizes, alguns com crianças, aos seus olhos os que caminhavam sozinhos pareciam invisíveis. Acendia um cigarro atrás do outro, pausava o fumo da boca apenas para molhá-la com um longo gole no vinho tinto suave que tomara diretamente da garrafa que abrira na ocasião.

                        Adormeceu por alguns minutos, sonhou um sonho bom, sonhou o que sempre quisera, ter alguém com quem conversar, mesmo que depois esse alguém usasse o que foi dito contra si, queria apenas alguém para dividir seus anseios, suas alegrias, suas angústias, enfim seus sentimentos. Ao acordar e ver de novo o amargo da realidade no gosto amargo da ressaca do vinho e do tabaco, levantou-se encostou no beiral da varanda, pôs-se a olhar as pessoas felizes por mais alguns instantes. Repentinamente, subiu ao beiral e começou a andar por ele equilibrando-se como uma criança que equilibra-se na beira da calçada, porém no deslize a rua estava muito abaixo do que para a criança.

                        Ela se jogou da janela do quinto andar... Nada é fácil de entender...

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