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Matias Mendes

FRONTEIRAS: O Despertar do Planalto


A recente visita do Ministro da Defesa Nélson Jobim às regiões fronteiriças da Amazônia parece indicar que finalmente alguém com algum poder real de decisão descobriu que nós temos no Brasil uma vasta região fronteiriça que precisa ser cuidada e protegida para que não tenhamos que lamentar mais tarde pela histórica incúria de nossas autoridades em relação aos limites amazônicos do nosso País.

Com algumas décadas de atraso em relação à realidade preocupante de nossas fronteiras relegadas ao abandono, ao que parece, o Planalto agora despertou da sua letargia em relação ao processo perverso e antipatriótico que foi posto em prática há algumas décadas com o claro objetivo de esvaziar as regiões de fronteiras dos tradicionais povoadores que as habitavam. De qualquer modo, conquanto muito terreno já tenha sido perdido ao longo das décadas, antes tarde do que nunca. Embora seja melhor prevenir do que remediar, pelo menos o Planalto parece haver resolvido remediar a negligência cometida ao longo de tantos anos.

No caso específico de Rondônia, cuja maior faixa fronteiriça está situada ao longo do rio Guaporé, há muito tempo que se comenta por aqui o abandono criminoso ao qual nossa região fronteiriça foi relegada. A região guaporeana foi simplesmente submetida a um processo de esvaziamento demográfico a partir da década de oitenta do século passado, culminando no seu estado atual de pátria de ninguém, onde praticamente vivem apenas algumas manadas de búfalos, canguçus, jacarés-açu e cobras-grandes, isto sem falar no paraíso de narcotraficantes e contraventores de toda ordem em que a região se transformou por absoluta ausência do Estado.

Foi muito bom que o Ministro da Defesa tenha visto bem de perto o quadro real do abandono em que estão as nossas fronteiras, pois talvez agora ele tenha percebido que a histórica insistência do Exército em ampliar a rede de suas unidades fronteiriças no Guaporé não seja, conforme muitos burocratas e políticos pensam, nenhum capricho de generais paranóicos, nenhum desvario de estrategistas alarmistas e muito menos fantasias de veteranos lagartos de fronteira, integrantes de aguerridos grupos de vigilância sobre os quais quase ninguém sabe nada.

Quem sabe agora, depois de ver com seus próprios olhos o sacrifício ao qual as esparsas unidades do Exército acantonadas na faixa de fronteira foram submetidas ao longo de décadas, o Ministro da Defesa afinal compreenda de uma vez por todas que as recorrentes solicitações dos Comandantes militares em relação ao aumento de efetivos e de recursos financeiros para as Forças Armadas não sejam nenhuma pretensão de mordomias, mas sim necessidades prementes da pátria, sob pena de perdermos domínio em partes do nosso território nacional, conforme já acontece nas fronteiras com o Peru e a Colômbia, região onde grupos estrangeiros criminosos assaltam impunemente as nossas riquezas naturais e ainda enxotam e humilham os poucos patrícios que se arriscam a permanecer nessas regiões perigosamente isoladas.

Foi muito bom que o próprio Ministro da Defesa tenha visto de perto, conquanto de forma perfunctória e protegido por confortável aparato de segurança, qual é de fato a realidade do homem das fronteiras da Amazônia, quem sabe assim o Ministro compreenda a imbecilidade antipatriótica de leis urbanas idiotas como a lei do desarmamento e outras tantas bobagens legais que inviabilizam a vida dos brasileiros nas regiões recônditas de nossas fronteiras abandonadas, não à própria sorte, e sim ao próprio azar.

Quem sabe agora, depois de haver visto mais de perto a faixa do território brasileiro absolutamente exposta às incursões dos grupos armados de meliantes colombianos e peruanos, o Ministro da Defesa tenha de fato a sua consciência de cidadão brasileiro despertada para o fato de que as nossas regiões fronteiriças precisam ser urgentemente ocupadas pela presença efetiva do Estado, sob pena de termos uma parte do nosso território nacional amputada pela ocupação ostensiva de grupos armados de mercenários e meliantes estrangeiros. Talvez agora, após haver visto de perto um pouco da realidade da faixa fronteiriça do Guaporé, o Ministro da Defesa entenda que a canalização sistemática de recursos financeiros destinados à Segurança para os grandes aglomerados urbanos como o Rio de Janeiro e São Paulo representa apenas um recurso inócuo de combater os efeitos sem atentar para as causas.

Quem sabe em algum momento da sua vida de estudioso o Ministro da Defesa tenha aprendido algo a respeito de uma teoria fundamental da arte da estratégia militar que ensina que se destruirmos as cidades e deixarmos os campos dos seus entornos intactos, essas cidades fatalmente voltarão a florescer; no entanto, se destruirmos os campos dos entornos das cidades, deixando-as intocadas, essas cidades fatalmente fenecerão por si mesmas. Mutatis mutandis, no caso específico do combate ao narcotráfico e ao contrabando de armas, aniquilar os nichos urbanos do crime organizado sem dar a devida atenção para as faixas abandonadas das nossas fronteiras é apenas alimentar o círculo vicioso do crime que se renova sempre nos centros urbanos como se fênix fosse, pois as fronteiras desertas representam exatamente os campos do entorno da criminalidade urbana.

Fonte: MATIAS MENDES
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.

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