Terça-feira, 9 de novembro de 2010 - 08h06
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As mais recentes publicações apresentam os povos indígenas acreanos, os índios isolados, as origens das terras acreanas e a luta do sindicalista Wilson Pinheiro, que foi assassinado em 1980. oito anos antes de Chico Mendes /MONTEZUMA CRUZ |
MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
RIO BRANCO, Acre – Os mais antigos moradores das terras acreanas são os índios. Eles não pararam no tempo: conquistaram a valorização de sua cultura, a revitalização das línguas maternas, a retomada e atualização de rituais. Quando os primeiros exploradores chegaram aqui, em meados do século XIX, viviam na região cerca de 50 povos diferentes, quase todos falando as línguas Pano, Arawak e Arawá. Habitavam as cabeceiras dos rios Acre, Iaco, Chandless, Purus, Envira e Juruá.
Para contar as histórias desses povos, a Fundação de Cultura Elias Mansour mobilizou pesquisadores e estudiosos numa maratona de quatro anos. Dela resultaram duas publicações da Biblioteca da Floresta Marina Silva: “Povos Indígenas do Acre” (198 páginas) e “Índios isolados no Acre” (79 páginas).
“Povos Indígenas no Acre” retrata a grande diversidade sociocultural dos 18 povos que atualmente habitam o estado, mosaico conformado com a recente “emergência” dos Kuntanawa e a confirmação de três povos isolados encontrados em malocas nos altos Rio Envira e Tarauacá.
Distribuídas em 11 dos 22 municípios acreanos, as 35 terras indígenas hoje reconhecidas pelo governo federal somam pouco mais de 2,4 milhões de hectares (ha), 14,6% da extensão total do estado. Somadas às diferentes modalidades de unidades de conservação, elas totalizam mais de 7,8 milhões de ha, quase 47% da extensão total acreana.
Festivais, encontros de cultura, repasse de técnicas, centros de memória, cantos, cerimônias, rituais e uso de conhecimentos tradicionais ganham registros em vídeos, CDs e DVDs.
– Professores e agentes agloflorestais indígenas participaram desse trabalho. Todos aplicaram na prática pesquisas e material didático para uso nas escolas e em cursos de formação – destaca o chefe do Departamento Estadual da Diversidade Socioambiental e coordenador da Biblioteca da Floresta, Carlos Edegard de Deus.
Já “Índios isolados no Acre” é o produto da segunda temática montada pela Biblioteca, em agosto de 2008. Durante mais um ano em exibição e ainda acessível no site da instituição, a publicação põe os índios isolados como protagonistas centrais na narrativa histórica.
Ambas as publicações colaboram para a formação de um olhar mais realista e humano em relação ao destino desses povos, cuja sobrevivência, direitos e autonomia dependem atualmente de compromissos institucionais e das atuais futuras gerações da sociedade acreana.
Essas revistas originaram-se de um primoroso trabalho de pesquisa que envolveu mais de 60 pessoas, incluindo-se autores indígenas. Ganha o leitor pela edição caprichada, mesclando títulos atraentes, legendas e belíssimas fotos muito bem diagramadas. Quem visita o Acre tem nesse acervo uma referência para conhecer a formação da Amazônia Ocidental Brasileira.
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Jornalista Elson Martins, editor do site e um dos editores das publicações, e o coordenador da Biblioteca da Floresta, Carlos Edegard de Deus, mostram as revistas ao repórter Montezuma Cruz /MARCOS JORGE DIAS |
“Nossa terra, uma viagem à origem da vida”
RIO BRANCO – Tempo das malocas, tempo das correrias, tempo do cativeiro e tempo dos direitos. Assim os autores dividem essa história em “Nossa terra, uma viagem à origem da vida”. Desde o período sem contato com o branco à chegada dos primeiros exploradores, em 1860, ao ciclo da borracha (1890-1913) e à demarcação das terras, paralelamente à organização de grupos indígenas com a sociedade não-índia, em 1976.
Em diferentes lugares da floresta acreana, mantendo com ela a mesma relação de respeito de seus antepassados, vivem os seguintes povos indígena: Apolima Arara (Alto Rio Juruá), Apurina (originais do médio Rio Purus e Rio Acre), Arara (municípios de Marechal Thaumaturgo e Porto Walter), Ashaninka (Juruá, entre os rios Amônia, Envira e Breu), Jaminawa (em diversos vales), Jaminawa Arara (Marechal Thaumaturgo), Katukina (município de Tarauacá).
Kaxarari (ligados ao Acre, mas com terras no Estado de Rondônia), Kaxinawá (vales do Purus e do Juruá), Madija (também conhecidos por Kulina, bacias dos rios Juruá e Purus), Manchineri (Alto Iaco, entre os municípios de Sena Madureira e Assis Brasil), Nawa (margem direita do Rio Moa, no alto Juruá). Nukini (município de Mâncio Lima), Poyanawa (Vale do Rio Juruá), Shanenawa (município de Feijó), Yamanawa (Rio Gregório, município de Tarauacá), e Isolados (quatro grupos distintos, três dos quais possuem malocas e roçados na região do Envira).
O quarto grupo é formado pelos Mashco Piro, nômades que em determinadas épocas do ano atravessa a fronteira internacional do Peru com o Brasil e monta acampamentos temporários no lado brasileiro. Foram vistos nas cabeceiras dos rios Iaco e Envira.
Ao longo dessa fronteira e de suas cercanias, dez terras indígenas e um parque estadual, com extensão de 2 milhões de ha distribuídas em seis municípios, são usadas pelos isolados como territórios de moradia permanente e/ou de uso dos recursos naturais. Três das terras indígenas são exclusivamente deles. As demais terras e o parque são compartilhados com outros povos indígenas, agricultores e extrativistas.
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Índios Kulina (habitam as bacias do Juruá e do Purus) em 1928, após o contato /ARQIVO MUSEU NACIONAL |
Origem das terras acreanas
RIO BRANCO – Há milhares de anos, o deslocamento para o Oeste da placa continental da América do Sul ajudava a desenhar os novos contornos do globo terrestre – descreve “Nossa Terra”.
Além de ficar cada vez mais distante da África e alargar o Oceano Atlântico, seu encontro com a Placa de Nazca, situada no fundo do Oceano Pacífico, deu origem aos Andes. E os rios amazônicos começaram a ser represados pelo novo obstáculo que surgia.
No Acre, a água acumulada originou o Lago Pebas. Por milhares de anos este grande lago reuniu espécies de animais de água doce e salgada – arraias, tubarões e gigantescos jacarés. Estudos comprovam, por exemplo, o parentesco entre arraias que vivem hoje nos rios do Acre e as originárias do Oceano Pacífico.
Além disso, há os fósseis de dentes de tubarões marinhos – encontrados nos sedimentos da Serra do Moa e em regiões no alto Rio Acre, no município de Assis Brasil – e de jacarés gigantes, como é o caso do Purussaurus.
Com o passar do tempo, os rios amazônicos foram encontrando seu caminho para o Oceano Atlântico e o Lago Pebas, desaparecendo. Estudos indicam que as terras do Acre faziam parte do fundo do Lago Pebas, local onde estão as provas fósseis da história natural do passado geológico acreano.
BIBLIOTECA DA FLORESTA MARINA SILVA
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