Sexta-feira, 19 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

Colorado fervilha com o garimpo Topless




RONDÔNIA DE ONTEM
 
 

 

Colorado fervilha com o garimpo Topless - Gente de Opinião

MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias

 

O ronco dos motores e a escavação de grotas profundas no garimpo Topless começavam às 4h, em Colorado do Oeste. Cheguei lá de táxi, acompanhado pelo fotógrafo José Varella, a serviço do Jornal do Brasil. Por que Topless? Na estrada se contemplam dois morros salientes, lembrando seios de mulher.

Corria o ano de 1985. Nas ruas da pequena cidade, paranaenses sem tradição na cata do ouro se misturavam a algumas centenas de homens procedentes de diferentes lugares da Amazônia. Traziam apenas a roupa do corpo, a mochila, o rádio de pilha e algum dinheiro.

A maioria chegava atraída por notColorado fervilha com o garimpo Topless - Gente de Opiniãoícias divulgadas pela Rádio Nacional de Brasília, dando conta da existência de um metal fino com 14% a 16% de impurezas.

Aquela região distante quase 800 quilômetros (por estrada) da capital rondoniense recebeu garimpeiros vindos de Itaituba, Jacareacanga e Serra Pelada (ambas no Pará), Alta Floresta e Cuiabá (MT), ou expulsos pela cheia do Rio Madeira.

Hotéis, pensões e dormitórios cobravam diárias de 20, 25 e 30 mil cruzeiros. Em matéria da criatividade de nomes, as “fofocas” de Colorado iam além do Topless: Sete Voltas, Grota do Armando, Serra da Tanguinha, Grota da Rolinha e Baixão do Enganado.

O grupo Anglo American colocava os pés na região, negociando ouro e diamantes por meio de suas prepostas, as minerações Sopeme, São João e Tanagra. Percebendo isso, a Companhia de Mineração de Rondônia (CMR) instalava um escritório e começava a comprar também, pagando 120 mil cruzeiros o grama.

As grotas com sete a dez metros produziam 40 a 50g por dia. Muito pouco, segundo o gaúcho Anibaldo Augustini, que alertava: “Ouro aqui só dá no fundo do terreno. Por enquanto, só estamos no rastro”.

 Colorado fervilha com o garimpo Topless - Gente de Opinião

O mais conhecido bamburro (achado) de ouro em Colorado coube ao garimpeiro Zé Goiano: ele obteve três quilos depois de quatro meses de escavações. O piauiense José Marques de Souza, retirante de Serra Pelada, dizia ter encontrado ametista em Xambioá (PA), aventurando-se depois na Bolívia, de onde saiu deportado com outros brasileiros. “Lá na serra eu me lasquei: perdi minha caminhonete D10 e R$ 100 milhões que paguei para os diaristas que trabalhavam comigo. Só para tirar trezentos gramas de ouro”, lamentava ao repórter.

Da batalha contra a Docegeo em Serra Pelada aos morros de Colorado, a parada foi dura para garimpeiros que já estavam em Rondônia e para os que chegavam depois das notícias dadas pelo rádio.

O cearense Pedro Lino Silva teve que correr de Espigão do Oeste, trazendo junto um grupo com mais de 20 companheiros. Haviam sido despejados pela Mequimbrás, porque retiravam cassiterita de uma mina abandonada pela empresa. Os empregados confiscaram-lhes peneiras, bateias, pás e picaretas. A polícia ficava com todos esses equipamentos de trabalho.

 Siga montezuma Cruz no

 Gente de Opinião

 
www.twitter.com/MontezumaCruz

 
 


ANTERIORES


O próprio DNPM avisou: tem ouro no Rio Madeira

Em 1984, cheia, naufrágio, apagão e protesto

No começo da viagem, charque e farinha; em Rondônia, malária

Angelim tenta frear migrantes expulsos pela seca no sul

Propostas renovadas e peões em fuga

Antes do Estado, a escravidão

'Índio bom é índio morto'

Chacinas indígenas marcaram para sempre a Amazônia Ocidental
 

'O coração do migrante é verde'

►O futuro no Guaporé, depois Cone Sul


Coronel é flagrado de madrugada, levando peões para o Aripuanã

 

O gaúcho Minski, rumo a Cerejeiras

► Valdemar cachorro, o 'compadre' dos índios

► Policiais paulistas 'invadem' Rondônia 
    na caça aos ladrões de cassiterita


► TJ manda libertar religiosos e posseiros
     após o conflito  da  Fazenda Cabixi


► A sofrida busca do ouro no Tamborete,
    Vai quem quer  e  Sovaco da Velha


► Aquela que um dia foi Prosperidade


► Energia elétrica a carvão passou raspando

 

► Cacau chega à Alemanha, sob conspiração baiana

► Ministro elogia os 'heróis da saúde'

 

► Naqueles tempos, um vale de lágrimas

 
Publicado semanalmente neste site,
no
RondôniaSim e no Correio Popular.


 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 19 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Do “cemitério de processos” à fedentina forense, advogados penavam

Do “cemitério de processos” à fedentina forense, advogados penavam

Muito antes das modernas sedes do Fórum Criminal de Porto Velho e do Tribunal de Justiça de Rondônia, a história da rotina de atendimento no antigo

Aplicativo revelará conduta afetiva em casos psicológicos ou de violência

Aplicativo revelará conduta afetiva em casos psicológicos ou de violência

Um aplicativo de fácil acesso popular para o registro de antecedentes de conduta afetiva, em casos de violência de natureza física ou psicológica fo

Processos sumiam com facilidade no Fórum da Capital

Processos sumiam com facilidade no Fórum da Capital

Numa caótica organização judiciária, apenas duas Comarcas funcionavam em meados dos anos 1970. A Comarca de Porto Velho começava no Abunã e terminav

Filhos lembram de Salma Roumiê, primeira advogada e fundadora da OAB

Filhos lembram de Salma Roumiê, primeira advogada e fundadora da OAB

A exemplo de outras corajosas juízas e promotoras de justiça aqui estabelecidas entre 1960 e 1970, a paraense Salma Latif Resek Roumiê foi a primeir

Gente de Opinião Sexta-feira, 19 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)