Quarta-feira, 19 de março de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Matias Mendes

JUBILEU DE PRATA: Dupla Ousadia


O lançamento de um livro em Porto Velho, mesmo nos dias atuais, ainda significa uma ousadia ao alcance de muito poucos. O mercado para a literatura produzida na região ainda é muito estreito, o autor esbarra no dilema das edições de pequena tiragem que elevam significativamente o custo unitário do livro, inviabilizando a competição nas livrarias com as obras de grandes tiragens das Editoras que dominam o mercado nacional. Ao colocar um livro em livrarias de Porto Velho, o autor regional fica submetido a um esquema perverso, seu livro vai ficar escondido nas prateleiras mais recônditas, não vai ser recomendado a ninguém pelos comerciantes de livros, não tem qualquer tipo de incentivo e ainda por cima tem de concorrer com os preços mais baixos das grandes edições distribuídas pelas Editoras. De tal modo, após haver arcado com custos de edição e transporte das obras, um autor regional pode levar anos para conseguir resgatar os valores de meia dúzia de livros deixados em livrarias, isto quando não recebe os livros de volta empoeirados e rotos ou é compelido a aceitar escambo pelos livros eventualmente vendidos, já que os empresários do ramo são vocacionados para a ganância e não para o comércio de bens da cultura.
A outra grande barreira enfrentada pelos autores regionais diz respeito ao estranho hábito de muitas pessoas que julgam que os livros são feitos para distribuição gratuita. Quase ninguém sabe que um autor regional, ao colocar uma obra à disposição do público, arcou com custos altos de edição, de transporte, de comunicação durante o processo editorial, além de custos de ordem emocional de difícil quantificação. A grande verdade mesmo é que não se edita um livro nas melhores editoras voltadas para as pequenas tiragens sem travar uma meia dúzia de arranca-rabos com funcionários ineptos, com revisores teimosos e até com catalogadores arrogantes que podem inserir fichas catalográficas surrealistas caso o autor não esteja atento aos mínimos detalhes. Enfim, escrever é muito fácil (ou impossível para os que não sabem), mas publicar um livro é muito difícil, principalmente aqui em Rondônia. Se publicar é difícil, distribuir o livro publicado é quase impossível, o autor precisa se desdobrar para organizar vários lançamentos em diferentes lugares para conseguir distribuir algumas centenas de livros. Contudo, tal processo, embora desgastante, é melhor que encalhar os livros pelas livrarias absolutamente indiferentes aos autores regionais de qualquer nível de qualidade ou mesmo de celebridade. E olhe que temos aqui na região autores que já foram incluídos em importantes antologias editadas na Europa, mas nada disso parece interessar aos comerciantes de livros. Bem de acordo com o provérbio latino que ensinava que Nemo propheta in patria sua, os autores rondonienses continuam ainda hoje a lidar com a indiferença do sistema editorial.
No entanto, a despeito de todas as dificuldades do meio, em razão da comemoração do meu jubileu de prata de prática literária, resolvi publicar dois livros simultaneamente, Lendas do Guaporé e A Lira do Crepúsculo, um em prosa e outro em verso, originais remanescentes da década de oitenta do século passado com pequenas inserções de atualização. No caso de Lendas do Guaporé, foram três tentativas de publicação ao longo de mais de vinte anos, até que tive saldo bancário suficiente para financiá-lo sem ter de pedir favor nenhum a ninguém. Agora o livro está editado, pode ser adquirido por quem desejar lê-lo, pelo menos dois exemplares serão destinados às Bibliotecas Públicas a fim de que sejam acessíveis aos que de fato não têm condições de pagar, mas no que tange aos brindes, isto precisa ser bem compreendido, somente serão destinados aos que podem contribuir para a divulgação, aos autores com obras disponíveis para troca e aos que fazem realmente parte do meu círculo algo estreito de afeições comprovadas. Quanto aos demais, caso desejem realmente conhecer os livros, vão ter de pagar como a grande maioria dos meus parentes pagou, pois eu paguei sozinho para que a edição chegasse até o público, sendo absolutamente de justiça que cada um assuma o custo do seu próprio livro, a não ser que o Governo compre o remanescente da edição para distribuir pelas bibliotecas escolares, investimento que seria muito mais proveitoso que aquela soma fabulosa que foi gasta com uma editora paranaense para produzir um livro escolar eivado de sandices...
Fonte: MATIAS MENDES
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.

JUBILEU DE PRATA: Dupla Ousadia - Gente de Opinião

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 19 de março de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

FÉRIAS: Viagem ao Centro do Brasil

FÉRIAS: Viagem ao Centro do Brasil

                    Por MATIAS MENDES                 No mês de julho, de férias, para compensar uma temporada pelas regiões remotas do Guaporé, meti

PEDRAS NEGRAS: Reflexões da Festa do Divino

PEDRAS NEGRAS: Reflexões da Festa do Divino

Por MATIAS MENDES                   O Distrito histórico de Pedras Negras, no rio Guaporé, entre os dias 15 e 19 de maio, há quase um mês, engalanou-s

BOTAFOGO: O Império da Mística

BOTAFOGO: O Império da Mística

                 Por MATIAS MENDES                   O Botafogo, famoso pela mística que o acompanha, não deixou por menos no ano de 2013, não permiti

BOATOS: Fazendas Fantasmas

BOATOS: Fazendas Fantasmas

                    Por MATIAS MENDES                   Dias atrás, neste mesmo espaço de imprensa, eu teci comentários a respeito da situação do muni

Gente de Opinião Quarta-feira, 19 de março de 2025 | Porto Velho (RO)