Quarta-feira, 7 de novembro de 2007 - 05h41
Realizou-se na cidade fronteiriça de Guajará-Mirim, nos dias 03 e 04 de novembro, uma importante Feira de Cultura com a participação de diversas Livrarias e Editoras, inclusive a Barsa Planeta Internacional, evento organizado pela Secretaria Municipal de Cultura, gerida atualmente pelo jovem e dinâmico Ricardo Bártolo, sobrinho do famoso seresteiro Wálter Bártolo. O evento foi promovido no excelente espaço do grande Ginásio de Esportes de Guajará-Mirim e teve tudo para ser um sucesso em se tratando da organização e da divulgação. No entanto, a comunidade de Guajará-Mirim perdeu a oportunidade de participar de um rico acontecimento cultural que por certo seria um estrondoso sucesso em qualquer cidadezinha do eixo da BR-364. Na programação do evento foi incluído o lançamento na cidade fronteiriça dos livros Lendas do Guaporé e A Lira do Crepúsculo, obras de minha autoria em fase de distribuição e lançamento pelo interior do Estado, já com agenda para lançamento na cidade de Ji-Paraná no próximo dia 22 de novembro.
Não há negar que a Feira de Cultura de Guajará-Mirim, que contou com atrações dignas de qualquer grande evento do gênero, resultou em absoluto insucesso de público, pois a comunidade não correspondeu às expectativas dos organizadores, apenas alguns escassos alunos da rede pública de ensino e bem poucos professores se deram ao trabalho de visitar os estandes das melhores livrarias de Porto Velho que se fizeram presentes. Com exceção da Barsa Planeta que fechou alguns contratos, não seria nenhum exagero afirmar que dos participantes da Feira de Cultura deste ano nem um voltaria a Guajará-Mirim em qualquer outro evento semelhante. A indiferença da comunidade pelo evento cultural retratou muito bem a letargia que se abateu sobre o município de Guajará-Mirim nos últimos tempos. Ao final da Feira, lembrando um episódio bélico do século passado, a guerra russo-finlandesa, eu até parafraseei o general russo que afirmou ao término do conflito, aludindo o desastroso número de baixas das tropas russas nas estepes geladas da Finlândia: "Conquistamos vinte e dois mil quilômetros quadrados do território da Finlândia. São exatamente suficientes para enterrarmos os nossos mortos." De igual modo, os escassos exemplares que vendi dos livros Lendas do Guaporé e A Lira do Crepúsculo foram suficientes para custear os deslocamentos de táxi que fiz do Château de
Mas quem não compareceu à Feira de Cultura de Guajará-Mirim perdeu uma oportunidade de ouro de apreciar manifestações culturais de alta qualidade. A orquestra de jovens estudantes do colégio Simón Bolívar fez duas excelentes apresentações que se prestaram a confirmar que a cidade de Guajará-Mirim ainda não perdeu totalmente a sua histórica condição de berço de grandes expoentes da arte. Terra de escritores de notoriedade como Edson Jorge Badra, Yêdda Pinheiro Borzacov, Júlia Almeida, Lucas Villar, Alkindar Brasil de Arouca (apenas nascido fora, mas radicado por longos anos na cidade), Almembergue José da Silva e alguns outros, inclusive este matuto guaporeano, de músicos consagrados como Lito Casara, Evângelo Vassilakis, Henrique, Soraya Badra (a maravilhosa cantora e violonista poliglota), Ricardo Bártolo, Abrahim, Mário Quintão, Espiridião Quintão e tantos outros, Guajará-Mirim não merece a indiferença que o seu próprio povo devota às manifestações culturais promovidas na cidade. Não foi sem razão que achei cabível lembrar na noite do meu lançamento que Nemo propheta in patria sua, pois certamente que muitos dos habitantes da cidade que se fizeram ausentes lotariam aquele ginásio se qualquer conjunto musical de quinta categoria ali se apresentasse vindo de fora. No entanto, como os jovens da orquestra do Simón Bolívar vivem ali mesmo, quase ninguém se apercebeu ainda do talento que eles têm, a não ser o abnegado professor que se dedica heroicamente a formá-los para a arte musical clássica.
Na segunda e última noite do evento, o professor Expedito, diretor da UNIR de Guajará-Mirim, proferiu uma palestra sobre Literatura digna dos melhores seminários do ramo, por sinal muito apropriada para a situação do evento. E o público de Guajará-Mirim perdeu tudo isso, preferiu a convivência estéril de barzinhos onde os homens costumam vangloriar-se de façanhas sexuais que nunca foram capazes de realizar nem mesmo no verdor dos seus anos, as mulheres embriagam-se e se deixam possuir pelo primeiro vagabundo que aparece e os mais jovens engalfinham-se em pelejas inúteis que muitas vezes resultam em tiros, facadas e mortes inglórias. Ninguém precisa ser sociólogo para concluir que a decadência da cidade de Guajará-Mirim resulta exatamente desse comportamento abúlico do seu povo...
Fonte: MATIAS MENDES
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
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