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Matias Mendes

PANTEÃO DE POETAS MAIORES: Os Antecedentes e o Preço da Fama


 

            A notícia bombástica restrita a alguns sites de notícias de que o Estado de Rondônia foi finalmente inserido no contexto da literatura nacional pela presença de um poeta nativo do Guaporé entre os maiores nomes da poesia nacional causou frisson de ponta a ponta do Estado ao ser confirmada e divulgada pela TV Rondônia na sexta-feira próxima passada. Os efeitos mais imediatos de tal notícia não se fizeram esperar, pude senti-los já na mesma noite de sexta-feira ao comparecer, como faço há alguns anos, ao Mandacaru para dançar ao aprazível som da seresta comandada pelos Anjos da Madrugada. Reconhecido por muitos companheiros de serestas de muitos anos, alguns dos quais não sabiam sequer que eu fosse poeta, fui algumas vezes parado em plena pista de dança pelos curiosos, interessados em saber apenas como seria de fato um poeta maior visto bem de perto, considerando-se o conceito de que visto de bem perto ninguém é normal. No entanto, a percepção, a constatação e a confirmação do grande momento de mudança que aconteceu em minha vida em nada mudaram a minha maneira de ser, até porque, conforme esclareci, o reconhecimento nacional está chegando com exatos oito anos de atraso em relação ao reconhecimento internacional que me foi conferido desde 1999 pela rigorosa crítica literária da França, condição que me valeu a inclusão de alguns poemas na antologia do final do milênio intitulada Reflexos da Poesia Contemporânea do Brasil, França, Itália e Portugal, contemplado entre doze dos melhores poetas contemporâneos do Brasil. A notícia de tal fato, conquanto tenha sido muito divulgada em outras regiões do Brasil que tiveram poetas escolhidos, passou em brancas nuvens aqui em Rondônia, não se sabe exatamente se por indiferença pura e simples ou se por cochilo coletivo dos formadores de opinião regionais. Na época, pelo fato de ser diretamente envolvido com o assunto, preferi não divulgar com muita ênfase a história, silenciei a respeito do livro e da farta documentação epistolar sobre o fato. O assunto ficou circunscrito ao conhecimento de alguns poucos que tiveram acesso à volumosa publicação editada na Europa.

            Aliás, sobre este aspecto, chama a atenção o fato de que, no livro intitulado Poesias Escolhidas do Brazila Esperanta Parnaso, na parte dedicada às biografias dos poetas selecionados como maiores, a minha concisa biografia vem resumida da seguinte forma:

            "Matias Mendes (RO, 1949). Nasceu no Vale do Guaporé. Durante sua infância e juventude conviveu e trabalhou com lavradores e seringueiros. Estreou como escritor em 1982 e já publicou seis livros de poesia e ensaios. Foi co-fundador da Academia de Letras de Rondônia."

            As informações são concisas, mas rigorosamente corretas. Orgulha-me sobremaneira o fato de haver sido incluído no contexto da poesia nacional como nativo do Vale do Guaporé que cresceu enfrentando o trabalho duro do campo e das florestas, sem privilégio dos bons colégios que muitos outros co-etâneos tiveram, adquirindo formação sólida e cultura diferenciada quase que exclusivamente por meus próprios meios, exceção feita à parte da minha educação que foi custeada pelo Exército Brasileiro na condição de bolsista, obséquio que faço absoluta questão de honrar com a minha gratidão e a minha contribuição nos assuntos para os quais tenho competência. No entanto, o fato de ter razões de sobra para sentir orgulho da trajetória que segui na vida, ao contrário do que muitos pensam, não me envaidece e nem me sobe à cabeça, conforme podemos conferir pelo enunciado do Soneto da Humildade, publicado no livro As Quimeras e o Destino, no ano de 1983:  

 

SONETO DA HUMILDADE

  

"Não deixa, poesia, que esta chama,

Que ora ilumina minha obscuridade,

Faça de mim um monstro de vaidade

E me ofusque com o clarão da fama!

 

 Não deixa, ó poesia, quem te ama

Perder a virtude da simplicidade,

E não permitas que a minha humildade,

Do vil orgulho, sucumba à trama!

 

Conserva em mim a pureza do lirismo

E, mesmo que ao alto preço do ostracismo,

Faz com que eu seja cada vez mais puro...

  

E se me bafejarem ventos do vedetismo,

Na empolgação da fama do futuro:

-- Faz-me de novo humilde e obscuro!..."

 

            Como se pode notar pelo enunciado deste soneto, há muitos anos, ainda iniciante nas letras, eu já estava preparado para evitar as armadilhas muito próprias que espreitam os homens que conquistam alguma forma de fama. Como não se vive para trás, como a marcha inexorável do tempo sempre avança, cela va sans dire que perdi de forma irremediavelmente definitiva a minha condição original de obscuridade, à qual jamais poderia voltar ainda que assim o desejasse. Mas a minha humildade de nativo do Guaporé continua intacta, a despeito da opinião equivocada daqueles monoglotas ressentidos que me julgam de forma errônea como arrogante simplesmente pelo fato de que fui capaz de acumular os conhecimentos que muitos que freqüentaram os melhores colégios não conseguiram. Como jabuti não sobe em árvore, roam-se os monoglotas ressentidos, pois este jabuti guaporeano não ficou mesmo apenas nos rudimentos e galgou o topo da copa do frondoso assacu...


Fonte: MATIAS MENDES
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.

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