Sexta-feira, 24 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

No 286, manhã de sorrisos


No 286, manhã de sorrisos - Gente de Opinião
Segundona, 20 de janeiro, Dia Internacional da Paciência, 7h30, espero 20 minutos na Rua Andreia até a chegada do próximo ônibus. Lá vem ele, o 296, empoeirado, rangendo ferragem e lataria. "Coitado, imaginei, esse já rodou um tanto em Macapá e veio agonizar em Porto Velho".

Do outro lado da rua, o cego Ceará, grita para o vendedor de macaxeira que, desta vez, embarcará rumo ao bairro Guajará e não para o centro da cidade. A cena se passa no ponto, situado em frente à antiga (e desativada) Base Crato da Polícia Militar, no Aponiã, onde resido há mais de um ano.  

Ceará é uma das presenças notáveis nos coletivos da Capital, pois é falante, antenado com o mundo, anda sempre com o celular ligado na emissora de rádio acompanhando os passos do INSS, da diplomacia, da produção agrícola, da indústria, sabe quando existe carestia, fuga de presos (aqui e no Paraguai), desemprego, campanhas de saúde pública. Quando liga a vitrola, comenta um pouco de tudo com os motorasincluindo brigas de vizinhos.

"Graças a Deus! bom dia, o senhor é muito bom", agradece a senhora obesa, que sobe com dificuldade, agarrando-se à primeira gaste metálica ao lado . O motorista educado aguarda, a cobradora sorri. O dia e a semana começam bem com gestos de gentileza. "Eu vou descer lá no Sesc, mas vou me ajeitando por aqui", comenta outra mulher uniformizada ao surpreender-se com a gentileza da mocinha estudante que lhe cede o lugar. 

Ah! se todo dia fosse assim, idosos agradeceriam. Sem muito contentamento, contenho-me, pois as aulas recomeçam em fevereiro próximo: será que os estudantes acordaram para o ditado popular "eu sou você amanhã"? 

O 296 é a síntese do sucateamento visível no transporte coletivo porto-velhense. Lógico que há carrocerias iguais ou piores, basta viajar para o Jardim Santana.  Chão encardido, alguns vidros soltos, faz um barulhão daqueles cada vez que o motorista o estaciona e arranca nos pontos. O plástico destinado a revistas e livros também está sujo, às vezes entupido por copos plásticos e panfletos de propaganda amassados.

A viagem segue. Não há o que reclamar quando preferimos não pagar cinco reais pela corrida no táxi compartilhado, optando pelo tradicional meio de transporte que na semana passada estava paralisado.   

Durante audiência no Tribunal Regional do Trabalho, o Consórcio SIM alegou que a receita da empresa "teve queda considerável em dezembro, por isso motoristas e cobradores ainda não receberam os pagamentos". Ainda não consigo compreender a globalização econômica nos seus quesitos monopólios e investimentos; só me aparecem quesitos referentes ao lucro. 

Em outubro do ano passado,  um congresso sobre mobilidade urbana reuniu em São Paulo 2,4 mil especialistas nacionais e internacionais. Isso pouco repercutiu em Porto Velho, atualmente habitada por mais de 530 mil "almas".

Sim, senhor, as coisas são como são. E as novelas do mundo real do transporte urbano seguem pelas ruas e avenidas, rangendo latarias e ferragens.


* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 24 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Ditadura deu cadeia a militar que governou Rondônia duas vezes, operando milagres

Ditadura deu cadeia a militar que governou Rondônia duas vezes, operando milagres

A história do tenente-coronel paraquedista Abelardo e Alvarenga Mafra, ex-governador do extinto Território Federal do Guaporé não aparece em livros, t

Bacellar agrada no 1º ano de governo

Bacellar agrada no 1º ano de governo

Em 1º de janeiro de 1918, passados 107 anos, a edição nº 65 do jornal Alto Madeira via "tudo azul", ou seja, o Estado do Amazonas estava bem em sua gi

Gênese rondoniense (4 - final) - Aos olhos de observadores, William Curi foi “vítima de conspiração do partido do governo”

Gênese rondoniense (4 - final) - Aos olhos de observadores, William Curi foi “vítima de conspiração do partido do governo”

O agrônomo William Curi teve efêmera passagem pela Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, onde ensaiou seus passos políticos, sem obter o mes

Gênese rondoniense (3) – No xadrez sucessório, a continuidade de Cury espremeu Teixeirão

Gênese rondoniense (3) – No xadrez sucessório, a continuidade de Cury espremeu Teixeirão

Depois da exoneração de William Cury e do êxito do Polonoroeste, o INCRA daria conta de titular 3,4 milhões de hectares de terras em Rondônia, somando

Gente de Opinião Sexta-feira, 24 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)