Domingo, 9 de dezembro de 2007 - 10h14
1 LULA E O BISPO
Com a prerrogativa de ter governado por três vezes um dos Estados mais emblemáticos da região, ter exercido o cargo de Ministro do Interior e ser o criador, entre outras obras, de uma pesquisa que se ocupa especificamente do tema, se ele não tiver autoridade para falar sobre o assunto, raríssimas pessoas o terão neste país.
Fala-se do engenheiro civil João Alves Filho, ex-governador de Sergipe (1983-87, 1990-94 e 2003-06), integrante da equipe do ex-presidente José Sarney e autor do livro Transposição de Águas do São Francisco: Agressão à Natureza vs. Solução Ecológica, que nesta sexta-feira (07) publicou na Folha de S. Paulo artigo sobre o objeto da coluna desta quarta-feira (05) - a greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, contra a obra com que Lula diz que vai resolver o problema da seca no Nordeste. Pelas informações qualificadas, indispensáveis a uma compreensão serena da polêmica, seguem-se os principais trechos do artigo do ex-governador João Alves.
Com a retomada da greve de fome de dom Luiz Flávio Cappio, o presidente Lula e seus áulicos tentam passar a imagem de que ele é um fanático religioso. O ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, ousa desrespeitosamente associar a imagem do bispo a uma espécie de fundamentalista islâmico. Na realidade, d. Cappio é um líder religioso profundamente comprometido com sua principal missão, que é divulgar a fé aos sertanejos e levar a eles os eternos ensinamentos de Deus, mas sem desconectá-los do mundo injusto em que habitam.
Daí por que, convencido de que quem convive com a miséria não tem serenidade para cultivar dignamente a religião, se empenha em extirpar a miséria, defendendo os sertanejos daqueles que tentam legitimá-la com demagogia e promessas enganosas. Trata-se de um sábio, culto, avesso à demagogia, conhecedor do sertão nas suas entranhas e, em especial, do Velho Chico, cujas margens percorreu a pé denunciando sua degradação bem antes de se falar em transposição.
2 DENÚNCIAS À NAÇÃO
Um estudioso das técnicas de convivência com as secas e equacionamento dos recursos hídricos locais - tão simples e baratas que os chineses e os indianos as praticam com sucesso há milênios em regiões de climas bem mais hostis do que o nosso - D. Cappio tem consciência também de quatro fatos dos quais a nação precisa tomar conhecimento.
Primeiro, a transposição não é destinada a salvar os nordestinos da seca, pois apenas uma minoria irrelevante do semi-árido receberá água na porta, mas se destina ao agronegócio, que utilizará uma água caríssima, levada a 700 km, que terá que ser subsidiada a vida inteira. Porém, temos milhões de hectares de terras à beira do rio cuja irrigação, sem subsídio, proporcionaria alimentos baratos e geraria 1 milhão de empregos.
Segundo, o governo, maquiavelicamente, esconde uma realidade que surpreenderia a nação: não há falta de água no Nordeste setentrional: ela existe em abundância tal que, teoricamente, daria para abastecer 100% dos nordestinos.
Terceiro, o rio São Francisco está na UTI e a transposição ameaça provocar sua morte, gerando o maior desastre ecológico e socioeconômico da história brasileira. Quarto, Lula mentiu para conseguir a interrupção da primeira greve de fome de D. Cappio, certamente com receio das conseqüências para a reeleição, com promessas enganosas de que iria parar a obra da transposição para discutir com ele, com membros da sociedade civil e ecologistas que têm propostas alternativas, demonstrando tecnicamente projetos racionais para levar água na porta pela metade dos custos para a totalidade dos dez Estados do semi-árido nordestino e mineiro. Por dois anos, o bispo esperou pacientemente a abertura do prometido diálogo, mas a resposta de Lula foi ameaçadoramente mandar o Exército iniciar a obra.
Por falta de espaço, não posso aqui detalhar o gigantesco manancial de água disponível nos Estados do Ceará, do Rio Grande do Norte e da Paraíba, explicando a simplicidade do projeto alternativo.
3 SACRAS MALDIÇÕES
Faço, contudo, um convite ao ministro Geddel, que executa a obra que tanto combateu, para um debate aberto, para que a nação saiba de toda a verdade sobre essa obra freneticamente aplaudida pelos empreiteiros, seus felizes apaniguados, pelo agronegócio retrógrado, que pleiteia água subsidiada, e pela indústria da seca, que, após sua conclusão, continuaria abastecendo os famigerados carros-pipas e as latas d'água na cabeça da pobre gente dos próprios quatro Estados "beneficiários" da obra da transposição, que, tardiamente, compreenderia que foi a principal enganada pelo governo Lula, que fomenta a cizânia entre irmãos nordestinos.
Finalmente, uma ponderação para o presidente Lula, que do alto de sua autolouvação costuma ser infenso a conselhos, avaliar melhor o artigo de frei Leonardo Boff, que, com a autoridade de ex-professor do então seminarista dom Cappio, com quem ele já se destacava por "uma aura de simplicidade e santidade", advertiu: "Entre o povo que não quer a transposição e as pressões de autoridades civis e eclesiásticas, dom Luiz ficará do lado do povo. Irá até o fim. Então a transposição será aquela da maldição, feita à custa da vida de um bispo santo e evangélico. Estará o governo disposto a carregar essa pecha pelo futuro afora?".
O artigo a que se refere João Alves é o que o teólogo publicou bem antes de dom Cappio retomar seu protesto, intitulado A Transposição da Maldição, onde demonstra que a obra é uma teimosia do governo Lula contra a opinião de grandes especialistas que cita.
Neste domingo (09), cerca de 10 mil romeiros de oito Estados estarão reunidos em Sobradinho para a maior manifestação de apoio ao protesto do bispo contra o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. A romaria coincidirá com o dia em que o religioso ultrapassará o tempo de jejum do primeiro protesto, realizado em 2005, quando ficou 11 dias em greve de fome. Barracas de lona estão erguidas ao lado da igreja de São Francisco, onde Cappio protesta. Um palco foi construído para celebrações ecumênicas, discursos e um show de forró. A romaria será encerrada com um ato público às margens do rio São Francisco.
Quando estas estiverem sendo publicadas dom. Cappio estará completando 12 dias de jejum. No sábado (08), o noticiário informou que, embora aparente boa saúde, começou a apresentar sinais de desidratação e anemia. Aos que o visitaram o bispo disse que a "batalha" que trava contra o governo "será longa" e com final "imprevisível". E afirmou que o apoio que está recebendo torna "irreversível" sua decisão de manter o jejum "até o fim".
Fonte: pqqueiroz@uol.com.br (Jornalista do Jornal O Estadão do Norte - Rondônia)
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