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Montezuma Cruz

Pesquisadores de oito instituições fazem mutirão para estudar o mosquito Mansonia


Pesquisadores de oito instituições fazem mutirão para estudar o mosquito Mansonia - Gente de Opinião

MONTEZUMA CRUZ
Com fotos de Ytalo Andrade [originais no site Expressão Rondônia]

Dois anos depois da maior infestação ocorrida nas circunvizinhanças da Usina Hidrelétrica Jirau e em Porto Velho, o comportamento do mosquito Mansonia será agora estudado por especialistas de oito fundações, institutos de pesquisa, e universidades. Encontrado do Suriname à Argentina, esse mosquito ainda não causa doenças, mas perfura fortemente a pele das pessoas.


Ao anunciar esta semana pesquisa regulada pela Agência Nacional de Energia Elétrica, a empresa Energia Sustentável do Brasil (ESBR) pretende auxiliar a saúde pública.

Segundo o pesquisador e biólogo da Oikos Consultoria e Projetos, Fábio Costa, o envolvimento das comunidades afetadas é fundamental para o êxito do projeto. “Pesquisadores visitarão residências para instalar armadilhas, fazerem coletas e análises necessárias”, disse.

O Mansonia prolifera atualmente em áreas vizinhas à Mineração São Lourenço, Projetos Joana D’Arc e Santa Rita, Morrinhos e Belmonte. É o maior causador de coceira nas pessoas, ganhando longe do carapanã e do pium.

O gerente de engenharia e planejamento da ESBR, Luís Fea, acredita na possibilidade de elaborar “o protocolo adequado” para reduzir a infestação do mosquito.

Em abril de 2015, a empresa Sapo estudou os hábitos do Mansonia, no momento em que ela já invadia casas por frestas, janelas e telhados em Jaci-Paraná e Nova Mutum-Paraná, a cerca de cem quilômetros de Porto Velho.

Biólogos constataram o aumento dos mosquitos adultos, por causa da profusão de plantas macrófitas em igarapés da região às margens do Rio Madeira. Aguapé, por exemplo, concentrava 85,7% das larvas em 2015.

Pesquisadores de oito instituições fazem mutirão para estudar o mosquito Mansonia - Gente de Opinião

Além do aguapé, onde eles coletaram 85,7% das larvas, apareciam outras vegetações: Pontederia sp (10,9%) e Paspalum repens (3,4%), ambas comuns no Pantanal Mato-Grossense e na Amazônia.

Em dois bancos de macrófitas encontrados nas margens do Madeira, o Igarapé Ceará apresentou 2,9% das larvas do Mansonia e o Igarapé Flórida 97,1%.
Larvas coletadas com o auxílio de pipetas plásticas foram inseridas em tubos com rosca contendo álcool a 70%. A identificação foi feita no laboratório de entomologia médica do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá.

“Ele é mais agressivo que outros já conhecidos na Amazônia, porque ataca os seres humanos quando entram em áreas de floresta”, alertou em 2017 o biólogo Flávio Aparecido Terassini, da Faculdade São Lucas em Porto Velho e mestre pela Universidade de São Paulo (USP).

Terassini pesquisou o Mansonia no período 2001-2003. Até 2011 Até 2001 Terassini coletou mosquitos, barbeiros e carrapatos nos rios Mamoré e Guaporé e, antes da construção das usinas Jirau e Santo Antônio já identificava grande quantidade de mosquitos nas barrancas dos rios. “Um dia coletamos seis mil em uma hora [cerca de 100 por minuto]”, lembra.

Em março de 2017, Jaqueline Coradini levou os repórteres até a casa do pai dela, o paranaense Ademar Artur Coradini, que se intoxicou com veneno. Seu quintal estava repleto de latas vazias de inseticida. Ele também usava raquete mata-mosquito, vendidas quase três vezes mais caro que as latas de inseticida. A raquete custava R$ 35.

A Faculdade São Lucas estudou pela primeira vez os mosquitos em parceria com Instituto de Ciências Biomédicas 5 USP em Monte Negro, município do Vale do Jamari, a 248 quilômetros de Porto Velho.

Em fevereiro do ano passado, na região de Nova Mutum-Paraná e Jacy-Paraná, a pedido de um escritório de advocacia de Porto Velho, a bióloga, mestre especialista em meio ambiente Káthia Inaja Pinheiro dos Santos coletou mosquitos Mansonia de três gêneros e quatro espécies.

Ao todo, 810 mosquitos [Diptera: Culicidae], usando-se a metodologia mais adequada para coleta de espécies hematófagas. Por atração humana protegida em Jacy-Paraná: 497 mosquitos; em Nova Mutum-Paraná: 313.

Em Nova Mutum-Paraná, Khátia dos Santos coletou apenas dois gêneros. Espécimes do gênero Mansonia foram outra vez os mais frequentes e numerosos nas amostras, representando 311 mosquitos (99,4%).

“Os valores do índice de picadas por homem hora variaram entre 17.0 e 64.00, o que quer dizer que no horário de menor quantidade estima-se 17 mosquitos picando uma pessoa e uma hora depois, segundo horário de 64.0 mosquitos picando uma pessoa/h”, revela o estudo da bióloga.

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Nº DE MOSQUITOS    GÊNERO    ESPÉCIMES    %    IPHH
P1 = 1º hora de coleta    Mansonia    17    8.7    17,0
P2 = 2º hora de coleta    Mansonia    64    23.8    64,0
P3 = 3º hora de coleta    Mansonia    42    16.7    42,0
P4 = 4º hora de coleta    Mansonia    37    15.1    37,0
P5 = 5º hora de coleta    Mansonia    45    17.7    45,0
P6 = 6º hora de coleta    Mansonia    46    18.0    46,0

Número de indivíduos do gênero Mansonia coletados por hora, no distrito de Nova Mutum Paraná, no dia 13 de fevereiro de 2017, e sua frequência.
IPPH = índice de picada homem/hora.

“Dentre os Culicídeos coletados em Jaci Paraná, o gênero Mansonia sp. contribuiu com 96,8% dos indivíduos, distribuídos em seis horários, sempre em maior porcentagem, provavelmente picando as pessoas”.

“O índice de picadas por homem/hora foi maior no quinto horário. O IPHH geral destas localidades foi de 70.0 m/h/h no primeiro horário e de 87.0 m/h/h no quinto horário. Ou seja, existe um ambiente com maior probabilidade de perturbação para as pessoas”, ela constatava.

QUEM PARTICIPA
“Pesquisa Mansonia e você”, anunciada esta semana pela ESBR, conta com os seguintes parceiros: Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera, Instituto Nacional e Pesquisas da Amazônia, Universidade Federal de Rondônia, Universidade Federal do Acre, Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Pesquisas Tropicais de Rondônia, Instituto Evandro Chagas e Oikos Consultoria e Projetos.

Galeria de Imagens

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