Só o Hospital São José tratava 169 casos de paludismo em 1934. A malária, doença infecciosa causada por parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada de mosquitos fêmeas do gênero Anopheles, viria crescer assustadoramente no auge do período migratório, entre os anos 1970 e 1980. A edição do jornal Alto Madeira em 27 de janeiro de 1935 publicava a estatística do "anno" de 1934, assinada pelo diretor, médico José Collyer. Mantenho a maioria da linguagem médica de 91 anos atrás.
Era o ano da fundação da Universidade de São Paulo (USP); da promulgação da terceira Constituição Brasileira, em 16 de julho. Em 23 de janeiro o presidente Getúlio Vargas assinava o decreto n° 23.793, aprovando o primeiro Código Florestal Brasileiro, e em 6 de julho, o decreto n° 24.609, criando o Instituto Nacional de Estatística (atual IBGE).
O hospital diagnosticava: 49 casos de embaraço gástrico; 44 de "gripe" pulmonar; 26 de blenorragia (genorreia); 29 de úlcera "syphilítica"; 17 de reumatismo articular; 23 de pneumonia; 14 de "syphilis" terciaria; 13 de cancro venéreo; 12 de icterícia palustre; 11 de ascite palustre; 7 de úlcera cancerosa; 8 de reumatismo muscular; 9 de tuberculose pulmonar; cinco de "dysenteria amebiana", entre outras doenças e enfermidades: septicemia, furunculose, escrofulose, queimaduras de 3º grau, carcinoma, envenenamento, gangrena "humida", Albuminuria, "cephalea syphilítica", eclampsia pós-parto, "reumatismo deformante", úlcera duodenal, e choques traumáticos diversos.
Passaram pelas três clínicas do Hospital São José 735 pessoas. Já as consultas grátis atenderiam 3.800 pessoas que receberam 4.230 receitas com 11.250 fórmulas.
Lá chegavam pessoas com dedos esfacelados, abcessos nas mãos e no pescoço, falanges carentes de amputação, quistos sebáceos, tíbias fraturadas e outros ferimentos que resultaram em 147 operações praticadas com anestesia locale geral.
Caprichoso e atento esse doutor Collyer. Fosse hoje, certamente ele seria também cumprimentado pela Sesau e pelo Ministério da Saúde por contribuir corretamente com as estatísticas nacionais.
Vamos lá:
Dos 12 partos "todos laboriosos" em cinco primíparas (mulher que dá à luz pela primeira vez) e sete multíparas nasceram nove "creanças" – quatro do sexo masculino e cinco do sexo feminino. Quatro mulheres foram operadas para extração de placentas em abortos de três a cinco meses.
A Sala de Curativos atendia gratuitamente 5.450 pessoas, aplicando-lhes 3.850 injeções intramusculares, subcutâneas e endovenosas. Durante o ano morreram 39 pessoas, das quais, seis em novembro. No dia 8 desse mês morria Carlos Chagas, médico sanitarista, infectologista e cientista brasileiro.
1934 foi mesmo um ano especial para a ciência: Em 1934, o médico sanitarista e pesquisador brasileiro Carlos Chagas já era conhecido por seu trabalho no combate a doenças tropicais (malária, especialmente), pela descoberta da doença de Chagas. Ele dedicou sua vida ao estudo dessas doenças e foi pioneiro em descrever completamente uma doença infecciosa, incluindo o patógeno, o vetor, os hospedeiros e a epidemiologia.
Morria em 1934 a cientista Marie Curie uma das mais importantes da história, por suas descobertas revolucionárias no campo da radioatividade. Polonesa nascida em 1867, ela mudou-se para a França, onde estudou na Universidade de Paris e se destacou em um meio dominado por homens, algo raro para a época.
Junto com seu marido, Pierre Curie, começou a estudar substâncias que emitiam um tipo misterioso de energia, que foi chamada de “radiação”. A dedicação de Marie a esse campo levou à descoberta de dois novos elementos químicos: o polônio e o rádio. Essas descobertas revelaram que alguns materiais podem emitir energia por muito tempo, sem uma fonte externa.
Cuidados com a pele
Ainda correndo os olhos sobre a 1ª página do Alto Madeira, vejo no pé da página o anúncio do Belayacy, um "magnífico preparado amazonense para a conservação da beleza da pelle. Use este excelente preparado e sua pelle estará preservada contra: espinhas, sardas, pano, empinges e qualquer affeção. Use-a nas axilas e no busto para eliminar o 'mau cheiro' do suor, conservando-lhe ao mesmo tempo sua pelle aveludada e ricamente perfumada."
Não se trata de remédio, mas nos anos 1980 e 1990, a advogada cabeleireira Bebete Leite Oliveira aplicava nos rostos femininos uma mistura de andiroba com suas massas costumeiras para peles femininas e masculinas. Em Porto Velho, ao menos naquele salão muito frequentado na Avenida Pinheiro Machado nº 768, sabia-se que andiroba é uma planta medicinal da espécie Carapa guaianensis, muito utilizada para auxiliar no tratamento de reumatismo ou dor muscular, devido às suas propriedades medicinais anti-inflamatórias e antirreumáticas.
Outro assunto, né? Inegável, porém, reconhecer essa tradição do estudo e do uso de produtos naturais na Capital rondoniense.

Segunda-feira, 14 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)