Segunda-feira, 15 de outubro de 2007 - 10h55
Poucos dias atrás, comentando certos fatos que ocorrem aqui em Rondônia, emiti uma cabível reflexão a respeito do fato de que eu não tenho receio dos que não sabem, pois eles pouco interferem em determinados aspectos da vida, e que também não tenho receio dos sábios, pois estes são capazes de aquilatar o real valor de qualquer ser humano, afirmando em seguida que o que eu receio mesmo são os que sabem mal, aqueles que pensam que sabem, grupo cultural constituído pela mediocridade.
Ao tecer aqueles comentários, mal sabia eu que estava tão próximo de tomar conhecimento de uma prova material comprobatória de minha teoria. Tal prova veio na forma da antologia esperantista intitulada Poesias Escolhidas do Brazila Esperanta Parnaso, organizada por uma equipe de pesquisadores da Literatura Brasileira, tendo como líderes do grupo os poetas e escritores Sylla Chaves e Neide Barros Rêgo. Pois muito bem, notemos então como é o currículo do principal organizador da pesquisa que resultou na antologia de poetas nacionais constituída por cento e setenta e oito autores, já que dois dos cento e oitenta enumerados anteriormente são apenas tradutores. Sylla Chaves, para aqueles que apreciam muito os títulos universitários, simplesmente é graduado em Direito pela UFRJ, fez ciência política na Universidade de Paris, fez comunicação na Universidade de Stanford e pedagogia cibernética na Universidade de Paderborn, na Alemanha, não restando qualquer dúvida de que se trata de um intelectual da mais sólida formação. No caso da Professora Neide Barros Rêgo, ela agregou à sua formação de magistério mais um curso de administração e um de teatro, sendo, portanto, uma intelectual com sólida formação também. Ambos são esperantistas e poliglotas. Não há negar que se trata de dois sábios. Não há dúvida de que são intelectuais com muita autoridade no assunto sobre o qual discorreram. E o melhor de tudo isso é que três dos cento e setenta e oito poetas que tiveram poemas incluídos na antologia (Abel Sidney, Matias Mendes e Selmo Vasconcelos) estão exatamente aqui no Estado de Rondônia, conquanto dois deles tenham nascido
Voltando aos números corrigidos, as mulheres não são apenas 26 conforme foi afirmado antes, mas sim 32. Os mulatos não são apenas seis, mas algo entre nove e dez, já que o fenótipo de um mulato pode não ser exatamente nítido em uma pequena foto. Quanto aos negros, não são apenas cinco, mas seis, com a inclusão do poeta roraimense Eliakin Rufino. De tal modo, os Estados de Rondônia e Roraima foram de fato incluídos no mapa de grandes poetas nacionais por autores de raça negra. Vale lembrar que menos de um terço dos poetas apontados como autores de poemas dignos da imortalidade são os que ainda estão vivos. Ótimo para Rondônia que conta com a presença de três deles ainda vivos, quase anônimos por aqui, é verdade, mas ainda vivos. Por certo que tal novidade vai causar estranheza a muita gente, mas nem devia. Há oito anos, o caderno de cultura Jalons, publicação francesa voltada para a literatura, já havia contemplado a seguinte observação:
"Chez ce poète majeur, la sensibilité s'affirme par um élan lyrique en qui rayonnent les émotions et les aspirations fondamentales de l'Existence. En quelque sorte, il emprunte les chemins de la philosophie de Merleau-Ponty."
Note-se, por relevante, que o periódico francês afirma sem maiores rodeios "chez ce poète majeur", expressão que se traduz ao português por "neste poeta maior", fato que indica que já naquela época a rigorosa crítica literária francesa considerava que havia em Rondônia pelo menos um autor de poesias classificado como poeta maior, conclusão à qual também chegaram os organizadores da antologia Poesias Escolhidas do Brazila Esperanta Parnaso. E a referência da crítica francesa era exatamente a respeito de um certo poeta nascido no Vale do Guaporé, conhecido pelos franceses e quase desconhecido por aqui, ao ponto extremo de haver sido tachado bem recentemente por uma jovem jornalista como "matuto boçal que aprendeu rudimentos de francês com missionários católicos do Vale do Guaporé para cuspir tal idioma em seus textos e passar uma suposta sofisticação de erudição."
Sem embargo do ensinamento latino que estabelece que Nemo propheta in patria sua, os leitores haverão de concordar comigo que alguém formado para lidar com a informação, ao emitir tão infeliz conceito sobre um assunto do conhecimento de tantos fora daqui, nada mais fez que passar um atestado assinado do seu próprio apedeutismo... Agora vão ter que me engolir de qualquer modo, pois o matuto foi equiparado a figuras como Olavo Bilac, Vicente de Carvalho, Augusto dos Anjos, Vinícius de Moraes, Mário Quintana e todos os outros grandes poetas nacionais. Se na França estivesse, por certo estaria ao lado de Baudelaire, Verlaine, Rimbaud e todos os demais grandes poetas franceses. Alguém ainda duvida do jabuti postado na copa do frondoso assacu? Que pena! Que lástima! Quanta ignorância...!
Fonte: MATIAS MENDES
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
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