Quinta-feira, 4 de setembro de 2008 - 22h40
MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
ARINOS-MG, Vale do Urucuia – Quatro meses de seca implacável no sertão do noroeste mineiro emagrecem o gado, empoeiram árvores do Cerrado, casas, pontes, estradas, e obrigam novamente os agricultores a enfrentar dificuldades – as mesmas repetidas há décadas por conta de ausência de políticas públicas. No ano passado cinco mil cabeças de gado morreram de fome, atoladas nas veredas, registra a Agência de Desenvolvimento Integrado Vale do Rio Urucuia, fundada em dezembro de 2000 com o objetivo direto de combater a pobreza e a desigualdade social por meio da cooperação mútua.
A mandioca é a salvação na região do Vale do Urucuia: a maior parte do gado, cavalos, éguas, burros, jumentos e porcos criados nesses 27,9 mil Km² da região – o equivalente às áreas dos estados de Alagoas e Sergipe – vem se alimentando com raspas e folhas de mandioca "mansa".
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| Alaor Silva: quatro toneladas de ração por hora /FOTOS M.CRUZ |
As hastes principais dessa mandioca são muito ricas em vitaminas A, C e do complexo B, e apresentam teor de proteína superior a 20%. Também possuem boa concentração de cálcio e fósforo. O rio Urucuia vem de Goiás e atravessa o noroeste de Minas Gerais até desaguar no rio São Francisco. A região fica a 700 quilômetros de Belo Horizonte e a 180 Km de Brasília. Mesmo na seca, vê-se muita vida nas veredas, esse vinco da terra onde brotam fartas folhagens de buriti, no meio de água boa e fresca.
Desilusões
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| Estiagem prolongada castiga novamente o sertão de Minas Gerais |
Financiado pela Fundação BB, desde 2003 a 2008 o Projeto de Desenvolvimento do Arranjo Produtivo Local de Beneficiamento de Mandioca recebe recursos que totalizam R$ 6 milhões, para o atendimento a cerca de 4 mil famílias de 11 municípios.
Seis fábricas abastecem a bacia leiteira
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| José Ferreira e Valdemar da Silveira são mandioqueiros e associados ao projeto da ração |
A Embrapa Cerrados recomendou aos produtores que reservem 20% de suas áreas para expandir lavouras e plantar capim. O motivo é nobre: de cada cem quilos de mandioca consumidos pela população de Arinos, 80Kg são dali.
A raspa e a manipueira são usadas na alimentação animal, especialmente vacas leiteiras. No distrito de Sagarana cerca de 200 produtores obtêm 10 mil litros de leite por dia, vendidos entre 70 e 85 centavos o litro. "
O aumento da produção leiteira é significativo, porque os veranicos desses dois anos destruíram 60% do plantio", observa Idelbrando Souza. "Mas eles já se arrumaram para retomar as áreas e fabricar ração que beneficiará a todos, porque se situam em áreas estratégicas", emenda o pedagogo colombiano Rafael Pinzón Rueda, assessor da agência.
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| Em dois anos, cinco mil reses morreram de fome. Agora o gado é salvo pela mandioca |
Formar estoques, a meta
Há mais de três décadas na região e com a bagagem de ter trabalhado nos estados do Acre e do Pará, ele está empenhado em promover uma mudança cultural entre os produtores. "É preciso que eles façam a estocagem de manivas, capim e cana-de-açúcar. Assim, o gado sobrevive à estiagem", apela.
Com o impacto das secas de 2006 e 2007, seis fábricas de ração de mandioca com 18% de índice protéico salvam a lavoura e também o estômago dos animais. Aproveitaram a parte aérea da planta e passaram a trocar o leite pela ração que vinha de fora.
Quatro toneladas por hora
Cada máquina picotadeira, adquirida por R$ 1 mil financiados faz até 4 toneladas por hora. Segundo o presidente do Comitê Gestor da Mandiocultura, Alaor Tavares da Silva, os agricultores escolheram mandiocas mais resistentes a pragas e doenças, entre as quais, as IAC 12, 23 e 14, a Pioneira, a Urucuiana e a Palmeira.
Há dois anos eles testam 12 variedades para mesa e 12 para indústria, com predominância das IAC 12 e 14, Iracema, Periquita, Tapioquenta, Urucuiana e Urubu. "Já temos 13 hectares de experimentos para bancos de sementes", conta Silva, animado. Aragem a gradeação é um dos mais caros componentes da lavoura. O aluguel da máquina simples para gradear custa R$ 60 por hora. O uso de máquina de maior porte sai por R$ 100. (M.C.)
"Esse problema eu não tenho mais"
A mandioca que rende até 40 toneladas/ha está sendo comercializada a R$ 80 a tonelada para indústria. José Ferreira dos Reis, o Zé Messias, acredita que esse preço poderá melhorar, se todos se empenharem em cultivar variedades de boa produtividade. "Vamos plantar mais em outubro para colher em março e abril de 2009", ele prevê.

Militão, com o neto William: ração foi a salvação das vacas leiteiras
O comitê gestor assume o papel de orientar os produtores a fazer a poda dos mandiocais com um ano, aproveitando a manipueira na alimentação animal. Ao completar um ano e meio já se tem nova produção de raízes e da parte aérea. "No ano passado a safra não deu para quem quis", comenta Valdemar da Silveira.
Até o ano passado, Militão Gomes Monteiro alimentava o gado com milho na sua Fazenda Jibóia (90 ha), no Distrito de Sagarana. Orientado, mudou para raspa e ramas de mandioca, que saem bem menos caras. "
Os bichos não vai passar fome", garante. E não passam mesmo. Suas vacas leiteiras comem o dia todo no cocho. Os vizinhos também adotaram o método. Militão, seis filhos e oito netos, mostra a picotadeira no galpão de madeira e liga a máquina para demonstrar a eficácia da trituração.
"Contei 50 minutos, e ela encheu 20 balaios", diz. Militão, apelidado de "Militanto" pelo pessoal da agência de desenvolvimento, esparrama a ração sobre uma lona plástica e se diz feliz: "Esse problema eu não tenho mais" (M.C.)
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