Sexta-feira, 5 de novembro de 2010 - 14h36
RONDÔNIA DE ONTEM
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
O ronco dos motores e a escavação de grotas profundas no garimpo Topless começavam às 4h, em Colorado do Oeste. Cheguei lá de táxi, acompanhado pelo fotógrafo José Varella, a serviço do Jornal do Brasil. Por que Topless? Na estrada se contemplam dois morros salientes, lembrando seios de mulher.
Corria o ano de 1985. Nas ruas da pequena cidade, paranaenses sem tradição na cata do ouro se misturavam a algumas centenas de homens procedentes de diferentes lugares da Amazônia. Traziam apenas a roupa do corpo, a mochila, o rádio de pilha e algum dinheiro.
A maioria chegava atraída por notícias divulgadas pela Rádio Nacional de Brasília, dando conta da existência de um metal fino com 14% a 16% de impurezas.
Aquela região distante quase 800 quilômetros (por estrada) da capital rondoniense recebeu garimpeiros vindos de Itaituba, Jacareacanga e Serra Pelada (ambas no Pará), Alta Floresta e Cuiabá (MT), ou expulsos pela cheia do Rio Madeira.
Hotéis, pensões e dormitórios cobravam diárias de 20, 25 e 30 mil cruzeiros. Em matéria da criatividade de nomes, as “fofocas” de Colorado iam além do Topless: Sete Voltas, Grota do Armando, Serra da Tanguinha, Grota da Rolinha e Baixão do Enganado.
O grupo Anglo American colocava os pés na região, negociando ouro e diamantes por meio de suas prepostas, as minerações Sopeme, São João e Tanagra. Percebendo isso, a Companhia de Mineração de Rondônia (CMR) instalava um escritório e começava a comprar também, pagando 120 mil cruzeiros o grama.
As grotas com sete a dez metros produziam 40 a 50g por dia. Muito pouco, segundo o gaúcho Anibaldo Augustini, que alertava: “Ouro aqui só dá no fundo do terreno. Por enquanto, só estamos no rastro”.
O mais conhecido bamburro (achado) de ouro em Colorado coube ao garimpeiro Zé Goiano: ele obteve três quilos depois de quatro meses de escavações. O piauiense José Marques de Souza, retirante de Serra Pelada, dizia ter encontrado ametista em Xambioá (PA), aventurando-se depois na Bolívia, de onde saiu deportado com outros brasileiros. “Lá na serra eu me lasquei: perdi minha caminhonete D10 e R$ 100 milhões que paguei para os diaristas que trabalhavam comigo. Só para tirar trezentos gramas de ouro”, lamentava ao repórter.
Da batalha contra a Docegeo em Serra Pelada aos morros de Colorado, a parada foi dura para garimpeiros que já estavam em Rondônia e para os que chegavam depois das notícias dadas pelo rádio.
O cearense Pedro Lino Silva teve que correr de Espigão do Oeste, trazendo junto um grupo com mais de 20 companheiros. Haviam sido despejados pela Mequimbrás, porque retiravam cassiterita de uma mina abandonada pela empresa. Os empregados confiscaram-lhes peneiras, bateias, pás e picaretas. A polícia ficava com todos esses equipamentos de trabalho.
Siga montezuma Cruz no
www.twitter.com/MontezumaCruz
ANTERIORES
►O próprio DNPM avisou: tem ouro no Rio Madeira
►Em 1984, cheia, naufrágio, apagão e protesto
►No começo da viagem, charque e farinha; em Rondônia, malária
► Angelim tenta frear migrantes expulsos pela seca no sul
►Propostas renovadas e peões em fuga
►Antes do Estado, a escravidão
►'Índio bom é índio morto'
► Chacinas indígenas marcaram para sempre a Amazônia Ocidental
►'O coração do migrante é verde'
►O futuro no Guaporé, depois Cone Sul
► Coronel é flagrado de madrugada, levando peões para o Aripuanã
Lodi, mestre das letras, lança “Varadouro”, contando a história de Maria da Onça
Ao longo de duas décadas o escritor, jornalista e poeta Edson Lodi Campos Soares vem resgatando notáveis personagens da Amazônia Brasileira, cuja vi
Rio Juruá é uma extensa "estrada aquática" onde só o motor de rabeta salva canoas
Fiz três viagens pelo Rio Juruá de duas décadas para cá. Vi o esforço dos pilotos de canoas e barcos para desencalhá-los entre Marechal Thaumaturgo e
WASHINGTON, DC – O reconhecimento da ação cidadã voluntária é uma prática tradicional usada em países do chamado 1º Mundo. O rondoniense Samuel Sales
Jagunços de colonizadora jogaram colono baleado às formigas
"Que horror" - exclamávamos na Redação de A Tribuna, quando soubemos do ocorrido com o gaúcho João Cecílio Perez em 1979. Jagunços a serviço da Coloni