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Matias Mendes

GENERAL URANO TEIXEIRA DA MATTA BACELAR: O Mártir Esquecido



Por MATIAS MENDES

Foi celebrada na noite de terça-feira passada,  dia 27 de novembro,  às dezenove horas, na Catedral de Nossa Senhora do Seringueiro, na cidade de Guajará-Mirim, uma Missa Especial em sufrágio da alma do grande General brasileiro Urano Teixeira da Matta Bacelar, morto na capital do Haiti, no dia 07 de janeiro de 2006 por um tiro disparado pela sua própria pistola, muito provavelmente como forma de apresentar um cenário de suposto suicídio, quando na verdade o militar brasileiro que comandava as tropas de intervenção da ONU empenhadas na pacificação daquele país pode haver sido assassinado por milícias haitianas financiadas por serviços secretos estrangeiros, conforme noticiaram vários jornais pelo mundo afora, com a omissão algo estranha da imprensa brasileira. Já quase completando sete anos desse triste episódio, os Serviços  de Inteligência do Brasil, que só tiveram acesso ao local do crime muito tempo depois, ainda hoje não chegaram a uma conclusão satisfatória a respeito das verdadeiras circunstâncias da morte do respeitado General brasileiro.

O ato religioso celebrado em Guajará-Mirim pelo Bispo resignado dom Geraldo Verdier, francês naturalizado brasileiro, foi por iniciativa particular de amigos do General Bacelar que com ele conviveram e trabalharam em assuntos de segurança da Amazônia Brasileira. No entanto, foram formulados convites aos Comandantes do 6º BIS do Exército acantonado em Guajará-Mirim, do 6º Batalhão da Polícia Militar sediado na cidade e ao Corpo de Bombeiros, unidades comandadas por Oficiais Superiores. Por alguma razão desconhecida, nem um só representante dessas organizações compareceu à Missa celebrada em memória do exemplar Soldado brasileiro sacrificado no Haiti em circunstâncias nebulosas. Ninguém se fez representar por ao menos um soldado raso, um cabo, um sargento... Dom Geraldo Verdier foi bastante tolerante, ainda esperou pelos militares como se estes fossem noivas que habitualmente se atrasam para entrar na igreja.  Ninguém apareceu, ao que parece ninguém conhecia o grande brasileiro que de uma forma ou de outra foi um mártir sacrificado em prol da paz em solo estrangeiro, levando para o túmulo o seu imenso cabedal de conhecimentos militares sobre a Amazônia e a sua sólida erudição em assuntos gerais. Apenas um solitário ex-legionário se fez presente ao ato religioso, fato que fez dom Geraldo Verdier comentar ao final da cerimônia religiosa: “O senhor representou hoje, aqui, todo o Exército Brasileiro...”

Cela va sans dire que a ostensiva ausência dos militares e policiais militares na Missa celebrada à memória do General de Divisão Urano Bacelar reveste-se de um ato de inominável deselegância por parte dos que foram convidados. Não custaria nada que esses Oficiais em postos relevantes de comando na região fronteiriça houvessem recusado o convite de forma leal e franca, aduzindo as razões dessas recusas. Sem aqui pretender ensinar Ave-Maria a cardeal, para não dizer Padre Nosso a vigário, não fica bem a um Oficial de qualquer corporação faltar à palavra empenhada. Por decorrência da condição de Oficial, mormente quando em postos de comando, Oficiais nunca devem tergiversar, nunca devem mentir, nunca devem faltar aos compromissos que assumem. Um Oficial não é um político que sofisma, que ludibria, que sai pela tangente, que falta com a verdade, que escamoteia fatos e que não assume compromissos. Um Oficial é inteiramente livre para dizer sim ou não, mas não pode dizer talvez. Talvez é um advérbio proibido pelos códigos de honra militares a qualquer Comandante, não importando a fração de tropas que comande. Existe até um interessante conceito silogístico que ensina que a diferença entre uma virgem, um diplomata e um comandante consiste no fato de que, quando a virgem diz não, ela está dizendo talvez, quando ela diz talvez, está dizendo sim, e se ela disser sim é porque não é virgem. No caso do diplomata, quando ele afirma que sim, ele está dizendo talvez, quando ele diz talvez, está dizendo não, e se ele disser não é porque não é um diplomata. O comandante, no entanto, quando ele diz sim, está dizendo exatamente sim, quando ele diz não, está de fato dizendo não, e se ele disser talvez é porque não é um comandante. De tal conceito silogístico nos vem a clássica expressão não tem talvez com o exato sentido de que alguma coisa é certa ou incontestável.

Por certo que os Comandantes brasileiros que se negaram a comparecer à Missa em sufrágio da alma do General brasileiro podem alegar que o convite não  era oficial, não foi entregue em papel escrito e timbrado e que não foi feito por pessoa credenciada a fazê-lo. É verdade que o convite foi formulado verbalmente, mas com a preocupação de comparecer a cada um dos comandos citados. É verdade que só falei pessoalmente com o Comandante do Corpo de Bombeiros, meu conterrâneo guaporeano Tenente-Coronel-BM Jorge Mercado Freitas. Mas também é verdade que na Polícia Militar eu falei com o Major-PM Subcomandante do 6º Batalhão da Polícia Militar, Oficial Superior com amplas prerrogativas na sua unidade. É verdade que só me foi possível fazer contato com o Tenente-Coronel Barbosa, Comandante do 6º BIS, por telefone, mas em razão de que eu permaneci por mais de três horas em uma sala da sede do Batalhão sem conseguir ser recebido pelo Comandante, tempo que eu não gastaria nem para falar com o próprio Comandante Militar da Amazônia, ou com o Comandante da 12ª Região Militar, ou com o Comandante da 17ª Brigada de Infantaria de Selva, Oficiais Generais de Exército, de Divisão e de Brigada. Gastei todo esse tempo com o Tenente-Coronel que ao final não compareceu à Missa celebrada pela alma do seu superior hierárquico. No entanto, se eu tivesse atravessado o rio Mamoré e formulado, da mesma maneira verbal, o mesmo convite ao Comando do 3º  Distrito Naval da Bolívia e ao Comando do Batalhão do Exército Duque de Caxias, com certeza a Catedral Nossa Senhora do Seringueiro teria ficado lotada de Oficiais bolivianos de todos os postos. Como pequei neste caso por não ter um Plano B, os militares brasileiros esnobaram o ato religioso celebrado à memória de um dos mais distintos dos nossos Generais, cuja vida foi sacrificada no Haiti em prol de interesses nebulosos e cuja  memória alguns inconsequentes não querem respeitar...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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