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Montezuma Cruz

Amazônia Peruana tem um tesouro




Amazônia Peruana tem um tesouro:
os reinos vegetal e animal

  
MONTEZUMA CRUZ 
Agência Amazônia

PUERTO MALDONADO, Amazônia Peruana – A natureza conserva nesta região uma das maiores riquezas mundiais dos reinos animal e vegetal. Situada a 45 quilômetros de Puerto Maldonado, a 2h30 em bote a motor, a Reserva Nacional Tambopata recebe turistas do mundo todo. Com 1,07 milhão de hectares, ela se localiza entre Sandia e Carabaya, na Província de Puno. Com topografia plana, fica a trezentos metros acima do nível do mar. Possui 575 espécies de aves, 1,2 mil de mariposas, 103 de libélulas, 135 de formigas arbóreas e 103 de mamíferos.

Lindas jovens uniformizadas recebem o turista no Aeroporto Internacional Padre Aldamiz. Na primeira conversa já se fica sabendo que Madre de Dios tem três províncias e 11 distritos. 

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Lobos do rio se exibem todas as manhãs nas águas do Parque del Manu /ENJOYTRAVEL
Por seus rios e florestas se espalham essas maravilhas misteriosas até o momento em que o visitante se aproxima. Depois, com a convivência de um ou dois dias, vai se conhecendo de tudo um pouco. E o turista já terá elementos suficientes para se inteirar da – cantada em prosa e verso – maior biodiversidade do Peru e, com certeza, uma das mais ricas do planeta.

Primeiras recomendações: vacine-se contra hepatite B e febre amarela. Procure o Sr. Jorge di Cárpio, que não apenas irá conferir o seu cartão de vacina ou levá-lo ao posto de saúde, mas relatar aspectos interessantes desse paraíso sul-americano. Uma particularidade: Seu Jorge faz uma boa amizade e gosta de fotografia. "Obrigado", ele diz, quando fotografado. Mais feliz ficará se você der um jeito de enviar depois a foto por e-mail à direção de turismo. Para os passeios, leve lanterna, repelente contra insetos, óculos de sol e chapéu.   

   

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Guia saúda os visitantes na frente do Aeroporto Padre Aldamiz /M.CRUZ

Colpa, uma aula de biologia

O que ver? Os pantanosos lagos Condenado I e Condenado II, que ficam na Zona de Reservas e são conhecidos por sua beleza verde-clara e fundo escuro. Uma grande ilha é também atração. Por ali circulam lobos peruanos em meio a palmeiras e à vegetação. Quinze espécies de papagaios, araras e periquitos são vistos diariamente no território da Colpa de Guacamayos El Colorado. Colpa é um ponto de reunião de araras, formada às margens do rio, graças aos processos de erosão que permitiram o surgimento de solos ricos em sais minerais. Mede cerca de 50 m de altura e 500 m de comprimento, por isso é considerada a maior da Amazônia Peruana. Todas as manhãs ali se reúnem seis diferentes espécies de araras, louros e periquitos. As aves coloridas fazem a cerimônia do "colpeo" que consiste em ingerir a argila do barranco, que lhes serve como complemento alimentício. Ficam ali cerca de meia hora e em seguida se afastam para voltar no dia seguinte. Ocasionalmente, aparecem também sachavacas, capivaras e lontras.

Nas copas das árvores se podem observar também diversas espécies de macacos, entre os quais o coto mono (Aloautta seniculus), o capuchino, o mono tití, e em algumas oportunidades até maquisapas (Ateles panisens). Uma conversa de meia hora com a diretora regional de comércio exterior e turismo de Madre de Dios, Yenine Maria Ponce Jara permite aprofundar ainda mais os conhecimentos sobre a região. Há muito o que visitar. No Lago Sandoval, a meia hora de Maldonado, pelas águas do rio Madre de Dios, é possível banhar-se a uma temperatura entre 20 e 24 graus C. Os passeios em canoas são conduzidos por remadores experimentados. A vegetação é rica.  


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Colpa de papagaios, um espetáculo /FLICKR

Conheça a vida animal

Bem cedo, após o café, você poderá sair para visitar o Lago Sandoval. Ali observará as aves, que saem em busca de alimento, e com um pouco de sorte, os lobos de rio capturando peixes. Essa espécie corre o risco de extinção. As primeiras horas da manhã são o melhor momento para ver fauna e obter boas fotografias. Ao meio-dia o calor amazônico é forte. A partir daí as aves preferem a sombra.

Os nativos demonstram como recolhem, abrem e comercializam castanhas, um produto importante dentro da economia regional. Depois do almoço e do descanso os guias recomendam a visita à parte leste do lago, onde se poderá apreciar uma ou mais das cinco espécies de macacos que ali vivem, entre as quais o capuchín. Se após o jantar ainda quiser retornar ao lago, poderá encontrar os caimãs negros. Uma caminhada pelo bosque primário lhe permitirá ouvir os sons noturnos da selva. 

Araras e Papagaios

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                        Yenine Jara
El Chuncho, outra Colpa de Guacamayos, fica na Reserva Nacional de Tambopata, um pouco mais distante, a cerca de 120 Km de Puerto Maldonado. Chega-se lá viajando seis horas de bote. É conhecida também por uma grande quantidade de aves. Lá como cá, devastação há. A exemplo das reservas extrativistas do Estado de Rondônia, atualmente cercadas por algumas fazendas com bois, o Lago Três Chimbadas sofreu desmatamento provocado pela criação de gado ao redor.

