Segunda-feira, 16 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Matias Mendes

IMPRENSA: Itazil Evangelista


De conformidade com aquele provérbio que atesta que “sempre fica um pouco de perfume nas mãos de quem oferece flores”, conquanto eu tenha apenas livros para oferecer, no caso de Lendas do Guaporé um consagrado entre os Livros do Ano, segundo a seleção levada a cabo pela Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias, a malograda viagem que realizei a Ji-Paraná para lançamento dos meus livros durante os festejos de aniversário daquele próspero município e o fiasco do lançamento foram perfeitamente compensados pelo conhecimento que travei com a jovem jornalista Itazil Evangelista, que vim a conhecer na Coordenação do Curso de Comunicação da ULBRA. Itazil Evangelista, sem medo de errar, pode-se dizer que é uma jornalista na mais ampla acepção do termo. Por dever de ofício, um jornalista nunca pode chocar-se com nada, não pode cultivar pruridos de pacifismo utópico, não pode torcer o nariz para certos assuntos repugnantes, enfim, jornalistas devem ser capazes de falar de carnificinas, de fezes, de sangue e  de podridões enquanto saboreiam um sanduíche, tal como certos médicos, principalmente os cirurgiões. E a jovem Itazil Evangelista é dotada de tais qualidades indispensáveis a um bom jornalista. Ela pode até se emocionar com algum detalhe mais dramático, mas não se escandaliza e nem externa os escrúpulos que certamente cultiva a respeito de determinados assuntos. Tudo isso eu pude observar durante uma longa conversa com ela mantida na manhã do dia 22 de novembro enquanto expunha os meus livros no Parque de Exposições de Ji-Paraná. Fiquei encantado com a sua aptidão para a informação, chegando ao ponto de falar-lhe detalhes de minha vida que somente alguns grupos bem especializados conhecem. A jovem jornalista Itazil tem a exata têmpera de algumas mulheres que conheci em cenários menos suaves que o jornalismo, mulheres capazes de realizar façanhas que muitos homens sujariam as roupas apenas sonhando com elas.

A outra faceta da personalidade da jornalista Itazil Evangelista que me encantou foi exatamente o seu compromisso com a palavra empenhada. Numa cidade em que as promessas são correntes mesmo fora de campanhas eleitorais, mas que também nunca são cumpridas tal como acontece com as promessas feitas em palanques de comícios, exatamente aquela figura mignon (com perdão do empréstimo do título da canção famosa na voz de Nélson Gonçalves) que, se vista na rua, pode ser confundida com uma adolescente recém-saída do ensino fundamental, foi quem se comportou como se houvesse passado por uma escola de onde os homens saem metódicos, pontuais e adeptos de regras bem claras, sendo aqui dispensável dizer que escola é essa capaz de operar tal transformação num brasileiro, já que certamente a própria Itazil, com a inteligência vivaz que possui, vai compreender muito bem de que escola estou falando.

É verdade que em determinados momentos da nossa longa conversa por pouco, por muito pouco mesmo, quase fomos surpreendidos pelo pranto ao rememorar fatos que já aconteceram no nosso País em épocas nem tão recuadas assim, mas certamente em tempos em que a jovem jornalista talvez nem houvesse ainda nascido ou fosse ainda criança demais para entender a real extensão de certas tragédias humanas com as quais muitos homens da minha idade tiveram de conviver. Fatos que hoje se podem afigurar como saídos de um romance, de uma obra de ficção, foram tão corriqueiros que muita gente dos dias de hoje nem seria capaz de imaginar. Histórias de sobrevivência, de amor à vida, de apego à liberdade, de teste dos limites da capacidade que o ser humano mantém no seu interior e que somente a necessidade, que é a mãe de todas as artes, é capaz de fazê-los aflorar. Como muitas vezes a realidade suplanta de longe a ficção, fatos que hoje podem ser comentados com relativa serenidade já constituíram no passado não muito remoto dramas pessoais terríveis, tragédias inimagináveis e algumas poucas vezes triunfos pessoais conquistados a duras penas. E foi uma conversa de tal teor que a jovem jornalista Itazil Evangelista foi capaz de manter sem demonstrar indícios de abalos que pudessem comprometer o seu discernimento de grande jornalista.

Eu certamente que voltarei à cidade de Ji-Paraná para cumprir duas promessas que fiz lá, pois para os homens de minha extração doutrinária as promessas são sagradas, a palavra empenhada nunca pode ser malbaratada, ainda que ao preço alto da própria vida, contraponto por certo à forma como os políticos costumam agir. Não vou, isto é certo, hospedar-me mais em nenhum pardieiro de quinta categoria e nem vou perder um único minuto do meu tempo em salas de espera de próceres políticos. Vou apenas ao Museu fazer a entrega da bainha da espada que lá existe, uma espada usada em Academias Militares, sendo que a do Museu de Ji-Paraná deve haver pertencido a algum Alferes-aluno da Comissão Rondon e a minha, que está completa e em perfeito estado de conservação, é procedente de além-fronteira. Cumprido tal encargo, vou visitar apenas a Coordenação do Curso de Comunicação da ULBRA e voltar a conversar com a jovem jornalista Itazil, cujo nome, que deve ser uma junção de parte da denominação da Itália e do Brasil, contém exatamente o étimo ita do tupi-guarani, que significa pedra, e pedra tem o sentido simbológico de solidez, de firmeza, exatamente como o caráter da jovem jornalista que tive a ventura de conhecer durante essa viagem que poderia haver resultado em rotundo fiasco. Não resultou, porém. A atitude pronta do amigo que me auxiliou a resgatar a minha valise perdida e o conhecimento que estabeleci com o pessoal da Coordenação do Curso de Comunicação da ULBRA valeram muito mais que os gestos de manifesto menoscabo com que fui tratado durante a minha breve estada na cidade de Ji-Paraná. Toutefois, on ne doit donner les perles aux porcs, selon le proverbe français...

Fonte: MATIAS MENDES  -  matiasmendespvh@gmail.com
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
Membro do Instituto Histórico Geografico de Rondônia

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSegunda-feira, 16 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

FÉRIAS: Viagem ao Centro do Brasil

FÉRIAS: Viagem ao Centro do Brasil

                    Por MATIAS MENDES                 No mês de julho, de férias, para compensar uma temporada pelas regiões remotas do Guaporé, meti

PEDRAS NEGRAS: Reflexões da Festa do Divino

PEDRAS NEGRAS: Reflexões da Festa do Divino

Por MATIAS MENDES                   O Distrito histórico de Pedras Negras, no rio Guaporé, entre os dias 15 e 19 de maio, há quase um mês, engalanou-s

BOTAFOGO: O Império da Mística

BOTAFOGO: O Império da Mística

                 Por MATIAS MENDES                   O Botafogo, famoso pela mística que o acompanha, não deixou por menos no ano de 2013, não permiti

BOATOS: Fazendas Fantasmas

BOATOS: Fazendas Fantasmas

                    Por MATIAS MENDES                   Dias atrás, neste mesmo espaço de imprensa, eu teci comentários a respeito da situação do muni

Gente de Opinião Segunda-feira, 16 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)