Segunda-feira, 8 de agosto de 2011 - 06h07
O futebol brasileiro está carente. Obviamente não é uma carência financeira, mas uma carência de uma das engrenagens principais que fazem do futebol brasileiro o melhor do mundo. Os meias-clássicos-canhotos-de-criação estão em falta no nosso futebol, e sem eles o futebol se tornou essa coisa pragmática, de resultados e que se torna ainda por num campeonato de pontos corridos sem finais.
Temos Neymar, Lucas, Ganso, promessas que vem se tornando realidade, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Kaká realidades que se tornaram promessas, é claro que nos repentes de um desses, ou dois, acontecem clássicos como o que Santos e Flamengo recentemente protagonizaram brilhantemente. Mas antigamente todo clássico trazia essa promessa, principalmente nas finais de campeonatos que, para copiar os europeus, extinguimos. Vemos a possibilidade de Pelé jogar o Mundial de Clubes pelo Santos contra o todo poderoso Barcelona de Messi e nos vislumbramos, será genial, mesmo que dure muito pouco será a coroação final do rei, quem sabe a chance de passar a coroa a Neymar, mas a lacuna que existe em nosso futebol ainda permanecerá.
Neymar pode decepcionar como Robinho já fez. Pode ser melhor do que Pelé, ou ficar entre o Rei e Ronaldo, se tornar um mito como Rogério Ceni e Romário, mas será uma exceção nessa geração, onde poucos surgem. Hoje valorizamos os jogadores versáteis que jogam em qualquer posição, que correm o jogo todo, mas que somem do mesmo jeito que surgem. É a globalização do futebol. Nos focamos no resultado e esquecemos que é uma arte. É como se na música focássemos em determinado estilo, sem valorizar mais nada, os artistas migrariam todos para aquele estilo tornando a música algo previsível, e consequentemente desnecessário.
E pelo desejo de inovação na arte da bola, importamos os nossos meias-clássicos-canhotos-de-criação da Argentina: Conca, Montillo, Cañete, D’Alessandro, Teves, só para citar alguns, e eles ainda ganham prêmios em nossos campeonatos. Sempre nos orgulhamos de ser melhores que os hermanos, valorizando a rivalidade, que diga-se de passagem, se for saudável é bela no esporte, mas importamos o que já tivemos de melhor no nosso país.
A Copa de 2014 está próxima, mesmo não concordando com os investimentos exorbitantes em estádios, queremos ver nossa seleção campeã em casa, é hora de repensarmos o modo de desenvolvimento do nosso futebol, e o passado nesse caso é um ótimo espelho. Já estamos conseguindo repatriar as estrelas e manter aqui as que criamos, está na hora de “desglobalizar” nossa arte e começarmos a produzir em série novos artistas da bola, basta mudar o foco.