Sexta-feira, 9 de novembro de 2007 - 06h27
A Feira de Cultura de Guajará-Mirim, realizada nos dias 03 e 04 de novembro, conquanto não tenha merecido a atenção do pessoal da cidade de Guajará, nem mesmo daqueles que poderiam nutrir interesse por livros por dever de ofício, ofereceu aos poucos que lá estiveram uma primorosa lição de Literatura ministrada pelo Prof. Expedido, Diretor do campi da UNIR de Guajará-Mirim, Phd em Literatura e conhecedor profundo de fato da matéria. Digo conhecedor profundo de fato porque nem sempre alguém doutorado em uma especialidade de conhecimento consegue ter um absoluto domínio do assunto, coisa que o Prof. Expedito demonstrou sobejamente ter. Aliás, ainda que ele não fosse um Phd na matéria, com os conhecimentos que demonstrou do assunto poderia encantar os interessados em literatura, conforme de fato encantou as poucas pessoas ali presentes. E o mais interessante de tudo é que o Diretor da UNIR foi uma espécie de improviso dentro da programação original do evento, uma tentativa dos organizadores de fazer com que os estudantes de Guajará comparecessem à Feira de Cultura. A tentativa de atração de público resultou inócua, mas o professor Expedito de certo modo salvou um pouco a viagem dos que tinham se deslocado de pontos mais distantes.
Durante a palestra-conferência do doutor da UNIR, ao ouvi-lo falar de livros e autores que me são tão familiares, permiti-me uma reflexão sobre uma referência escrita a meu respeito alguns dias antes que falava exatamente de "um burro carregado de livros", alusão deselegante ao fato de que sou sabidamente um leitor contumaz desde os tempos da minha adolescência. No entanto, aquele professor altamente qualificado na matéria sobre a qual discorria, com exceção do seu enfoque em poemas de autoria de Caetano Veloso destinados a letras musicais, falava rigorosamente dos mesmos autores e obras que conheço muito bem, como, por exemplo, José de Alencar, Machado de Assis, Clarice Lispector, Gabriel García Márquez e outros tantos, todos bastante conhecidos por mim que não passei por um processo formal de formação acadêmica no Brasil. Enfim, a brilhante dissertação do Prof. Dr. Expedito convenceu-me de uma vez por todas a respeito de um fato sobre o qual já tenho uma opinião bem formada: há vida inteligente fora dos círculos universitários tanto quanto há dentro destes. No caso, como se conhece um homem pelos livros que ele leu e pelas armas que ele usa ou não usa, eu pude identificar naquele professor nascido no Nordeste que a universalidade do conhecimento humano está rigorosamente à disposição de qualquer pessoa que se disponha a assimilar tal conhecimento, aspecto que também foi magistralmente contemplado na conferência-palestra do Diretor da UNIR quando apresentou o cabível questionamento a respeito das opções individuais que levam alguns a vivenciar e consumir livros e levam outros a viverem de forma totalmente inversa.
Ao final da sua brilhante palestra, fui apresentado ao Prof. Expedito e trocamos algumas breves impressões sobre o assunto literatura. No seu caso específico, ele foi despertado e inclinado ao interesse pela literatura por ter uma irmã mais velha que já era professora e costumava levar bons livros para casa. Já no meu caso, nascido numa região onde havia escassas escolas e raríssimos livros, foi também a abnegação da minha irmã Firmina Mendes que me alfabetizou a peso de palmatória ainda em tenra idade, com apenas seis anos, isto com seus parcos conhecimentos de alfabetizada precariamente, conseguindo realizar a impensável façanha de me tornar um ávido leitor mirim das fábulas de Jean de
En revenant à nos moutons, pour ne dire pas en revenant à la vache froide, o Prof. Expedito ensinou de forma absolutamente magistral ao povo de Guajará-Mirim que é possível viver sem livros, que a ausência de livros não mata de inanição exatamente de forma direta (mas nunca devemos esquecer que a ignorância é a mãe de todas as injustiças e a gênese maldita de todas as misérias humanas), mas que viver com livros traz uma melhor qualidade de vida em todos os sentidos imagináveis, pois afinal de contas ninguém morre â míngua pelo fato de haver aprendido demais, do mesmo modo que ninguém morre afogado em montanhas de ouro pelo fato de haver aprendido de menos... Pena que os destinatários de lições tão preciosas de vida não estavam lá para ouvi-las e assimilá-las...
Fonte: MATIAS MENDES - matiasmendespvh@gmail.com
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
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