Terça-feira, 21 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

Praça e poesia, o povo em movimento


Porto Velho aguarda pacientemente o dia em que sua gente possa retornar às praças, delas fazendo o espaço diário para reflexões, encontros, reencontros, pregação evangélica, meditação, protesto, ou, simplesmente, observar a passarada.

Esse dia chegará, com ou sem compromissos eleitorais. Ora, devolver uma praça ao povo independe de programa, projeto, compromisso; é questão de brio.

Professores, religiosos, profissionais liberais, pipoqueiros, vendedores de churros, movimentos sociais, universitários, moradores de rua e tantas outras categorias se sentirão bem ao Sol da pequena, mas calorosa praça Jônathas Pedrosa. Ou das igualmente judiadas praças Rondon e Aluízio Ferreira. A Rondon é secular.

Dentro de seus limites, a praça tudo permite. Usá-la significa revalorizar e revitalizar a cidade, fazer ressurgir o namoro, um velho costume que a urbanização intimidou. Dotá-las de bancos possibilita a leitura diária de livros, jornais, apostilas e almanaques.

No Rio Grande do Norte, Câmara Cascudo ensinava: “É na calçada que tudo começa, onde as pessoas sentam, conversam, e as calçadas levam às ruas e as ruas, às praças”. Eis aí a maneira prática de evitar, ou pelo menos controlar o excesso de barbaridades vistas em redes sociais na internet; BBBs da ociosidade, da mediocridade e do desamor; “achismos de botecos”, entre outras.

Caminhar pela praça permite rever a notável bailarina, comentar o futebol e a política, observar radiantes colegiais, manifestar-se a respeito disso ou daquilo, é também a maneira prática de rejeitar inutilidades televisivas pouco edificantes.

A poesia pode ser declamada na praça, tal qual o saudoso Cabo Lira fazia na porta do Boteco de Dona Cleusa, na Rua José de Alencar, sob os aplausos do jornalista Paulo Queiroz.

Ressuscitar as praças de Porto Velho significa trazer de volta arte, o artesanato na calçada, a falação. Castro Alves não ia ao povo pregar a libertação dos escravos, porém, defendia justiça social, mudanças, o papel que cabe aos intelectuais e à arte, especialmente, à poesia.

Na medida certa, a praça nos revela o drama do ser humano, suas agruras e suas alegrias. Para vivermos, necessitamos da praça livre, tanto quanto o céu é do condor, a ave símbolo da libertação sul-americana.

Queremos nossas praças de volta, preferencialmente antes das próximas eleições municipais, sem dar trelas à demagogia de ninguém.

Podemos até nos permitir a bater palmas pela devolução legítima, eficaz e pacífica. É o reconhecimento por tanta espera.

Que elas nos embalem em poesias, canções e conversas que a modernidade teima em sepultar. Amém.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoTerça-feira, 21 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Ditadura deu cadeia a militar que governou Rondônia duas vezes, operando milagres

Ditadura deu cadeia a militar que governou Rondônia duas vezes, operando milagres

A história do tenente-coronel paraquedista Abelardo e Alvarenga Mafra, ex-governador do extinto Território Federal do Guaporé não aparece em livros, t

Bacellar agrada no 1º ano de governo

Bacellar agrada no 1º ano de governo

Em 1º de janeiro de 1918, passados 107 anos, a edição nº 65 do jornal Alto Madeira via "tudo azul", ou seja, o Estado do Amazonas estava bem em sua gi

Gênese rondoniense (4 - final) - Aos olhos de observadores, William Curi foi “vítima de conspiração do partido do governo”

Gênese rondoniense (4 - final) - Aos olhos de observadores, William Curi foi “vítima de conspiração do partido do governo”

O agrônomo William Curi teve efêmera passagem pela Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, onde ensaiou seus passos políticos, sem obter o mes

Gênese rondoniense (3) – No xadrez sucessório, a continuidade de Cury espremeu Teixeirão

Gênese rondoniense (3) – No xadrez sucessório, a continuidade de Cury espremeu Teixeirão

Depois da exoneração de William Cury e do êxito do Polonoroeste, o INCRA daria conta de titular 3,4 milhões de hectares de terras em Rondônia, somando

Gente de Opinião Terça-feira, 21 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)