Segunda-feira, 16 de janeiro de 2023 - 12h12
A porta pode ser
sagrada, como acesso ao nosso lar ou ao templo, ao trabalho ou ao juizado na
busca de justiça. Todavia, pode ser profana, se for aberta para abrigar uma
reunião de bandidos, ou para a luxúria num lupanar...
Ah! A porta de uma
igreja, de um templo ou da sinagoga, lugar místico para a evangelização, para o
nosso encontro com Deus, para nossas inflexões e reflexões, limpeza da alma e
purgação de eventual deslize, em nome da misericórdia, sem intermediários.
Ah! A porta que nos
introduz no âmago do nosso lar, lugar dos papos descontraídos, do aconchego das
crianças e da mulher amada!...
Vicente Celestino, ídolo do cancioneiro popular
nacional da geração dos meus pais, nos legou que algumas portas estavam
fechadas, menos aquelas das igrejas de Jesus, que, abertas, lhe trouxeram
renascimento e transformação... posto que, contra os templos, sob a forma de
cruz, “não há queixas – são os braços de Jesus”...
E ao adentrar no templo
do Homem de Nazaré, seus caminhos desvendaram-se, devolvendo-lhe a esperança e
a fé. E com a fé readquirida, sentiu-se como que transportado para o céu.
O Evangelho nos fala
das portas estreitas, através das quais se ingressa no paraíso, praticando as
virtudes e dizendo não ao egoísmo, à intolerância, à maldade, à intransigência
e à maledicência.
Ingressar pela porta
estreita obriga-nos a ser diligentes, generosos, flexíveis, de bom de coração,
despojados de vaidade; e, qual caminhante em busca de aperfeiçoamento, porque o
Evangelho nos ensina a sempre procurar agir inspirando-nos naqueles seres que
buscam a paz e a concórdia entre os irmãos de boa vontade.
Entrar pela porta da
frente simboliza transitar com energia positiva e espraiar luz intensa ao
derredor. Sair pela porta dos fundos significa, muitas vezes, evadir-se, fugir,
escapulir, sair furtivamente, escapar sabe-se lá do que...
No cotidiano dos
humanos abrimos diversas portas: ao acordar, a do banheiro, para a higiene
matinal; a do quarto, após arrumados com a indumentária; a da despensa, para
recolhermos gêneros; da geladeira, para retirar produtos; a da cozinha, para o
desjejum; e, depois, a do elevador ou a do carro, para rumarmos em direção ao
trabalho que dignifica os seres humanos e honra a nossa cidadania.
Todavia, consideremos a
abertura da porta da cadeia para o delinqüente, para o parricida, homicida,
feminicida, para o latrocida, quando se espera que, ao ficar preso, tenha
merecido a recuperação...
Será?
Nem por isso devemos
nos vingar das portas, batendo-as com violência, em face de um contratempo ou
de uma irritação. Afinal, nenhuma culpa tiveram na origem das nossas
contrariedades.
Alberto de Oliveira, falecido aos 80 anos,
poeta, assim como Raimundo Correia e Olavo Bilac, da safra do parnasianismo
mais clássico, nos legou o soneto A VINGANÇA DA PORTA, em que aquele um tinha
por hábito de, ao ingressar no lar, dar com a porta nos batentes, e a doce
esposa lhe questionava: "O que te fez essa porta?"
E o homem, arrogante e
insolente, saía e chegava batendo com força a porta. Até que um dia, ao
retornar à casa...“Quando erguia a
aldraba, o coração lhe fala: Entra mais devagar... -Pára, hesitando... Nisto
nos gonzos range a velha porta, ri-se, escancara-se. E ele vê na sala, a mulher
como doida e a filha morta”.
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