Terça-feira, 30 de outubro de 2007 - 08h38
O episódio recente da tentativa do Governo do Estado de erigir uma edificação em terreno de propriedade da União confiado à guarda do Exército foi de fato emblemático em razão da atitude firme e pedagógica tomada pelo general Luís Bringel, Comandante da 17ª Brigada de Infantaria de Selva (Brigada Príncipe da Beira), que dissuadiu magistralmente os governantes de Rondônia da pretensão de consumar a posse indevida de um bem público que não pertence ao Estado. A tática empregada pelos assessores apenas espertos do governante de Rondônia de jogar o Exército contra a opinião pública resultou inócua porque esbarrou exatamente num princípio básico da formação militar. Para quem não sabe, vale lembrar que, no Brasil, os militares são os únicos cidadãos que cumprem rigorosamente datas e horas aprazadas e que jamais deixam de cumprir um acordo previamente firmado, tal como não arredam um milímetro de uma decisão negativa proferida. Militares são metódicos, pontuais e adeptos de regras bem claras. Depois de uma decisão tomada, somente uma contra-ordem muito bem justificada pode mudar tal decisão. No caso em epígrafe, a ordem que o general Bringel recebeu foi a de não permitir a consumação do abuso, cabendo-lhe a responsabilidade pelos métodos necessários ao cumprimento dessa ordem. Ele tentou parlamentar, mas foi desacatado pelos assessores governamentais, restando-lhe o emprego do seu Plano B, o uso do aparato bélico de que dispõe.
Aos que dizem que a única missão constitucional do Exército é a defesa do território nacional contra investidas estrangeiras, vale lembrar que cabe ao Exército a guarda e preservação do patrimônio público do seu próprio uso, tanto isto é verdade que o Exército não vive contratando empresas de segurança por preços exorbitantes como vigilantes do patrimônio sob sua responsabilidade, sendo tal trabalho de vigilância e policiamento executado pelos próprios militares.
Aliás, no recente Seminário de História promovido pela Prefeitura Municipal, realizado nas dependências da Justiça Federal, ao mediar a conferência do tenente-coronel Washington Machado de Figueiredo, Comandante do 5º Batalhão de Engenharia, lembrei alguns desses conceitos relativos ao comportamento padrão dos militares, inclusive o conceito silogístico que estabelece as diferenças entre uma virgem, um diplomata e um comandante, baseado em apenas três advérbios bem corriqueiros. Diz tal conceito silogístico que uma virgem quando diz não, na verdade está dizendo talvez, quando diz talvez, na verdade está dizendo que sim, e se ela disser sim é porque não é virgem. Já o diplomata, quando ele diz que sim, na verdade ele está dizendo talvez, quando ele diz talvez, na verdade está dizendo que não, e se ele disser não é porque não é um diplomata. Já um comandante, quando ele diz sim, está dizendo exatamente sim, quando ele diz não, está dizendo exatamente que não, e se ele disser talvez é porque não é um comandante... De tal silogismo nos vem a expressão não tem talvez. O general Luís Bringel mostrou tal qualidade no episódio do esbulho da propriedade cuja guarda lhe cabia. O resto da história são apenas factóides destinados a livrar a cara de Amélia dos governantes de plantão que tentaram uma fanfarronada com a pessoa e a instituição erradas.
Os acólitos e prosélitos do poder de plantão propagaram aos quatro ventos que o governador Ivo Narciso Cassol havia falado mais grosso que o general. Peut-être, peut être... Se falou mais grosso ou não, a rigor não se sabe. Mas sabe-se perfeitamente que teve de piar fino ao final do episódio, até porque generais nem precisam falar grosso com ninguém, pois, via de regra, eles são quase sempre elementos muito refinados no trato normal com as pessoas. Generais comandam e são comandados, dão ordens e cumprem ordens, e quem julgar que pode submeter um general a vexame por causa de ordem que deu ou cumpriu está malhando em ferro gelado, vai sempre quebrar a cara, como aconteceu com os governantes de Rondônia que tentaram transgredir as regras de um acordo já prescrito pela ineficiência dos governantes civis. Como se pôde notar, o recurso de jogar a opinião pública contra o Exército não surtiu o efeito esperado e ainda por cima agravou ainda mais a patuscada governamental no caso da grilagem pretendida. E nem um sequer dos arrogantes compareceu ao teatro de operações para contestar as ordens do general Luís Bringel, oficial que nem conheço pessoalmente, mas no qual reconheço as melhores qualidades necessárias a um Comandante...
Fonte: MATIAS MENDES
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
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