Quarta-feira, 5 de setembro de 2007 - 12h57
No dia 10 de agosto, em noite muito concorrida de autógrafos, o confrade Antonio Cândido da Silva, bacharel em Letras pela UNIR, lançou aqui
A proposta do Autor é apontar e corrigir os erros cometidos por vários autores no tratamento da nossa história regional. Cela va sans dire que Antonio Cândido enveredou desta feita por uma senda tão atraente quanto delicada. Ao que parece, desta feita, o moderado Cândido optou pelo princípio que se diria em bom francês à mon arrivée, la tempête; après moi, le déluge... Pela proposta do título, sua obra teria de manter uma linha muito aproximada da perfeição, considerando-se que há questionamentos bem explícitos a respeito de autores de peso como Emanuel Pontes Pinto, Dante Ribeiro da Fonseca, Marco Antonio Domingues Teixeira, Francisco Matias, Octaviano Cabral, Vitor Hugo e alguns inominados de menor expressão, genericamente referidos como participantes da imprensa local.
Com seu estilo primoroso de escrever, até porque a sua origem literária está na arte da poesia, Antonio Cândido foi muito bem nos assuntos referentes a antigas polêmicas sobre a origem da cidade de Porto Velho. Fez uma leve referência ao Forte do Príncipe da Beira e discorreu longamente a respeito da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, com especial enfoque no legendário sertanista Cândido Mariano da Silva Rondon. Mas foi nessa seara tão bem documentada que a sua obra de crítica aos erros cometidos por outros na História desandou pelo terreno dos pequenos e grandes equívocos. Vamos apontar alguns, mas antes façamos um parêntese breve para uma ressalva.
Acontece que os erros leves ou crassos que soem ocorrer em obras sobre a história regional, ao que tudo indica, têm decorrido do desconhecimento da História Militar, importante vertente da nossa História pátria que muitos autores, por razões das mais diversas, têm negligenciado. Muitos desconhecem que, no Brasil, as corporações militares são constituídas por praças (cabos e soldados), suboficiais (sargentos e subtenentes), oficiais subalternos (aspirantes e primeiro e segundo tenentes), oficiais intermediários (capitães), oficiais superiores (majores, tenentes-coronéis e coronéis) e oficiais generais (generais-de-brigada, generais-de-divisão e generais-de-exército), isto evidentemente em se tratando da Força Terrestre, com postos equivalentes nas Forças Naval e Aérea, embora com pequenas variações de nomenclatura.
Muito bem. O Autor de Enganos da Nossa História, que não fez preparatórios para Escolas Militares, diferente do meu caso em particular, nem teria obrigação de conhecer tais detalhes se não estivesse lidando com uma obra de crítica a erros sobre a História. No entanto, a sua proposta foi esta e ele assumiu, talvez sem querer, uma responsabilidade de ser simplesmente impecável nos conceitos, na cronologia e nos fatos
No caso em epígrafe, com base ainda apenas numa leitura perfunctória, pude notar que Antonio Cândido se confundiu a respeito de alguns aspectos relativos ao Patrono das Comunicações do Brasil, o general Cândido Rondon. Na sua obra, Antonio Cândido afirma que Rondon começou a trabalhar
Em outro caso de flagrante equívoco em relação à cronologia dos fatos, Antonio Cândido, referindo-se aos degredados transportados pelo navio Satélite e aos episódios de castigos corporais que aconteciam nas Forças Armadas, entre outros equívocos, o autor de Enganos da Nossa História faz referência a uma proibição de castigos corporais no Exército e na Aeronáutica... Ora, acontece que as referências do Autor giravam em torno de fatos ocorridos entre 1911 e 1912, época em que não havia no Brasil e provavelmente em nenhum país do mundo o segmento das Forças Armadas chamado Força Aérea, até porque o avião era ainda um invento muito recente. A Aeronáutica, salvo engano de minha parte, só foi criada no Brasil em 1942, durante o governo de Getúlio Vargas e já com a Segunda Guerra Mundial em curso.
Passando ao largo de alguns equívocos que não vale a pena enumerar, o livro de Antonio Cândido da Silva lega a todos nós uma lição lapidar: foi muito bem escrito, traz grande fartura de informações documentais, foi embasado no que há de melhor em termos de bibliografia sobre o assunto, mas o Autor tropeçou em detalhes que estão muito bem expostos na própria bibliografia que ele compilou, fato que nos ensina, mais uma vez, que erros e equívocos acontecem com todo mundo, até porque somos todos humanos, como humanos eram os que nos precederam. Nada, porém, invalida a obra literária muito bem elaborada, exceto pelo fato de que ela já nasce pedindo algumas correções, que certamente o rigoroso Autor não deixará de fazer quando imprimir alguma outra edição da sua muito importante tese, conforme ele promete em parte exterior do livro.
Na eventualidade de eu também haver cometido algum equívoco conceitual, principalmente no que tange às organizações militares, que me corrijam os próprios militares que certamente estarão entre os leitores deste artigo... Quanto a Antonio Cândido, cuja estatura intelectual está acima de qualquer questionamento, que já produziu um primoroso livro de teor histórico, em linguagem poética, sobre a Madeira-Mamoré, O Vagão dos Esquecidos, apenas conseguiu agora deixar bem comprovado que as sendas tortuosas do revisionismo histórico são quase sempre minadas por escolhos e armadilhas que podem colher os mais brilhantes intelectuais no contrapé dos deslizes, deixando sempre nos relatos e teses de cunho histórico a eterna imperfeição das controvérsias...
Fonte: MATIAS MENDES
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
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