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Gente de Opinião

Matias Mendes

DEFESA: Mentiras e Verdades


Por conta dos artigos que assinei comentando o livro Enganos da Nossa História, de autoria do confrade Antonio Cândido da Silva, fui interpelado incisivamente por um observador da imprensa local, nos seguintes termos:

 --“Então, professor, quer dizer que o Cândido mentiu?”

 Minha resposta a essa pergunta foi taxativa:
 
--“Não, absolutamente não; não acredito em tal possibilidade e em momento algum eu sequer insinuei qualquer coisa que pudesse indicar a mais tênue intenção em tal sentido.”
 
De fato, ao longo de todos os artigos que escrevi e assinei, não houve nenhuma insinuação a respeito de qualquer mentira. Eu afirmei, sim, por diversas vezes, que o Autor havia incorrido em enganos, em equívocos, em tropeços de interpretação, mas nunca afirmei que ele estivesse mentindo de forma deliberada. E não afirmei nada em tal sentido porque simplesmente não acredito em tal possibilidade. Acredito, sim, que o Autor se tenha enganado algumas vezes, que se tenha equivocado em outras, que tenha cochilado nas pesquisas, que tenha até se perdido um pouco no emaranhado da farta bibliografia que compulsou, mas não que tenha tido qualquer intenção de iludir deliberadamente seus leitores, até porque tal atitude não se coaduna com a natureza de nenhum escritor de verdade. E Antonio Cândido da Silva é um escritor de verdade, já provou isto muitas vezes antes, ainda que a sua especialização não seja no terreno traiçoeiro da História.
 
No caso em tela, não há sequer a possibilidade de aventar uma mentira técnica, pois os escritores canalizam tal gênero fantasioso para a vertente da ficção, mas nunca em se tratando de obras de cunho histórico, ensaístico, filosófico ou teses de quaisquer outras naturezas.
 
Mas, afinal, o que vem a ser uma mentira técnica?
 
Ora, mentira técnica, conforme já discorri em longo artigo a respeito do assunto, se constitui num recurso largamente empregado por algumas categorias profissionais, notadamente advogados, diplomatas, policiais, parlamentares, agentes de serviços de informações e quejandos, para divulgar falsas versões de fatos que sejam de interesse de seus respectivos trabalhos. As mentiras técnicas são correntes nos tribunais, nas delegacias de polícia, nas redes de espionagem e contra-espionagem, nas vetustas unidades diplomáticas, nos parlamentos de todos os níveis e de qualquer lugar do mundo, mas não entre escritores e muito menos ainda entre jornalistas. Escritor ou jornalista que for apanhado em flagrante impingindo uma mentira, ainda que seja de ordem técnica, estará simplesmente acabado. Ao que parece, a palavra escrita repele e abomina a mentira de qualquer ordem, tanto é verdade que mesmo as mentiras técnicas, urdidas por profissionais dos ramos em que são permitidas, anos depois, são simplesmente trituradas pelos investigadores da História. Portanto, no caso em epígrafe, não há que se falar em mentiras, mas sim em equívocos, em enganos, em barrigadas, em cochilos e outras coisas do gênero, inclusive julgamento apressado. E a pressa é inimiga da perfeição, daí porque Antonio Cândido caiu na armadilha do seu próprio revisionismo.
 
Agora, fato bem cristalino, mentir ele não mentiu, pois certamente acreditava piamente na veracidade dos seus argumentos. Enganou-se, não há negar. Equivocou-se, sem dúvida. Mas não teve a intenção deliberada de enganar ninguém, até porque o seu nível diferenciado de inteligência e de caráter nunca lhe permitiria cometer tal afronta contra a inteligência do povo de Rondônia... 

Fonte: MATIAS MENDES
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
 

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