Terça-feira, 7 de janeiro de 2020 - 09h43
O amanhecer em Porto Velho é esplêndido, exibindo suas nuances
a sonolentos, ou mesmo, a pessoas que dormiram bem.
São 7h11. Cá estou
novamente dentro do ônibus da linha Guajará, no qual embarco na Rua Andreia, no
Aponiã.
Dentro dele, o som
estridente traduz o sentimento do motorista, possível DJ de todas as
‘sofrências’. É nesse embalo que percorro quase a metade da Avenida Calama,
rumo ao trabalho.
Na manhã de hoje (7), o
cardápio musical do motora estava
requintado nesse aspecto. “Eu tô
falando mal de você /Que você nunca soube fazer /Cem mil com quem quiser eu
aposto /Se ela bater o dedo eu volto /Ela não vale um real, mas eu adoro”,
ouviam todos, em pé, acotovelados, ou sentados – estudantes, servidores
públicos, trabalhadores em geral, homens, mulheres, crianças e idosos.
Começar o dia desse jeito
traz uma energia que deve ser desembarcada da mente, antes do cruzamento da Calama
com a Avenida Presidente Dutra, zona do TRT, Sesc e, agora, da mais nova
habitante do pedaço, a Escola de Contas do TCE.
Segue o menu musical do motora, desta vez, com outros refrões:
“A dose que mudou a minha vida” e “para aproveitar mais a semana”. No que
deduzi, lembrando-me dos tempos em que mergulhava na manguaça: que
aproveitamento é esse?
A apologia ao consumo
alcoólico e o desmerecimento à mulher rodaram a avenida sobre quatro rodas. Ao
descer, aquele som inalterado entraria pelos ouvidos dos pacientes passageiros,
quisessem ou não.
Entre 1976 e 1979, a
parada de sucessos dos DJs das boates Copacabana, Paissandu e Riomar, no Bairro
do Roque, caprichava. Ali, a ‘sofrência’ era light perto das desesperantes
composições de hoje em dia.
Poupai-me, Senhor, amanhã,
no mesmo horário, entrarei naquele ônibus do SIM. Aliás, será que essa empresa
ainda existe?
Apesar de tudo, compreendo
o desabafo do motora. Talvez ele
esteja de verdade compartilhando o seu “eu” machucado pela mulher da canção. Motora é um ser humano igualzinho aos outros.
Até que hoje ele não deu
toda potência ao seu equipamento de som, o que não acontece com um exagerado colega
de volante, candidato ao decibelímetro da Polícia Ambiental.
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