Domingo, 22 de fevereiro de 2015 - 08h15

Montezuma Cruz
Dias atrás, o governador Confúcio Moura surpreendeu-se com experiências educacionais numa escola no meio da floresta no Distrito de Nazaré (Baixo Madeira) e visitou amistosamente apenados que cultivam abacaxi, mandioca, melancia, milho, açaí e agora fabricarão manilhas na Colônia Ênio Pinheiro, em Porto Velho.
Em janeiro, tomou conhecimento do decreto da presidente Dilma Roussef, desapropriando 1,7 mil da ex-Fazenda Rio Branco II, em Ariquemes, onde 116 famílias plantarão hortifrútis livres de agrotóxicos a partir de março-abril. Obviamente, se o dinheiro federal chegar.
As terras próximas à cidade pertenciam ao cacauicultor Hugo Frei, célebre na Rondônia dos anos 1980. O Incra promete fazê-la produtiva. Do governador resgata-se uma frase que resume a reforma agrária em Rondônia: “Ela deve ser feita de baixo para cima, e não o contrário. As terras têm de ser próximas à infraestrutura de saúde, educação e acesso a estradas. Temos que acabar com a cultura de adquirir terra nos confins das matas e jogar as famílias sem estradas, longe de escolas e de recursos de saúde”.
O discurso de Confúcio no Terceiro Milênio da Humanidade assemelha-se ao do saudoso deputado federal Jerônimo Santana em meados dos anos 1970, quando se indignava com a procissão de corpos de vítimas da malária, transportados em redes, rumo a covas rasas no meio da floresta dos ex-projetos Riachuelo, Adolfo Rhol, Rolim de Moura, Abaitará e Paulo Assis Ribeiro.

Se o governador bisar a dose de tão relevantes visitas, irá encontrar no interior do Estado – ali mesmo em sua querida Ariquemes – situações que o colocarão no bonde da história fundiária contemporânea.
No mapa fundiário rondoniense existem componentes pouco vistos na internet, em jornais impressos e no horário nobre da TV. Por exemplo, em 25 de janeiro de 2015, alguns corações pulsavam na mata, distantes dos Palácios Presidente Vargas e Rio Madeira, sedes da máquina governamental.
Naquele dia, a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental reuniu famílias das áreas Renato Nathan 2, Canaã e Raio do Sol, em Ariquemes com professores, estudantes, advogados, médicos e trabalhadores de diferentes cidades. Todas tomaram conhecimento da ordem de despejo dada pela juíza Elisângela Nogueira, de Ariquemes. Elas terão que desocupar lotes. Para onde ir? – ninguém sabe, nem a juíza. Solidariedade é apenas uma palavra.
Não há como ignorar que esses duzentos camponeses do Canaã, onde colhem abóboras gigantes, ocupam as terras desde 2003. Acampados do Raio do Sol lá estão desde 2006, e os do Renato Nathan 2, desde 2012. Tal qual fizeram em Jacinópolis, dez anos atrás, nesses lugares eles construíram “no muque” casas, estradas, pontes, barracões, templos religiosos. Ali mesmo, ouviram de funcionários do Incra: “Canaã é área camponesa mais produtiva de Rondônia, porque tem variedade de plantações e criações variadas para o sustento próprio e que ajudam a abastecer cidades vizinhas”.

O velho trio “sangue, suor e lágrimas” fez morada nesses lugares, ao custo altíssimo de blitz, multas e ordens judiciais de despejo, que mesmo assim, ainda não fizeram sucumbir o sonho da organização e da luta pelo solo que não será utilizado tão somente para a fobia exportadora, especialmente de grãos.
Vá lá, governador. Se a indenização das vítimas da Chacina de Corumbiara (1995) não foi reconhecida no final de 2014, pelo menos em sua Ariquemes há chance de o governo se redimir, evitando novamente manifestações que não raro resultam em trancamento de ônibus escolares, ocupações de prefeituras, sedes regionais do Incra, empresas de energia elétrica e rodovias.
A rebeldia está viva. Impossível haver sentenças judiciais e comemorações de safras familiares ou do agronegócio, sem que as autoridades desconheçam o cotidiano dessas famílias. Maomé precisa ir à montanha, eis que a montanha rondoniense já esteve no terreiro dele.
Democracia pressupõe enxergar os gargalos fundiários, receber críticas, solucionar antigas pendências e fazer justiça. Ainda é tempo.
Enquanto isso, em Vilhena, a 2ª Vara Cível do Judiciário recebe do Banco da Amazônia S/A o pedido de execução do americano Kelly Alan Freese, colocando à venda, por R$ 2 milhões, o seu lote rural 11-A de mil hectares no Setor 12, da Gleba Corumbiara. A primeira venda das terras ocorrerá no dia seis de março próximo.
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