Assim mesmo, exibe camalotes e outras plantas bonitas. Os guias recomendam não entrar na água, devido ao hábitat de nútrias (um tipo de roedor). Se ali não pode, na Quebrada del gato pode. Ela é uma queda-d'água cristalina que nasce no Parque Nacional Bahuaja Sonene e desemboca no rio Tambopata. Nos seus arredores existe um reinado de plantas medicinais, entre as quais a renaca e a quina-quina, e madeiras, especialmente o cedo, o pau-santo e a castanheira. Também há bichos não muito distantes.

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                            Alfredo Flores

Caminha-se uma hora para chegar ao Lago Sachacayoc, dentro da reserva Candamo. Ali estão grandes palmeiras povoadas de araras e papagaios entre os meses de novembro e fevereiro. Um dos mamíferos mais comuns ali é a sachavaca (tapir), que se banha tranqüilamente no lago.

O Parque Bahuaja Sonene (1,09 milhão de ha), entre Madre de Dios e Puno, nas províncias de Tambopata e Carabaya com Sandia, fica a 90 Km de Puerto Maldonado e protege a única savana úmida tropical do Peru. Em região montanhosa, a Reserva Comunitária de Amakaeri é talvez o atrativo mais forte para os ecoturistas, por conta de sua cultura – uma das últimas que se conservam vivas no país.     

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Entrada para o Lago Sandoval, um paraíso da biodiversidade /DIVULGAÇÃO

Índios isolados

A Reserva do Alto Purus, nas províncias de Purus Atalaya e Tahumanu, apresenta uma harmoniosa relação entre homem e natureza. Grupos éticos isolados estão lá, conservando os ecossistemas e a diversidade biológica. Para compreender algumas palavras do que dizem os nativos, uma vez mais se recorre aos guias, ou, se o visitante tiver esse privilégio, valem conversas com Yenine Jara e o diretor regional de desenvolvimento social, Alfredo Flores. Além de suas especialidades, ambos são uma espécie de "tudólogos" capazes de fazer o visitante incursionar não apenas aos números e às informações socioeconômicas do Peru, mas, sobretudo, à sua história milenar.Eles contam, por exemplo, que no Parque Nacional Del Manu (1,7 milhão de ha) vivem 30 comunidades campesinas que mantêm o quéchua como língua materna.

Os povos Machguenga, Amahuaca, Yaminawa, Piro, Amarakaeri, Huashipari e Naua vêm dos tempos imemoriais. Os Nauas são homenageados até no Acre, onde deram nome a um time de futebol de Cruzeiro do Sul, onde se situa o Parque Nacional da Serra do Divisor, outro grande reinado da biodiversidade amazônica. Parte do passado desses povos, conta Flores, está conservado em pedras na região do rio Palotoa e nas ruínas de Mamaria. Ele avisa: "Há restos arqueológicos que ainda não foram estudados".

O Parque Nacional del Manu situa-se entre as províncias de Paucartambo (Cusco) e Manu (Madre de Dios), a 280 Km de Cusco e é acessado após 12 horas de camionete e 45 minutos de avião. Suas 800 espécies de aves, das quais se destacam a águia harpia e cem espécies de morcegos atraem pesquisadores do mundo todo. Eles também vêem o ganso selvagem, macacos, lobos do rio e a onça jaguatirica. Bichos, pedras e florestas são abundantes. Não há laboratório mais prático para os universitários de biologia, antropólogos e arqueólogos.

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Arborismo, um relax na floresta da Tambopata /REALTRAVEL

 
Remédios da selva 

Situado nos limites do território da comunidade Shipetiari, no Parque Manu, o Centro de Medicina Tradicional promove e difunde a prática dos povos indígenas amazônicos que habitam a Reserva Amarakaeri. Ali se pratica e difunde a cura espiritual que utiliza plantas sagradas, entre as quais, a ayahuasca (ou hoasca).

Contudo, não existe uma prática de rituais semelhantes aos do Acre e de Rondônia. Tudo é indígena mesmo. Coincidentemente, grande parte da história das religiões da floresta se passa em território peruano. Se quiser saber mais a respeito do assunto, o visitante poderá ir a Rio Branco (AC) e conhecer diversos livros do rico acervo da Biblioteca da Floresta Marina Silva.  

Na foz do rio Palotoa, proximidades da comunidade nativa de Shintuya, a quatro horas de caminhonete de Puerto Maldonado, sobe-se a montanha Pantiacolla, última vertente da Cordilheira dos Andes A 1.050 m se avista a paisagem do Alto Madre de Dios e a Reserva Comunitária Amarakaeri. Guacharos (aves noturnas que não suportam luz) têm ali o seu reduto. Calcula-se que existem uns duzentos exemplares. 

O caminho tradicional dos Harakmbut mostra aves e mamíferos e a caça e pesca são feitas a flechadas pelos índios. Nesse local os turistas podem entrar com espírito de aventura, compartilhando-o com a condição de amante da natureza, explicam os guias. As águas termais de Shintuya, à esquerda do rio Alto Madre de Dios apresenta uma temperatura entre 20 e 40 graus C. Seus diferentes componentes minerais permitem tratamentos terapêuticos, banhos e inalações. Há relatos emocionantes na internet, de turistas que as experimentaram. Clique: águas termais no Peru.

 
A REGIÃO   

Superfície de Madre de Dios: 85,1 mil Km2
Clima: quente e úmido
Temperatura média anual: 25°C
Distâncias: Puerto Maldonado-Rio Branco (AC): 573 Km
Puerto Maldonado-Lima: 1,6 mil Km
Puerto Maldonado-Cusco: 531 Km
Puerto Maldonado-Abancay: 731 Km   

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Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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