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Montezuma Cruz

PAÍS DA MANDIOCA E NÃO DO TRIGO



Quem se beneficia do veto?


NAGIB NASSAR (*)

"A mistura da mandioca ao trigo é uma solução muito eficiente para substituir importações e evitar o risco da dependência". 

A notícia sobre o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto de lei que regulamentaria a adição de derivados de mandioca à farinha de trigo deixou espantados a nós cientistas, aos economistas e até aos observadores neutros de outros países.

O que o senhor presidente vetou foi aquilo que ele mesmo colocou como prioridade máxima e uma vez chamou de melhorar a vida dos pequenos agricultores e outra vez de fome zero. Tantos nomes são dados: mudam-se as palavras, mas o conteúdo fica mesmo.

Misturar mandioca com trigo para fazer pão e outros alimentos significaria muito para as camadas mais pobres do País. Os pequenos agricultores teriam a valorização de seu produto, plantado por sua família, dando maior oportunidade de trabalho para todos, fazendo com que a cada ano eles pudessem melhorar ainda mais as suas rendas e aumentar o seu nível de vida.

Na mesma semana, outra notícia impressionou o Brasil e os brasileiros: a alto do preço do trigo importado dos Estados Unidos e do Canadá. Nas bolsas de Kansas City e de Chicago, contratos de futuro do trigo fecharam em alta, em valores surpreendentes.

Parece-nos que quem aconselhou o senhor presidente a vetar o projeto de lei queria que nós importássemos e pagássemos nada menos do que 2 bilhões de dólares por ano, não visando à segurança alimentar do brasileiro, garantida pelo consumo do nosso próprio produto. Mais do que isso, eles querem que nós fiquemos na dependência dos países produtores de trigo, principalmente os Estados Unidos.

País produz mandioca e não trigo 

PAÍS DA MANDIOCA E NÃO DO TRIGO - Gente de Opinião
Fartura de mandioca na área de desembarque da indústria Halotek-Fadel, em Palmital (SP)
Parece que aqueles que aconselharam o senhor presidente tem pouco conhecimento sobre a historia mundial e como a necessidade de trigo foi usada como instrumento político contra países da África e Ásia.

Se a Índia conseguiu uma situação política firme e forte em sua política externa, foi por causa da auto-suficiência da produção do trigo, a partir da década de 60. Isso não foi possível antes, quando precisava importar a maioria de seu consumo dos Estados Unidos.

O Brasil não produz trigo, mas sim mandioca. A demanda brasileira para fazer pães não é menor do que 10 milhões de toneladas de trigo anualmente, das quais o País importa mais de 80%.

Esta quantidade vem dos Estados Unidos e do Canadá e custa ao Brasil bilhões de dólares a cada ano. A bola cresce todos os anos com o aumento de preços dos alimentos e dos grãos. Um problema mundial que aqueles que aconselharam o presidente conhecem e do pelo qual todos nós sofremos. A mistura da mandioca ao trigo é uma solução extremamente eficiente para substituir essas importações e evitar o risco da dependência, e ela fornece ao país a dignidade da auto-suficiência. 

Estranheza 
PAÍS DA MANDIOCA E NÃO DO TRIGO - Gente de Opinião
Fartura de fécula: a saída para evitar importações excessivas de trigo, a peso de dólar


Os legisladores do nosso país, responsáveis pela análise e aprovação do projeto de lei no Congresso Nacional, compreendem muito bem essas necessidades e a importância socioeconômica embutida no projeto lei, e aprovaram com entusiasmo e por unanimidade a proposta. A movimentação em favor do projeto na Câmara e no Senado foi grande e impressionante até a sua aprovação.

Há ainda um assunto que recebia mais entusiasmo dos senadores e dos deputados, trata-se da formatação de um instrumento eficaz e de valorização de uma cultura essencialmente brasileira e de sustento de pequenos produtores do País. Causa-nos muita estranheza e se coloca muitas questões no ar o fato de que o veto vem aconselhado pelo Ministério da Agricultura! Por quê? Esta é uma pergunta continua sem resposta!

Quem se beneficia do veto? São aqueles interesses comerciais dos grandes importadores de trigo estabelecidos em certos estados do país, situados perto de portos e dos meios de desembarque. São os moinhos gigantes instalados nos mesmo estados. Todos são favorecidos por grande ganhos de importações, e, ainda, por subsídios internacionais.

Parece que é fácil falar sobre a fome zero, mas quando chega a hora de execução, a promessa é esquecida e até mesmo vetada, enganando os pobres e vendendo ilusões, falsos sonhos e promessas não cumpridas.

(*) É professor de Genética da Universidade de Brasília. Artigo originalmente publicado pelo Jornal da Ciência, SBPC, JC e-mail 3619, de 14 de Outubro de 2008.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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