Quarta-feira, 24 de outubro de 2007 - 13h54
Dias atrás, ao comentar um certo ataque pessoal a mim dirigido, teci considerações a respeito de que o fato de não haver feito um curso de Letras não fazia de mim um pária como alguns pretendem, lembrando que é preciso acabar com esse preconceito besta de que somente das universidades formais saem pessoas preparadas para a vida, pois há vida inteligente fora dos meios universitários. Aduzi também que conheço o idioma pátrio tão bem quanto qualquer diplomado em nível superior formal, com a diferença de que me expresso aceitavelmente em mais duas línguas, isto sem falar em rudimentos de outras línguas que considero não dominar, conquanto as entenda razoavelmente. Lembrei também que se pode aprender aqui e alhures e que, no meu caso específico, havia sido alhures mesmo.
É verdade que o meu aprendizado de alhures não foi destinado a preparar um beletrista e sim um homem apto para os mais duros combates, até porque para as circunstâncias daquele momento de nada me valeria um diploma de beletrista para ser enterrado comigo, como aconteceu com tanta gente bem-nascida e bem-letrada. Preferi mesmo ser um tosco combatente, um rude infante, enfim, um homem com a necessária competência para defender a própria vida, que naquele momento da minha juventude era tudo o que mais importava. E foi esse o aprendizado que me permitiu permanecer vivo até hoje, em que pese as muitas tentativas de alguns no sentido de me abreviarem a vida. Como eu gosto muito de viver e no hay enemigos chicos, prefiro ser um sem-diploma vivo a ser um bacharel morto.
No entanto, en revenant à nos moutons, vale lembrar que uma breve verificação no panteão dos grandes poetas nacionais, no qual me encontro honrosamente incluído, podemos notar que tenho muito boas companhias na minha condição de não-bacharel, notadamente de Rachel de Queiroz, Olavo Bilac, Machado de Assis, Mário Quintana, Humberto de Campos, Solano Trindade, Castro Alves, Assis Valente, Herivelto Martins, Cora Coralina, Auta de Sousa, Chiquinha Gonzaga, Ferreira Gullar, Álvares de Azevedo e alguns outros menos conhecidos. Aliás, considerando-se o rol de apenas cento e setenta e oito Poetas Maiores do Brasil, é mais que evidente ser mais difícil ser Poeta Maior que ser bacharel. De igual modo, se formos considerar a raridade quase mítica dos homens com a formação de comando que tive, exceção feita aos integrantes da esquerda brasileira formados em escolas chinesas e cubanas, então a proporcionalidade agiganta-se ainda mais.
É verdade que no rol dos poetas acima elencados há pelo menos dois (Olavo Bilac e Castro Alves) que chegaram a freqüentar os bancos universitários sem atingir a formação. No caso de Olavo Bilac, que cursou Direito e Medicina, o abandono dos estudos foi por pura gazeta mesmo. Castro Alves pode ter sido a morte em idade precoce, mas nada garante que não faria o mesmo que Olavo Bilac. Quanto à renomada Rachel de Queiroz, sua formação era de Professora Normalista. Machado de Assis tinha apenas o curso primário formal, um pouco menos que o romancista português José Saramago.
Mas como jabuti não sobe em árvores, os monoglotas ressentidos terão mesmo de conviver com a realidade amarga de que uma legião de sem-diplomas representam mesmo a nata da poesia nacional, exatamente em pé de igualdade com todos os bacharéis que fazem parte do mesmo panteão, com perdão da concordância ideológica contida nesta oração. Talvez por isso os latinos ensinassem que "philosophum non facit barba". O diploma de bacharel também não faz o sábio... Nem o poeta...
Fonte: MATIAS MENDES
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
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